Uva de Mesa
Custos e rentabilidade
Autores
Rebert Coelho Correia - Embrapa Semiárido
José Lincoln Pinheiro Araújo - Embrapa Semiárido
A exploração racional de um vinhedo depende de uma série de fatores que afetam o seu desempenho produtivo e a sua viabilidade econômica, tais como, cultivar, espaçamento, clima, solo, grau de incidência de pragas e doenças, rendimento do cultivo, preços dos insumos, preço do produto, conhecimento, atendimento e manutenção do mercado consumidor, seja ele interno e externo.
Custos de instalação e manutenção
O cultivo de uva de mesa compreende unidades produtivas empresariais, de pequeno, médio e grande porte, que direcionam suas produções para os mercados interno e externo. O sistema típico de condução dos vinhedos é a latada, utilizando cultivares com e sem sementes. Por isso, a indicação de custos que segue considera este sistema de condução.Para fins de demonstração, foi considerada, como unidade de análise dos custos, a exploração de um hectare de uva sem sementes. Porém, a unidade produtiva deve estar estruturada em módulos de 4 ha, vez que este leiaute permite redução nos custos de implantação da latada.
No primeiro ano, os gastos com a implantação do vinhedo (plantio e latada) correspondem a 35,0% dos custos totais. O segmento da confecção de latada tem na compra do aramado o gasto mais expressivo, seguido do grupo dos tratos culturais e fitossanitários, compreendendo as pulverizações e a compra de fungicidas. Nesse mesmo ano, devem ser incluídos os custos com embalagem e armazenamento, destacando-se como itens bastante onerosos.
No segundo ano, os tratos culturais e fitossanitários correspondem a 54,6% dos custos. O gasto mais representativo entre os insumos é com fertilizantes e defensivos agrícolas, e, entre os serviços, com a descompactação e raleio dos cachos. Com relação à etapa de colheita e beneficiamento, no ano 2, ela responde por 32,7% dos gastos totais.
No terceiro ano, quando a produção torna-se plena, com produtividade média em torno de 25 t.ha-1, 36,2% do total dos gastos decorrem dos tratos culturais e fitossanitários, enquanto na etapa de colheita e beneficiamento este percentual é de 26,0. A contribuição do item colheita e beneficiamento para os custos totais está diretamente associada à quantidade de caixas e de seus complementos.
Rentabilidade
De acordo com estudos realizados pela Embrapa Semiárido, sobre caracterização dos sistemas típicos de produção de uvas de mesa sem sementes no Submédio do Vale do São Francisco, a produtividade modal de um vinhedo em produção estável, situação que ocorre a partir do terceiro ano e se prolonga até o vigésimo, é de 25 t.ha-1.ano-1. Considerando o volume exportado e valor, estima-se que o valor médio da uva neste Polo, em 2010, foi de R$ 2,50/kg, pode-se considerar que o valor bruto médio da produção anual é da ordem de R$ 62.500,00.Foi adicionado um custo total dos serviços operacionais, um percentual de 5%, que equivale à administração de um ano em plena produção, correspondendo a R$ 600,00. Com a incorporação deste item, o custo total aproximado de manutenção (3º ano) de um hectare de uva de mesa sem sementes, nesta região, fica ao redor de R$ 45.796,00.Considerando o valor bruto médio da produção da região (receita bruta total) e os custos totais de manutenção em um ano de plena produção, constata-se que a exploração da uva de mesa nessa região apresenta resultados economicamente satisfatórios. A Relação Benefício/Custo é de 0,34%, indicando a rentabilidade positiva da atividade, isto é, para cada R$ 1,00 utilizado no custo total de um hectare de uva houve um retorno de R$ 1,34. O ponto de nivelamento também confirma o razoável desempenho econômico, pois será necessária uma produtividade de 18.318 kg.ha-1 para a receita se igualar às despesas. Este mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança que revela que, para a receita se igualar à despesa, a quantidade produzida ou o preço de venda do produto pode cair 27,0%. Avaliação econômica do cultivo de um hectare de uva de mesa sem sementes em plena produção no Submédio do Vale do São Francisco
Área (ha) | Produtividadekg.ha-1.ano-1(A) | Valor da produçãokg.ha-1.ano-1 (B) | Custo totalR$.ha-1 (C) | Relação Benefício/custo (B/C) | Ponto de nivelamento (C/P) | Margem de segurança % (C-B/B) |
1,0 | 25.000 | 87.500,00 | 45.796,00 | 1,34 | 18.318 kg | - 0,27 |
Notas:(A) Produtividade anual de 1 ha de uva de mesa sem sementes em plena produção;(B) Valor bruto da produção: Preço x quantidade comercial produzida;(C) Custos totais efetuados para obtenção da produção;(P) Preço médio anual do produto: R$ 2,50.Kg-1.
Analisando-se, ainda, o desempenho econômico da uva de mesa no Submédio do Vale do São Francisco, ressalta-se que as cultivares com sementes registram, em duas safras anuais, produtividade média da ordem de 40 t.ha-1. Este tipo de cultivo, representado principalmente pela cultivar Itália, é 50% voltado para o mercado doméstico, com preços oscilando em torno de 40% dos obtidos pelas cultivares sem sementes. Esse diferencial contribui para que a exploração de uvas com sementes, mesmo alcançando o dobro de produtividade, registre rentabilidade econômica inferior à das uvas sem sementes.