Trigo
Outros insetos
Autores
José Roberto Salvadori
Paulo Roberto Valle da Silva Pereira - Embrapa Florestas
BROCAS
Brocas são formas jovens (larvas) de coleópteros e de lepidópteros que, ao se alimentarem de plantas, fazem galerias e penetram em diferentes órgãos aéreos ou subterrâneos. Quando o ataque ocorre na base das plantas, o sintoma típico é a morte das folhas centrais (coração morto). Espécies que atacam o colmo, provocam o secamento da espiga (espiga branca).
A broca-da-coroa (Listronotus bonariensis - Coleoptera, Curculionidae) é uma espécie sulamericana, que além de trigo, ocorre em diversas outras gramíneas como aveia, azevém, cevada e milho, no sul do País. Apresenta desenvolvimento holometabólico, sendo o adulto um pequeno besouro (2 a 3 mm de comprimento) que, devido à adesão de partículas de terra ao seu corpo, adquire a tonalidade do solo, onde permanece durante o dia. Os ovos, quase pretos, alongados e cilíndricos, geralmente são colocados em duplas, na parte inferior do colmo, sob a epiderme da bainha foliar. As larvas penetram na região da coroa das plantas, onde se desenvolvem até atingir cerca de 3 mm de comprimento. São ápodas, com o corpo de coloração esbranquiçada, semelhante ao tecido vegetal, e cabeça castanho-claro. Atacam gemas e afilhos, enfraquecendo ou mesmo levando à morte afilhos e plantas pequenas.
A larva-alfinete (Diabrotica speciosa - Coleoptera, Chrysomelidae) pode atacar diversas espécies vegetais, mas é em milho que atinge maior importância econômica. Na fase adulta, a espécie é conhecida como vaquinha verde-amarela ou patriota, praga desfolhadora em diversas culturas. O desenvolvimento da espécie é holometabólico, sendo a postura realizada no solo, junto às plantas hospedeiras. A larva tem coloração geral branco-leitosa, com cabeça e placa anal pretas; apresenta três pares de pernas e corpo mais afilado na extremidade anterior; atinge em torno de 1,0 cm de comprimento; ataca órgãos subterrâneos de trigo, destruindo o sistema radicular e broquendo as plantas na região da coroa.
L. bonariensis e D. speciosa , em condições de laboratório, em temperatura ambiental em torno de 25º C, levam pouco mais de 5 semanas desde a fase de ovo até a fase adulta, com período larval de aproximadamente 3 semanas.
A broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus - Lepidoptera, Pyralidae) é uma espécie polífaga, que além de trigo, pode atacar diversas culturas (milho, sorgo, arroz, feijão, soja etc.). Apresenta desenvolvimento holometabólico (ovo-larva-pupa-adulto). Tem ampla distribuição geográfica e a ocorrência de altas infestações está associada a estiagem, temperaturas altas e solos arenosos. O plantio direto desfavorece a broca-do-colo. O adulto é uma pequena mariposa com aproximadamente 1,5 cm de comprimento e coloração pardo-acinzentada. A postura é feita nas folhas, junto à base de plantas, no solo ou em restos culturais. Inicialmente, as larvinhas raspam tecidos vegetais, depois penetram na região do colo e vão broqueando uma galeria ascendente no colmo. Junto ao orifício de entrada, constroem abrigo com partículas de solo, detritos e fios de seda, que ficam aderidos à planta. A larva é muito ágil e apresenta coloração marrom-esverdeada, com faixas claras e escuras, que lhe conferem aspecto anelado. Atinge de 1,5 a 2,0 cm de comprimento e pode durar de duas a quatro semanas, dependendo da temperatura. Em trigo, a broca-do-colo pode ocorrer em nível de praga em plantios não irrigados nas regiões tritícolas de temperatura mais elevadas e com invernos pouco rigorosos, desde a emergência até o afilhamento das plantas. Danos mais intensos acontecem quando as condições climáticas são mais favoráveis ao desenvolvimento do inseto que às plantas.
A broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis - Lepidoptera, Pyralidae) pode ser encontrada broqueando o colmo, em plantas isoladas, provocando o secamento de espigas, que ficam brancas e se desprendem facilmente da planta quando puxadas.
PERCEVEJOS
Os percevejos (Hemiptera) são insetos sugadores, de desenvolvimento paurometabólico (ovo-ninfa-adulto). As espécies mais comumente encontradas em trigo, na região Sul, são o percevejo-verde (Nezara viridula - Pentatomidae) e o percevejo-raspador (Collaria scenica - Miridae). Em menores latitudes (do norte do Paraná ao Cerrado), ocorrem os pentatomídeos Thyanta perditor (na fase reprodutiva da cultura) e Dichelops spp., bem como o mirídeo C. oleosa.
O percevejo-verde é uma espécie polífaga e constitui importante praga da cultura da soja. O adulto apresenta diapausa facultativa no inverno, quando se refugia na vegetação natural. Passado o período mais frio, migra na busca de alimento em plantas hospedeiras, como trigo, colza, linho e leguminosas. Em trigo, a inserção dos estiletes bucais na espiga em formação, quando as plantas estão em fase de emborrachamento, causa a morte da espiga ou de parte dela (espiguetas). As espigas que emergem apresentam-se deformadas, secas e brancas, com sintomas semelhantes ao dano por geadas.
Os percevejos-raspadores, também é chamados de percevejos-do-capim, têm sido constatados em trigo e em diversas outras gramíneas, cultivadas ou não, como aveia, cevada, triticale, milho, arroz, papuã, festuca, quicuio, azevém, entre outras. Atacam folhas, colmos e espigas e, ao introduzirem os estiletes bucais nos tecidos vegetais para sugar o conteúdo celular, provocam morte de células e, em conseqüência, o aparecimento de manchas esbranquiçadas e o secamento de folhas. No Sul, a população cresce a partir do mês de setembro, quando, normalmente, o trigo está emborrachado ou em espigamento. Altas populações na fase de enchimento dos grãos, como 10 percevejos/planta, podem comprometer a folha bandeira e provocar redução no rendimento de grãos.
O percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus e D. melacanthus) tem ocorrido ultimamente, logo após a emergência da cultura, danificando plântulas, especialmente no oeste e no norte do Paraná, onde constitui praga de grande importância econômica.
FORMIGAS CORTADEIRAS
Saúvas (Atta spp.) e quenquéns (Acromyrmex spp.) (Hymenoptera, Formicidae) são insetos que causam danos a cultura, principalmente no início do desenvolvimento das plantas, em pequenas áreas da lavoura, cortando folhas e colmos. O material coletado não é ingerido e sim usado como substrato para o cultivo do fungo, verdadeiro alimento dessas formigas. Como pragas gerais, que atacam um grande e variado espectro de plantas, as formigas cortadeiras constituem uma das principais pragas da agricultura brasileira.
OUTRAS LARVAS-DE-SOLO
Além de corós, o trigo pode ser atacado em seus órgãos subterrâneos por diversas outras espécies de larvas de Coleoptera que vivem no solo. As mais comuns são a larva-arame (Conoderus scalaris - Elateridae), a larva-alfinete (Diabrotica speciosa - Chrysomelidae) e o gorgulho-do-solo (Pantomorus sp. - Curculionidae).
A larva-arame mais comum em trigo tem o corpo rígido, ligeiramente achatado e de cor amarelada; os três pares de pernas, a cabeça e a extremidade anal são marrons; é bastante ágil e atinge de 2,0 a 2,5 cm de comprimento. O gorgulho-do-solo é uma larva tipicamente curculioniforme, ápoda, com o corpo branco leitoso; a cabeça é encaixada no tórax e as peças bucais são pretas; em seu tamanho máximo, mede cerca de 1,5 cm de comprimento.
TRIPES
Os tripes (Thysanoptera, Thripidae) são insetos diminutos, com menos de 1 mm de comprimento, que podem ser encontrados alimentando-se sobre a planta de trigo, porém causando pouco ou nenhum dano. Ninfas e adultos raspam e rompem os tecidos vegetais para, então, sugarem os líquidos extravasados. Localizam-se e atacam especialmente na base do limbo foliar e das aristas, provocando lesões de aspecto branco-prateado e manchas pretas, que são as fezes dos insetos.
BESOUROS FILÓFAGOS
Diversas espécies de insetos da ordem Coleoptera alimentam-se das folhas de trigo, como a vaquinha-verde-amarela ou patriota (Diabrotica speciosa - Chrysomelidae) e o torrãozinho (Aracanthus mourei - Curculionidae). A vaquinha-verde-amarela é de distribuição geográfica ampla, mas, em geral, não causa prejuízos. Ocorre com maior intensidade desde a emergência até o alongamento das plantas, fases em que toleram desfolhamentos severos. O torrãozinho é menos freqüente, sendo mais comum em leguminosas de estação quente (feijão, soja etc.). O besouro mede cerca de 2-3 mm de comprimento e quando não está se alimentando, esconde-se no solo, junto ao colo das plantas, ficando imóvel quando tocado; devido à adesão de partículas de terra ao seu corpo, adquire a cor do solo, o que dificulta sua visualização; sem provocar danos consideráveis, alimenta-se principalmente à noite, conferindo às folhas aspecto típico pelo fato de comer as bordas.
Informações Complementares
Pragas-de-solo em culturas graníferas
As pragas-de-solo compreendem pragas subterrâneas típicas e pragas de superfície intimamente associadas ao solo e dele dependentes. São insetos e outros pequenos animais que se alimentam de órgãos subterrâneos de plantas, havendo casos em que órgãos aéreos também são consumidos.