Triticale
Corós
Autores
Paulo Roberto Valle da Silva Pereira - Embrapa Florestas
José Roberto Salvadori
Os corós (Coleoptera, Melolonthidae) são larvas de solo que apresentam o corpo em forma de C , de cor esbranquiçada, e a cabeça e os três pares de pernas mais escuros. São espécies nativas, cuja importância econômica cresceu a partir dos anos 80. A espécie Diloboderus abderus é citada como praga de trigo desde a década de 1950, enquanto Phyllophaga triticophaga foi registrada mais recentemente (1998).
Descrição e biologia
As espécies apresentam desenvolvimento holometabólico (ovo, larva, pupa e adulto) e são facilmente reconhecidas e diferenciadas. Adultos (besouros) diferem no tamanho e na cor. As larvas (corós) diferem no tamanho e pelo mapa de pelos e espinhos do ráster (região ventral do último segmento abdominal). Além disso, a cabeça do coró-das-pastagens é de coloração marrom-avermelhada, mais escura do que a do coró-do-trigo, que é marrom-amarelada.
Os adultos de D.abderus têm coloração quase preta, medindo em torno de 1,3 cm de largura e 2,5 cm de comprimento. Os machos não voam e apresentam dois apêndices, um cefálico, na forma de chifre, e outro torácico, bifurcado e mais curto. O ciclo da espécie é anual: adultos podem ser encontrados de novembro a abril e posturas, em janeiro e fevereiro. Os ovos duram entre uma e duas semanas, após o que eclodem as larvas, que passam por três instares até empuparem, a partir de outubro. O número médio de ovos por fêmea é relativamente baixo, ficando em torno de 14. A fase larval dura em torno de sete-oito meses. A profundidade das larvas no solo é bastante variável, porém elas se concentram entre 10 e 20 cm. A larva atinge até 4,0-5,0 cm de comprimento por 1,1 cm de largura. As fêmeas preferem locais com abundância de palha para oviposição, pois a utilizam no preparo do ninho para oviposição. A palha também serve de alimento para as larvas pequenas. A larva grande (2 e 3º instares) é praga, vive numa câmara na base de uma galeria vertical, a partir da qual ataca as plantas.
Fotos: Paulo Pereira
Figura 1. Coró-das-pastagens, A) Adulto; B) Larva.
Os adultos de P. triticophaga são de coloração marrom avermelhada brilhante, com pelos dourados. Medem cerca de 1,8 cm de comprimento e 0,8 cm de largura. Esta espécie apresenta ciclo bianual. A cada dois anos, especialmente no mês de outubro, adultos deixam o solo e vêm à superfície para acasalamento, dispersão e migração. Revoadas noturnas podem ocorrer até meados de novembro. Os ovos são encontrados no solo de novembro a dezembro. A fase larval ocorre desde o final do primeiro ano, prolonga-se durante todo o ano seguinte e vai até janeiro-fevereiro do terceiro ano. A larva, cuja atividade alimentar cessa na primavera do segundo ano, apresenta três instares (atinge 3,0-4,0 cm de comprimento por 0,8 cm de largura), não constrói galerias permanentes no solo e vive muito próximo à superfície deste (primeiros 10 cm de profundidade). As pupas são encontradas no solo nos meses de janeiro a abril e a partir de março se transformam em adultos, o quais permanecem no solo até a próxima primavera.
Fotos: Paulo Pereira
Figura 2. Coró-do-trigo, A) Adulto; B) larva.
Ocorrência
Corós constituem problema expressivo em cereais de inverno, no extremo sul do País. As espécies que ocorrem são polífagas, podendo atacar diversas espécies de plantas, cultivadas ou não, e o não revolvimento do solo para plantio das culturas favorece a sua sobrevivência. A ocorrência na cultura do triticale não está generalizada em todas as regiões produtoras do Brasil. Por outro lado, em uma mesma área, os ataques iniciam em manchas, podendo evoluir para áreas maiores. As populações flutuam naturalmente e o fato de uma área ter corós num ano não significa que os terá em anos seguintes.
O coró-das-pastagens tem ocorrido anualmente e de forma mais generalizada, principalmente no sistema plantio direto, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O coró-do-trigo tem sido registrado, em anos alternados e de forma mais localizada, em todo o norte do Rio Grande do Sul, tanto em sistemas conservacionistas como em sistemas convencionais de preparo do solo e de semeadura. O período mais crítico de ocorrência de corós para as culturas vai de maio a outubro, dependendo do ano, podendo, todavia, ser maior.
Danos
O potencial de dano é maior em cereais de inverno, cujo ciclo de desenvolvimento coincide com esse período, embora também possam danificar culturas de verão em final de ciclo (soja) ou semeadas precocemente (milho).
Os danos de corós em cereais de inverno são potencialmente grandes, tanto no caso do coró-das-pastagens como do coró-do-trigo, uma vez que o triticale é plantado na época em que as larvas apresentam sua maior capacidade de consumo. Em geral, os maiores danos ocorrem devido à diminuição da população de plantas nas fases de emergência e de afilhamento. Após essas fases, normalmente, as plantas atacadas não morrem, porém pode haver morte de afilhos, redução no crescimento e diminuição na capacidade de produção. Os danos são causados somente pelas larvas, especialmente as de 3º instar, que comem sementes, raízes e a parte aérea de plântulas que puxam para dentro do solo, após consumirem o sistema radicular.