Soja
Mosca-branca
Autores
Adeney de Freitas Bueno - Embrapa Soja
Clara Beatriz Hoffmann Campo - Embrapa Soja
Daniel Ricardo Sosa Gomez - Embrapa Soja
A mosca-branca, Bemisia tabaci, apesar do nome comum de mosca, trata-se de um inseto sugador comum em diversas culturas. Em plantas de soja, a mosca-branca é transmissora do vírus da “necrose-da-haste”, do grupo dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte (Figura 1). No entanto, já existe fonte de resistência varietal para esse vírus. Entretanto, mesmo eliminando-se o problema da virose, ainda persiste a preocupação com o inseto como praga que se alimenta dos nutrientes da planta, além dos danos indiretos que também podem ser observados. Ao se alimentar continuamente, a mosca-branca excreta nas folhas uma substância que favorece a formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp. sobre as folhas. A fumagina apresenta coloração preta que dificulta a captação dos raios solares, reduzindo a taxa fotossintética das folhas e provocando a queima da planta pela radiação solar (Figura 2). Sendo assim, é de suma importância o reconhecimento da praga e adoção do manejo do inseto.
Foto: Adeney de Freitas Bueno.
| Foto: Adeney de Freitas Bueno. | |
Figura 1. Planta de soja infectada pelo vírus da necrose-da-haste | Figura 2. Planta de soja com a presença da fumagina |
RECONHECIMENTO DA PRAGA
O ciclo biológico da mosca-branca é dividido na fase de ovo, um primeiro ínstar da ninfa, no qual o inseto se locomove, por alguns minutos, até localizar o local mais adequado na planta para então se fixar. Posteriormente, as ninfas passam por três ínstares imóveis, sendo o último ínstar incorretamente denominado de “pupa” ou “pseudo-pupa” e, finalmente, os adultos (machos e fêmeas). Os adultos medem cerca de 1,0 mm de comprimento, sendo a fêmea ligeiramente maior que o macho. Os insetos nesse estágio têm o dorso amarelo-pálido possuindo dois pares de asas membranosas de cor branca (Figuras 3A e 3B). A fêmea tem a capacidade de postura que vai de 100 a 300 ovos, durante todo seu ciclo de vida, que é variável e dependente da alimentação e temperatura. Os ovos (Figura 4) medem aproximadamente 0,2 mm e são colocados na face inferior das folhas jovens. Nas primeiras horas após a postura, os ovos possuem um formado alongado com um pedúnculo de cor branca amarelada, que se torna marrom escura no final. A fase de ovo dura cerca de 5 a 7 dias quando ocorre o início da eclosão das ninfas (Figura 5). Entretanto, esse tempo em geral, pode variar em função das condições climáticas e do hospedeiro.
Foto: Adeney de Freitas Bueno.
| Foto: Adeney de Freitas Bueno. | |
Figura 3A. Adultos de mosca-branca na soja | Figura 3B. Adultos de mosca-branca na soja | |
Figura 4. Ovos de mosca-branca na soja | Figura 5. Ninfas de mosca-branca na soja |
MANEJO DA MOSCA BRANCA
Enquanto não houver cultivares de soja resistente ou tolerantes a esse inseto, o sucesso do manejo da mosca-branca na cultura da soja dependerá do reconhecimento da praga associado à adoção completa do manejo integrado de pragas (MIP-soja), o que preconiza a redução do uso exagerado de inseticidas, principalmente os de largo espectro de ação (não seletivos). Essa atitude é importante porque a mosca-branca tem vários inimigos naturais e os produtos de largo espectro de ação, como os piretróides, por exemplo, eliminam esses agentes de controle biológico, favorecendo uma maior infestação da praga.
Entre as melhores opções de inseticidas disponíveis atualmente no mercado para o controle dessa praga estão os produtos do grupo dos reguladores de crescimento específicos para mosca-branca. Infelizmente, uma única aplicação desses produtos pode custar entre uma e duas sacas de soja por ha. Sendo assim, a aplicação desses produtos deve ocorrer apenas, quando o prejuízo causado pelo inseto for superior ou igual ao custo de aplicação. Esse “cálculo” é tecnicamente chamado de nível de ação ou nível de controle. Aplicações de inseticidas com a população de insetos abaixo do nível de controle irão representar um prejuízo para os produtores de soja. Entretanto, o desconhecimento, até o momento, desse nível de ação para a mosca-branca na cultura da soja é justamente a grande dificuldade para a recomendação de seu manejo na hora certa. Aliado a essa dificuldade, atualmente os inseticidas disponíveis para o controle da mosca-branca diferem pouco quanto ao modo de ação. Assim, o uso abusivo de inseticidas pode selecionar populações da mosca-branca resistentes a esses mecanismos de ação. Isso já tem sido demonstrado em alguns trabalhos publicados na literatura científica.
Em ensaios realizados no município de Paraúna, GO, a mosca-branca não afetou economicamente a produção da soja com densidades, iguais ou menores que 15 ninfas por folíolo. Nos próximos anos, os estudos deverão estar concentrados em infestações superiores a 15 ninfas/folíolo visando determinar precisamente quando as reduções da produtividade iniciam.
Em áreas de cultivo de soja, onde as condições climáticas e de manejo são muito favoráveis ao desenvolvimento desse inseto, aliado a um histórico de ocorrência dessa praga, o uso de cultivares de soja resistente ou no mínimo mais tolerante ao ataque da praga torna-se uma importante opção ao produtor para reduzir sua dependência do inseticida químico. Preocupada com isso, a Embrapa Soja tem buscado desenvolver cultivares que tenham resistência ou tolerância a esse inseto. Entre os materiais avaliados até o momento, o mais tolerante foi a cultivar “Barreiras”, que é indicada para semeadura em regiões como o sudoeste da Bahia, onde a mosca-branca tem sido um grande problema nos últimos anos. Outras fontes de resistência tem sido buscadas.