Manejo de irrigação

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Welson Lima Simões - Embrapa Semiárido

José Maria Pinto - Embrapa Semiárido

Marcelo Calgaro - Embrapa Semiárido

Marcos Brandão Braga - Embrapa Hortaliças

Luís Henrique Bassoi - Embrapa Instrumentação

 

O manejo de irrigação pode ser realizado via planta, solo, clima ou pela associação destes. Uma das práticas para a determinação da quantidade de água a ser aplicada por um sistema de irrigação é a determinação da evapotranspiração de referência (ETo).

Tendo-se estações agrometeorológicas disponíveis na região, o uso do método de Penman-Monteith/FAO para a estimativa da ETo torna-se viável. Esse método oferece maior precisão, sendo o mais indicado para a estimativa diária, mas envolve o uso de maior quantidade de equipamentos e cálculos mais complexos. São necessários dados de radiação solar global incidente, velocidade do vento a 2 m de altura, temperatura e umidade relativa do ar, além das resistências do ar, da cultura e do solo ao fluxo de calor que ocasiona a evapotranspiração.

A partir da ETo, pode-se calcular a evapotranspiração da cultura (ETc), com o do uso de coeficientes de cultura (Kc), que relacionam o consumo de água da cultura de referência (grama) com a cultura específica que ser quer irrigar em um determinado estádio do seu desenvolvimento. Assim:

ETc = ETo.Kc

Os valores de Kc são determinados experimentalmente e variam entre as fases fenológicas da cultura devido às diferenças de altura, diâmetro de copa e área foliar.

Para a videira cv. Italia, entre a poda de produção e a colheita, com 3 anos de idade, conduzida no sistema de latada, em espaçamento 4 m x 2 m e irrigada por microaspersão, em Petrolina-PE, os valores de Kc são os seguintes.

 

Variação da evapotranspiração da cultura (ETc) e do coeficiente de cultura (Kc), para a videira cv. Italia, em função do número de dias após a poda (dap), em Petrolina-PE

dap

ETc ETo Kc
18 2,80 4,50 0,62
20 4,40 5,62 0,78
22 3,60 4,76 0,76
24 3,40 5,52 0,62
30 3,60 5,15 0,70
44 3,90 5,49 0,71
45 2,80 3,25 0,86
54 3,10 5,57 0,56
58 4,10 5,31 0,77
59 5,40 5,32 1,02
65 4,50 5,10 0,88
66 4,10 5,61 0,73
87 6,50 5,72 1,14
94 7,00 6,10 1,15
96 4,50 4,78 0,94
97 4,60 4,99 0,92
105 5,50 6,55 0,84
116 4,30 7,19 0,60
117 4,40 6,80 0,65

Fonte: Teixeira et al. (1999).

 

Para uva a cv. Sugraone irrigada por microaspersão, durante dois ciclos de produção, os valores de Kc são os que seguem.

Valores de Kc para a videira ‘Sugraone’ irrigada por microaspersão, em função do estádio fenológico em dois ciclos de produção de uva, em Petrolina- PE

Estádio fenológico

Ciclo
julho a outubro novembro a março
Brotação 0,79 0,59
Desenvolvimento vegetativo 0,87 0,60
Pré-florescimento e florescimento pleno 0,73 0,70
Primeira fase de crescimento da baga 0,93 1,11
Fase intermediária de crescimento da baga 0,84 0,88
Segunda fase de crescimento da baga 0,95 1,11
Maturação do fruto 0,83 1,00
Repouso fenológico 0,89 0,74

Fonte: Soares (2003).

 

Entre os estágios fenológicos da videira, os requerimentos de água são diferenciados. Da quebra da dormência ao florescimento, vez que há intenso crescimento vegetativo, os prejuízos da deficiência hídrica são maiores. A ocorrência de estresse hídrico pode levar à quebra de dormência irregular, menor desenvolvimento dos ramos e menor número de flores. Por outro lado, aplicação excessiva de água no solo, além de lixiviar nutrientes, causa deficiência de oxigênio no solo, o que leva a um lento crescimento de ramos e amarelecimento das folhas. No florescimento, ocorre o primeiro pico de crescimento do sistema radicular, que pode ser inibido por falta ou excesso de água. Após o florescimento, a cobertura vegetal desenvolve-se rapidamente para a sua forma final e o consumo de água aumenta. Os períodos de pegamento do fruto e de desenvolvimento inicial das bagas são sensíveis ao estresse hídrico. Quando as bagas entram na fase intermediária de crescimento, o efeito da deficiência de água diminui. Durante o amadurecimento do fruto, a videira pode suportar maior restrição de água, pois o crescimento vegetativo diminui. A redução da irrigação nesse período depende da profundidade do sistema radicular, da capacidade de retenção de água do solo, do sistema de irrigação e das condições climáticas locais.