Adubação verde

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Vanderlise Giongo Petrere - Embrapa Trigo

Clementino Marco Batista Faria

Tony Jarbas Ferreira Cunha - In memoriam

 

A utilização de plantas intercalares, como adubos verdes, na cultura da videira, possibilita a obtenção de altas quantidades de resíduos orgânicos, o que permite o aumento do teor de carbono do solo e da CTC, bem como a redução da lixiviação de cátions e água. Após o manejo dos adubos verdes, na fase de pleno florescimento, os resíduos podem ser mantidos na superfície e não incorporados ao solo. Nesta condição, os efeitos benéficos para o solo são constatados nos parreirais, inicialmente na camada superficial e, com o tempo, desloca-se em profundidade. Assim, a produção de material vegetal "in situ" e a sua utilização como cobertura morta diminuem a evaporação da água aplicada, minimizando os riscos de salinização das áreas cultivadas.

Em regra, qualquer espécie vegetal pode ser utilizada como adubo verde. Porém, considerando as características desejadas, algumas espécies devem ser prioritárias para integrar um sistema de produção que inclua a adubação verde, destacando-se as seguintes características:

  • Ter sistema radicular profundo para facilitar a reciclagem dos nutrientes,
  • Ter elevada produção de massa seca, tanto da parte aérea quanto da radicular,
  • Ter alta velocidade de crescimento e de cobertura do solo,
  • Ser agressiva e rústica,
  • Possuir baixo custo de sementes,
  • Apresentar facilidade na produção de sementes,
  • Possuir, preferencialmente, efeitos alelopáticos e/ou supressores em relação às plantas não cultivadas.


Além da quantidade de matéria seca, avalia-se também, a qualidade desta, ou seja, sua capacidade em permanecer protegendo o solo e suprindo de nutrientes a cultura principal (videira).

 

Foto: Vanderlise Giongo Petrere

 

 Figura 1. Manejo de plantas na entrelinha da videira.

 

Em monocultivo, as espécies de crotalária, incluindo Crotalaria breviflora, apresentam ciclo curto, enquanto o feijão bravo do Ceará se destaca pela rápida cobertura do solo, permanecendo verde por mais tempo e caracterizando-se como apropriada para consórcio com fruteiras como a videira.

Uma alternativa compreende o uso de adubos verdes na forma de coquetéis vegetais. O coquetelvegetal consiste no plantio de uma mistura de sementes de várias espécies e famílias, incluindo, leguminosas, gramíneas, oleaginosas, entre outras, com o objetivo de melhorar as características químicas, físicas e biológicas do solo. As seguintes espécies, em diferentes proporções, foram testadas e apresentaram bom desenvolvimento no Submédio do Vale do São Francisco: leguminosas - Calopogônio (Calopogonium mucunoide), Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis, Feijão de Porco (Canavalia ensiformes), Guandu (Cajanus cajan L.), Lab-lab (Dolichos lablab L.), Mucuna Preta (Mucuna aterrina), Mucuna Cinza (Mucuna conchinchinensis); não-leguminosas: Gergelim (Sesamum indicum L.), Girassol (Chrysantemum peruviamum), Mamona (Ricinus communis L.), Milheto (Penissetum americanum L.) e Sorgo (Sorghum vulgare Pers.). O fato de as espécies fornecedoras de material orgânico serem plantadas em coquetel proporciona, ainda, melhor exploração do solo, reciclando os nutrientes de forma mais eficiente que o monocultivo, favorecendo, assim, a diversificação de espécies no sistema de produção (incluindo o aumento e diversificação da população microbiana presente na rizosfera) e fornecendo material orgânico com composição de nutrientes mais diversificada.