Uva para Processamento
Doenças causadas por nematóides
Autor
Rosemeire de Lellis Naves - Embrapa Uva e Vinho
Na cultura da videira, doenças causadas por fitonematoides podem afetar seriamente a planta, prejudicando o seu desenvolvimento, o estabelecimento no campo e a qualidade dos frutos produzidos, constituindo-se, dessa forma, fator limitante à produtividade. Em nível mundial, estima-se que, anualmente, os prejuízos diretos causados por fitonematoides na videira possam atingir 20%. Além disso, algumas espécies, como as do gênero Xiphinema, podem atuar como vetores de vírus que ocorrem na cultura.
No Brasil, levantamentos realizados em diferentes regiões registraram a ocorrência de vários gêneros e espécies de fitonematoides associados à rizosfera da videira. Mundialmente, os nematoides das galhas (Meloidogyne spp.) e os das lesões (Pratylenchus spp.), o nematoide-punhal ou "dagger nematode" (Xiphinema spp.) e o nematoide dos citros (Tylenchulus semipenetrans) são considerados os mais prejudiciais.
Dentre as espécies do gênero Meloidogyne, as que mais frequentemente se encontram associadas com danos à cultura da videira no Brasil, estão M. javanica, M. incognita, M. arenaria e, ocasionalmente M. hapla. Em situações de alta infestação, as plantas atacadas apresentam baixo vigor, sintomas de deficiência nutricional e consequente redução na produção. Os sintomas mais característicos e visíveis ocorrem nas raízes onde observam-se engrossamentos denominadas galhas (Figura 1). Plantas levemente infestadas apresentam galhas pequenas nas raízes absorventes, enquanto aquelas altamente infestadas podem ter redução do sistema radicular com galhas grandes e alongadas. Esses sintomas tendem a ser mais severos em videiras cultivadas em solos arenosos.
Apesar de não haver registros de danos causados pelos nematoides das lesões na cultura da videira no Brasil, a ocorrência de Pratylenchus brachyurus, P. thornei, P. jordanensis e P. zeae já foi constatada em levantamentos realizados em pomares vitícolas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Na Califórnia (EUA) e na Austrália, P. vulnus tem sido a espécie mais importante para a cultura. Lesões necróticas de vários tamanhos e cores são encontradas ao longo das raízes infectadas por Pratylenchus spp., levando muitas raízes secundárias à morte. Plantas infectadas perdem o vigor e apresentam sistema radicular e produção reduzidos. O sistema radicular deficiente faz com que plantas novas permaneçam fracas, chegando a morrer em condições de estresse.
No Brasil, já foram relatadas as espécies Xiphinema americanum, X. índex, X. brasiliensis e X. krugi do nematoide-punhal associadas às raízes de videira. Dentre essas espécies, apenas a sintomatologia induzida por X. index tem sido estudada com detalhes. Videiras atacadas por essa espécie apresentam raízes com engrossamentos terminais, curvatura, necroses e diminuição do número de raízes. Necroses extensivas nas raízes principais resultam na proliferação lateral de outras raízes, num efeito semelhante à vassoura-de-bruxa. A presença de X. americanum também tem sido relacionada à redução do sistema radicular da videira. A associação das espécies de Xiphinema às raízes da videira se torna muito mais importante e prejudicial devido à capacidade desses nematoides transmitirem vírus para a planta.
A ocorrência do nematoide dos citros, Tylenchulus semipenetrans, associado à videira no Brasil já foi constatada nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Não há sintomas característicos causados por essa espécie nas raízes das plantas atacadas, embora tenham sido notados encurvamentos e necroses no sistema radicular. Danos sobre a videira foram observados na região de Jundiaí, SP, onde plantas de ‘Niágara Rosada’ apresentaram sintomas de enfezamento, morte de brotações, redução na floração e, consequentemente, na produção. Entretanto, o seu efeito na videira em condições de campo ainda precisa ser melhor estudado. Deve-se, então, evitar a disseminação ou a introdução de T. semipenetrans em áreas vitícolas ainda não infestadas.