Clima

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autores

Jorge Tonietto - Embrapa Uva e Vinho

Francisco Mandelli

 

A viticultura do Brasil ocorre em regiões de clima temperado e subtropical, ambas com verões úmidos, bem como em regiões de clima tropical.
O clima possui forte influência sobre a videira, interagindo com os demais componentes do meio natural (latitude, solo, relevo, dentre outros), que afetam a videira, a uva e o vinho.
Deve-se considerar três escalas climáticas de interesse da viticultura: 1) macroclima ou clima regional; 2) mesoclima ou clima local; 3) microclima, que corresponde ao microclima natural, bem como ao microclima da planta. Deve-se escolher um macroclima que seja potencialmente propício à viticultura e, dentro dele, um mesoclima que amplie o potencial da região. Por último, é necessário adotar sistemas de sustentação, de condução da planta e de manejo da videira e do solo que possibilitem um adequado microclima da planta para obter colheitas com os níveis de produtividade e qualidade requeridos.

A videira é influenciada por diversos elementos meteorológicos, dentre eles as temperaturas, a precipitação pluvial, a radiação solar, os ventos e a umidade do ar.

A temperatura do ar apresenta diferentes efeitos sobre a videira. No inverno a videira é bastante resistente às baixas temperaturas, uma vez que se encontra em período de repouso vegetativo. O frio invernal é importante para a quebra de dormência das gemas, no sentido de assegurar uma brotação adequada para a videira. A partir do período de brotação da videira ela é sensível ao frio, e as geadas primaveris podem causar a destruição dos órgãos herbáceos da planta. Por isso, o plantio de cultivares de brotação precoce não é recomendado em locais com riscos moderados e altos de geadas tardias. No verão, condições térmicas muito quentes podem resultar na obtenção de uvas com maiores teores de açúcares, e com menor acidez e, nas cultivares tintas, menor intensidade de cor. As temperaturas no outono afetam o comprimento do ciclo vegetativo da videira, que é importante para a maturação dos ramos e acumulação de reservas pela planta. A ocorrência de geadas outonais acelera a queda das folhas e o fim do ciclo vegetativo.


A precipitação pluvial é um dos elementos meteorológicos mais importantes na viticultura. A videira é uma cultura bastante resistente à seca. Para ela é influente não apenas a quantidade total de chuvas, mas também sua distribuição ao longo do ciclo vegetativo. As chuvas de inverno têm pouca influência sobre a videira. É importante que os solos apresentem disponibilidade hídrica adequada no período de brotação das plantas. Durante a primavera, as chuvas são importantes para o desenvolvimento da planta, porém, em excesso, podem favorecer o desenvolvimento de algumas doenças fúngicas, bem como afetar importantes fases da videira, como a floração e a frutificação, causando baixo vingamento dos frutos. Em períodos chuvosos durante a fase de maturação das uvas, verifica-se com frequência a colheita antecipada das uvas, em relação ao ponto ótimo de colheita. Essa prática adotada é para evitar perdas de colheita causadas por podridões do cacho mas impõe limites à qualidade das uvas destinadas à agroindústria.


Quanto à radiação solar, a videira é exigente em luz. O manejo do dossel vegetativo do vinhedo deve proporcionar uma exposição foliar à radiação solar. Durante o período de maturação das uvas a evolução do teor de açúcar é favorecido pela ocorrência de dias ensolarados.


Vinhedos localizados em áreas com umidade relativa do ar elevada estarão mais sujeitos à incidência de doenças fúngicas, em particular o míldio, em relação àqueles situados em condições com menor teor de umidade.


Os ventos podem causar danos à vegetação, pois os ramos jovens rompem-se com relatava facilidade, resultando na diminuição da produção do vinhedo e em dificuldades na poda de inverno. Para atenuar a ação dos ventos, os vinhedos devem ser protegidos com quebra-ventos.


As condições de relevo do terreno possibilitam a seleção de áreas para a viticultura com um mesoclima particular. É o caso das encostas bem expostas, com posição Norte. Normalmente menos férteis que as condições de fundo dos vales  e com maior insolação e drenagem, possibilitam colheitas menos abundantes, porém geralmente com maior qualidade. Nestas condições, há necessidade de adoção de práticas de conservação do solo.


A viticultura para vinho desenvolvida em clima tropical apresenta particularidades, tendo em vista que a videira vegeta de forma contínua durante o ano. Nestas condições, práticas vitícolas específicas de poda seca, quebra de dormência e manejo do vinhedo, incluindo a irrigação do solo, são utilizadas. O ciclo vegetativo é mais curto em função das temperaturas mais elevadas ao longo do ano. Nas condições do Vale do Submédio São Francisco, por exemplo, a principal característica que o clima confere à região é a possibilidade de produção de uvas de forma contínua ao longo do ano. Para a elaboração de vinhos é preferível evitar que a maturação e colheita da uva coincidam com os períodos mais chuvosos do ano.