Conceitos e Benefícios da Rotação de Cultura

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

 

Conceitualmente a rotação de culturas (Figura 1) consiste em alternar espécies vegetais no decorrer do tempo, numa mesma área agrícola, numa sequência planejada de cultivo de diferentes culturas, preferencialmente com sistemas de raízes diferentes entre si, como por exemplo, gramíneas e leguminosas, no inverno ou no verão, onde cada espécie desenvolve um efeito residual positivo para o solo e para o meio ambiente ou para a cultura sucessora. Nesse contexto, em muitas regiões do país, a soja é a cultura principal, sendo a espécie escolhida com o propósito comercial e econômico, tendo a função de geração de renda. No entanto, para a diminuição da vulnerabilidade do monocultivo é fundamental a presença das outras espécies, que tornam, ao longo do tempo, o sistema mais produtivo e ambientalmente autossustentável.  Estas espécies, conhecidas como adubos verdes ou plantas de cobertura, têm o seu desenvolvimento dependente das condições de solo e clima e das possíveis épocas de cultivo em cada região. Em todas a regiões, no entanto, independente das espécies agrícolas comerciais cultivadas, elas são importantes para a produção de palhada e resíduos essenciais para o controle de erosão, elevação dos níveis de carbono no solo, diminuição de ervas daninhas, fertilização dos solos e ciclagem de nutrientes. Geralmente produzem grandes quantidades de biomassa podendo ser cultivadas em condição solteira ou em consórcio com culturas, propiciando excelentes condições para a manutenção de altas produtividades das culturas comerciais ou para recuperação de áreas degradadas. A presença dessas espécies dentro de um sistema agrícola de rotação de culturas depende das condições ambientais de cada região, sendo que muitas são adaptadas a regiões mais frias enquanto que outras, pelo contrário, preferem climas mais quentes ou amenos. Dentre as muitas espécies podem ser citadas: aveia (Figura 2 e 2b), milheto (Figura 3), várias espécies de pastagens (figura 4), tremoço (Figura 5), girassol (Figura 6), guandu, nabo forrageiro, mucuna preta, entre outras, cultivadas nas mais diferentes épocas e regiões do país. O tremoço, por exemplo, é uma leguminosa que tem a importante capacidade de fixação de nitrogênio do ar. A aveia, uma gramínea, não tem tal capacidade, porém quando consorciada com ervilhaca, outra leguminosa, deixa excelentes condições de solo para as plantas subsequentes. Entre os benefícios trazidos por essas e por outras plantas de cobertura, destacam-se a contribuição para aumento do carbono nos solos e a diminuição de perdas por lixiviação de nutrientes solúveis na forma de nitrato. Para o sucesso desse processo é fundamental o uso da prática do plantio direto (Figura 7), com o objetivo de produção de palha e resíduos de plantas no complexo da rotação. O plantio direto ou semeadura direta é uma prática conservacionista, consistindo na semeadura direta sob a palhada da cultura anterior ou de plantas cultivadas para esse fim, produzindo entre outros benefícios, a cobertura do solo com plantas (cobertura viva) ou com resíduos (cobertura morta), atuando como o principal fator de proteção o impacto das gotas de chuva, no comportamento térmico e hídrico do solo e, entre outros benefícios, melhorando as condições de controle de ervas daninhas (Figura 8).Pelo exposto acima, na escolha de espécies para a composição de sistemas de rotação, deve-se ter em mente que, em função da região do país, elas devem, de preferência, possuir os atributos de adaptabilidade às condições locais, ocupando os períodos do ano entre os cultivos comerciais, resistência a pragas e doenças, sistemas de raízes profundos, para o rompimento de camadas compactadas, boa produção de massa verde e massa seca, para a boa cobertura dos solos, não ter o comportamento de planta invasora, além da característica de múltiplos usos, como para forragem, grãos e outros. Cabe lembrar, ainda, que no cenário atual, de mudanças climáticas globais e necessidade de preservação do meio ambiente, os sistemas de rotação de culturas tornam-se ainda mais importantes protegendo os solo contra adversidades climáticas. Além disso, modernizam a agricultura aumentando o rendimento e a estabilidade das culturas ajudando a produzir alimentos e outros produtos agrícolas em quantidades elevadas, sem alterações ou impactos ambientais significativos.

Ensaio de rotação de culturas
Figura 1 - Ensaio de rotação de Cultura

 

 

Aveia
Figura 2 - Aveia


Cultura de Aveia
Figura 2b - Cultura da Aveia - Vitrine Tecnológica da Embrapa Soja


  Milheto
Figura 3 - Milheto


  Brachiaria brizantha
Figura 4 - Brachiaria brizantha
 

 Tremoço

Figura 5 - Tremoço

 

Girassol
Figura 6 - Girassol

 

A Cultura do Milho em Plantio Direto
Figura 7 - A Cultura do Milho em Plantio Direto


 

Colheita da soja, sem plantas daninhas, cultivada em área após aveia
Figura 8 - Colheita da soja, sem plantas daninhas, cultivada em área após aveia

*Fotos: Sérgio L. Gonçalves