Doenças fúngicas

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autores

Rosemeire de Lellis Naves - Embrapa Uva e Vinho

Lucas da Ressurreição Garrido - Embrapa Uva e Vinho

 

A ocorrência de doenças fúngicas na videira pode provocar grandes perdas e tornar-se fator limitante à viticultura, caso medidas adequadas de controle não sejam adotadas. A suscetibilidade da planta, as condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento de patógenos, além do manejo inadequado da cultura, fazem com que o cultivo da videira só se viabilize com a aplicação de fungicidas, aumentando os custos de produção, os riscos de intoxicação dos trabalhadores e de contaminação do ambiente.

Dentre as doenças fúngicas, por afetarem a produção e causarem sérios danos, destacam-se míldio, oídio, antracnose, podridões radiculares, morte descendente e podridões de cachos. Além dessas, outras doenças como a ferrugem, a mancha das folhas e a escoriose também podem ocorrer na cultura da videira.

Causada pelo fungo Phakopsora euvitis, a ferrugem foi constatada pela primeira vez no Brasil no ano de 2001 em municípios da região norte do Estado do Paraná. Atualmente, no entanto, devido ao seu grande potencial de disseminação, a ocorrência do patógeno já se estendeu aos parreirais de outras regiões vitícolas do país. Ocorre, principalmente, em áreas tropicais e subtropicais onde a severidade da doença parece ser maior que nas regiões de clima temperado.

Os sintomas da ferrugem na videira são lesões amareladas a castanhas de várias formas e tamanhos nas folhas. Massas amarelo-alaranjadas formadas pelas estruturas reprodutivas do fungo são produzidas na face inferior das folhas, com manchas escuras necróticas na face superior. Ataques severos do fungo causam morte e queda prematura de folhas, prejudicando a maturação dos frutos e reduzindo o vigor das plantas no ciclo seguinte.

Também conhecida como mancha isariopsis, a mancha das folhas, causada pelo fungo Mycosphaerella personata tem grande importância em cultivares de uvas americanas e híbridas, principalmente em regiões mais quentes, onde a doença evolui rapidamente. A desfolha precoce é o principal dano, acarretando o enfraquecimento da planta e deficiência na maturação dos ramos e, consequentemente, falhas na brotação no ciclo seguinte. A doença se desenvolve melhor em condições de alta temperatura e umidade, aparecendo primeiro nas folhas mais velhas, geralmente no inicio de maturação da uva, em parreiras que não foram suficientemente tratadas contra míldio.

Os sintomas aparecem geralmente no início da maturação da uva, como manchas necróticas de contorno irregular, inicialmente castanho-avermelhadas e, posteriormente, pardo-escuras e pretas, apresentando um halo amarelo-esverdeado bem visível. As folhas basais normalmente são as mais afetadas.

A escoriose da videira, causada por Phomopsis viticola, é uma doença cujos danos vão desde a redução das gemas brotadas e a seca dos ramos até a morte da planta. A incidência nos frutos poderá diminuir a produção e a qualidade da uva.

Os sintomas de escoriose podem ser confundidos com os da antracnose. A diferença básica está na forma e profundidade das lesões, que, no caso da antracnose, são arredondadas e profundas. Na base dos ramos do ano, surgem os sintomas característicos, geralmente até o terceiro ou quarto entrenó, no início da brotação. Eles se apresentam na forma de crostas ou escoriações superficiais de cor marrom-escura, que podem envolver toda a parte basal do ramo, ou na forma de lesões alongadas longitudinais, escuras e superficiais, que também podem ser observadas no pecíolo, gavinhas e pedúnculos. No limbo foliar formam-se pequenas manchas cloróticas pontuadas, que mais tarde se tornam necróticas. Nas nervuras, o ataque poderá causar a deformação da folha. Os ramos afetados apresentam engrossamento na base, provocando o enfraquecimento na região de inserção, facilitando a quebra dos mesmos. Outro distúrbio provocado pela escoriose é a morte das gemas basais, dificultando a poda e consequentemente promovendo uma expansão indesejável da planta. Períodos prolongados de chuva e frio são as condições ideais para o desenvolvimento do patógeno.

A seguir, serão descritas com maiores detalhes as seguintes doenças fúngicas: míldio, oídio, antracnose, podridões radiculares, morte descendente e podridões de cachos.