Reguladores de crescimento

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autor

Patrícia Coelho de Souza Leão - Embrapa Semiárido

 

 

Giberelinas, etileno e cianamida hidrogenada são reguladores de crescimento amplamente aplicados na videira, podendo influenciar a produção (quantidade e época) e a qualidade dos cachos.
 

Giberelinas 

Os efeitos do ácido giberélico (AG3) na videira variam de acordo com a época de aplicação e as concentrações utilizadas, podendo haver respostas diferenciadas conforme a cultivar. Os efeitos mais importantes são alongamento da ráquis dos cachos, raleio de flores, aumento do tamanho de bagas e antecipação ou retardo da maturação. Para a obtenção dos três primeiros efeitos, recomenda-se a aplicação na fase em que as inflorescências ficam visíveis, do início até a plena floração e na fase de pegamento das bagas.
 
Fotos: Patrícia Coelho de Souza Leão
Figura 1. Fases fenológicas da videira em que se deve fazer aplicação do ácido giberélico para: A) alongamento do engaço; B) raleio de flores; C) crescimento de baga.

 

A aplicação do ácido giberélico deve ser dirigida aos cachos, não se recomendando pulverizar as folhas, pois a elevada concentração de giberelinas livres nas gemas de ramos tratados ou de ramos com excesso de vigor pode provocar a necrose e a redução da fertilidade de gemas no ciclo seguinte, ou mesmo a formação de brotações duplas ou fasciação. No entanto, este efeito é muito variável e dependente da cultivar.

No Submédio do Vale do São Francisco, os programas de aplicação de AG3 podem apresentar variações nas doses e número de aplicações, de acordo com as cultivares, época de aplicação e até mesmo com as condições da planta. Uma sugestão de programa de aplicação é apresentada a seguir. 

 

Tabela 1: Concentrações e épocas de aplicação de ácido giberélico (AG3) para cultivares de uvas  de mesa no Submédio do Vale do São Francisco

Cultivar

Época de aplicação

Concentração de AG3 (mg.L-1)

Função

Italia

Benitaka/

Brasil

3ª semana (18 dias)

0,5 – 1,0

Alongamento do engaço e ombros

8ª semana (bagas com 8 mm)

15 - 25

Crescimento de bagas

10ª semana (Início de maturação do ramo)

20 - 25

Crescimento de bagas

TOTAL

35,5 - 51

 

Sugraone ou Festival

3ª semana (18 dias)

1,0 – 1,5

Alongamento do engaço e ombros

5ª semana

0,5 – 0,75

Raleio de flores

8ª semana (bagas com 8 mm)

10,0

Crescimento de bagas

10ª semana (bagas com 12 mm)

10,0

Crescimento de bagas

TOTAL

21,5 – 22,25

 

Crimson Seedless

3ª semana (18 dias)

1,0-1,5

Alongamento do engaço

8ª semana (bagas com 8 mm)

5,0

Crescimento de bagas

10ª semana (bagas com 12 mm)

5,0-10,0

Crescimento de bagas

TOTAL

11,0-16,5

 

Thompson Seedless

3ª semana (18 dias)

1,5- 2,0

Alongamento do engaço e ombros

3ª semana (25 dias)

5

Alongamento do engaço e ombros

40% Flor aberta

10

Raleio

60% Flor aberta

10

Raleio

80% Flor aberta

10

Raleio

Pegamento do fruto

40

Crescimento de bagas

Bagas com 6 mm

40

Crescimento de bagas

Bagas com 8 mm

40

Crescimento de bagas

Bagas com 12 mm

40

Crescimento de bagas

TOTAL

196,5 – 197,0

 

  Fonte: Soares e Leão (2009)

 

Etileno

O etileno é um hormônio produzido pelas plantas, principalmente durante a fase de amadurecimento dos frutos. O produto sintético precursor de etileno é conhecido como ethephon (ácido (2-cloroetil) fosfônico), ou CEPA, cujo produto comercial é o Ethrel®.

 
Na viticultura, o ethephon tem sido utilizado com as seguintes funções: antecipar a maturação; estimular a coloração nas uvas tintas; induzir a abscissão de folhas e frutos; controlar o vigor vegetativo excessivo; taumentar a viabilidade das gemas; estimular o enraizamento de estacas e a germinação de semenes.
 
Com o objetivo de melhorar e uniformizar a coloração de uvas tintas, o ethephon deve ser utilizado em pulverizações dirigidas aos cachos no início da mudança de cor. No Submédio do Vale do São Francisco, a utilização de Ethrel® 720 na dose de 1,5 mL.L-1, com pH de calda 3,5, aliado à redução da lâmina de irrigação, utilizando-se coeficiente de cultivo (Kc) de 0,5 nas duas a quatro semanas anteriores à colheita, dependendo da cultivar e da época do ano, resulta em melhoria da coloração de uvas como ‘Benitaka’, ‘Red Globe’ e ‘Crimson Seedless’.
 
No entanto, o ethephon pode condicionar a desgrana de bagas e diminuir a resistência pós-colheita dos frutos. Por isso, não se recomenda a sua utilização em cultivares sensíveis e de conservação pós-colheita mais difícil. Deve-se evitar também utilizá-lo em períodos chuvosos, quando a resistência dos frutos é naturalmente reduzida.
 
O ethephon também é utilizado para promover o amadurecimento de ramos e a senescência de folhas, atuando como desfolhante, aumentando o rendimento operacional da poda e a qualidade dos ramos. Com esta função, ele deve ser aplicado de 15 a 20 dias antes da poda, durante o período de repouso, sendo utilizado, no Submédio do Vale do São Francisco, o Ethrel® 720 na dose de 0,7 a 2 mL.L-1. Concentrações mais baixas são eficientes, quando se utiliza um volume de calda de 600 L.ha-1, com pH  ajustado previamente para 3,5, direcionando-se a pulverização para a parte basal dos ramos.
 

Cianamida Hidrogenada

Em condições tropicais, a videira não apresenta fase de repouso hibernal, mantendo sua área foliar e produção de carboidratos após a colheita dos frutos. Nestas condições, o crescimento vegetativo é controlado pela redução da disponibilidade hídrica por meio do manejo da irrigação no final do ciclo e durante o período de repouso. As plantas apresentam forte dominância apical, com a emissão de brotos vigorosos nas extremidades das varas, o que inibe a brotação das gemas laterais nas porções basais e medianas, resultando na brotação fraca e desuniforme das gemas laterais.
 
A cianamida hidrogenada (H2CN2) é o principal regulador de crescimento para quebra de dormência de gemas em diversas frutíferas. O produto comercial Dormex® contém 49% do princípio ativo e deve ser pulverizado sobre as gemas até 48 horas após a poda. No Submédio do Vale do São Francisco, concentrações de 2,45% de H2CN2 são recomendados nos meses mais quentes do ano (setembro-abril) e de 2,94% nos de clima mais ameno (maio-agosto).
 
Para a aplicação da cianamida hidrogenada, deve-se pulverizar todos os ramos da planta ou pincelar apenas as gemas ou, ainda, imergir as varas em um recipiente cilíndrico contendo a solução. Entretanto, para evitar a disseminação de doenças, a pulverização dos braços e ramos é o método mais recomendado. É importante lembrar que a velocidade de aplicação e a pressão utilizadas não podem ser altas, de modo a propiciar um molhamento uniforme das gemas. O volume de calda/ha está em torno de 200 a 300 litros para pulverizações manuais e 1000 litros para pulverizações tratorizadas, desde que o bico de pulverização seja adequado. O consumo do produto comercial em pulverização tratorizada a uma concentração de 1% de cianamida hidrogenada é o mesmo que aquele quando se emprega o pincelamento dos ramos.
 
Fotos: Patrícia Coelho de Souza Leão (A) e José Monteiro Soares (B).
Figura 2. Aplicação de cianamida hidrogenada imediatamente após a poda por pulverização (A) ou por pincelamento com rolo (B).
 
 
A torção dos ramos após a poda e antes da aplicação da cianamida hidrogeanda é uma prática antiga para quebrar a dormência de gemas de videira. Contudo, no Submédio do Vale do São Francisco, sua utilização junto à aplicação de cianamida hidrogenada a 2,45% não aumentou significativamente a percentagem de brotação, fertilidade de gemas e produção da cv. Italia, quando comparado ao uso apenas da cianamida hidrogenada, razão pela qual, devido aos riscos fitossanitários e aos custos com mão de obra, não tem sido recomendada para essa região.