Períodos de convivência entre plantas daninhas e a cultura da soja

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Alexandre Magno Brighenti - Embrapa Gado de Leite

Elemar Voll - Embrapa Soja

Dionisio Luiz Pisa Gazziero - Embrapa Soja

Fernando Storniolo Adegas - Embrapa Soja

 

A competição provocada pelas plantas daninhas em uma lavoura de soja pode resultar em perdas significativas, reduzindo em mais de 90% a produção da cultura. Também pode dificultar a operação de colheita, prejudicando a qualidade do grão ou da semente.

As plantas daninhas competem principalmente por recursos básicos ao desenvolvimento da soja, como a água, a luz e os nutrientes. No entanto, a necessidade por esses recursos varia dentro do ciclo da cultura, razão pelo qual torna-se importante conhecer as fases onde a interferência das plantas daninhas pode ser mais prejudicial para a soja.

Trabalhos nessa área são denominados de estudos de matocompetição ou de períodos de interferência. Basicamente os experimentos são realizados diretamente no campo, com os tratamentos sendo compostos por intervalos de tempo onde a cultura é deixada “no limpo”, isto é, sem a presença de plantas daninhas, complementado por períodos de convivência entre a cultura e as infestantes.

Avalia-se principalmente a produtividade da cultura sob os intervalos de tempo estudados, resultando nos períodos mais críticos de competição. O período em que as plantas daninhas convivem por um determinado tempo inicial do ciclo da cultura, sem que ocorram prejuízos à espécie cultivada, denomina-se período anterior à interferência (PAI). Também existe o período chamado período total de prevenção à interferência (PTPI), que é aquele em que, após a emergência, a cultura deve se desenvolver livre da presença de plantas daninhas, a fim de que sua produtividade não seja alterada significativamente. A comunidade de espécies daninhas que se instalar após esse período não mais terá condições de interferir, de maneira significativa, sobre a produtividade da planta cultivada. Após esse período, a cultura apresenta capacidade de, por si só, controlar as plantas daninhas que emergirem. Entre o PAI e o PTPI, ocorre um terceiro período chamado período crítico de prevenção à interferência (PCPI). Esse período corresponde à fase em que as práticas de controle devem ser efetivamente adotadas.

No Brasil, os principais trabalhos de matocompetição com a soja foram realizados entre as décadas de 60 e 80, cujos resultados obtidos permitiram generalizar como o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) o intervalo de 20 a 50 dias após a emergência da cultura. Os experimentos de matocompetição devem retratar situações próximas de lavouras comerciais, com atenção especial para os diversos fatores que estão presentes no processo de interferência, como a cultivar utilizada, o espaçamento e a densidade de semeadura.

Em relação às plantas daninhas destaca o tipo de espécies infestantes, a densidade e a distribuição das mesmas na área. Podemos acrescentar ainda os fatores edafoclimáticos, como o tipo de solo e as suas propriedades físico-químicas, a taxa pluviométrica e a temperatura, além do sistema de produção adotado, com as diferentes tecnologias utilizadas.

Como podemos observar, os fatores relacionados à matocompetição são dinâmicos e isso não tem sido diferente na cultura da soja. Estudos mais recentes mostram que não tem havido muita mudança no Período Total de Prevenção da Interferência, mas apontam em uma diminuição do Período Anterior a Interferência, para algo próximo dos quatorze dias após a emergência, o que alteraria o Período Crítico de Prevenção da Interferência, tendo o agricultor a necessidade de realizar o controle das infestantes mais cedo do que anteriormente era o recomendado.