Uva para Processamento
Cultivo protegido
Autor
Henrique Pessoa dos Santos - Embrapa Uva e Vinho
O cultivo protegido de videira (Figura 1), utilizando cobertura plástica impermeável, tem como principal função o controle de danos por adversidades climáticas sobre a produção e a maturação das uvas. É importante salientar que o simples fato de cobrir o parreiral com plástico impermeável proporciona grandes modificações nas condições microclimáticas , as quais exigem modificações no manejo fitotécnico e fitossanitário. Portanto, o cultivo protegido deve ser considerado como um novo sistema de produção. Esta é uma premissa importante que o produtor deve considerar antes de cobrir o seu parreiral, pois se não implementar modificações no manejo poderá ter mais problemas do que soluções com a cobertura plástica. Abaixo estão agrupados alguns detalhes e servem de orientação básica para os empreendedores que irão adotar ou já estão utilizando esta tecnologia em sua propriedade.
Fotos: Henrique P. Santos |
Figura 1. Aspecto geral de parreirais com cobertura plástica. |
a) Microclima sob as coberturas
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A cobertura apresenta-se como proteção física contra chuva e granizo;
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Promove aumento das temperaturas máximas, sem proteção contra geadas;
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Restringe água livre (gotas) sobre folhas e cachos;
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Diminui a radiação (média de -33%) e a velocidade do vento (média de -88%) sobre as plantas);
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Restringe o tempo de evaporação da água livre, que porventura atingiu as plantas sob a cobertura;
b) Detalhes na instalação de coberturas
1. Cuidados iniciais
Antes da colocação das coberturas, deve-se analisar se o local não está propenso a ocorrência de ventos fortes laterais, pois isto pode favorecer a perda total das coberturas e até do parreiral. Para amenizar esse problema, pode-se adotar reforços na fixação das coberturas e instalar quebra-ventos.
2. Estrutura para cobertura
Deve-se ter muita atenção com o material e com a forma da estrutura que receberá o plástico de cobertura. Isto porque não pode haver pontas que promovam atrito (ex.: contato direto com madeira, arames ou pregos). Deve-se também evitar o contato da cobertura com material que possa oxidar (ferrugem), pois isso degrada o plástico. Neste sentido, recomenda-se que sejam utilizados arcos, pela melhor distribuição do peso do plástico, de preferência de aço galvanizado.
Os plásticos recomendados para cobertura de parreiral são do tipo ráfia, que é uma malha de polietileno (mais flexível que o polipropileno, usado antigamente), em média de 160 gramas/m2 e com dupla laminação de impermeabilização, para evitar pontos de acúmulo de impurezas.
Na instalação das coberturas, deve-se ter o cuidado de proporcionar o máximo possível de esticamento, para evitar que o plástico fique em atrito com a estrutura de sustentação (arcos). É importante considerar que a estrutura de cobertura tem alto custo e deve ser bem feita para proporcionar a máxima durabilidade.
A cobertura plástica acelera o processo de brotação das gemas em função do aumento da temperatura do ar. Entretanto, pela diminuição da radiação solar sobre as plantas, o processo de maturação se torna mais longo. Estas duas influências das coberturas são utilizadas em outros países, como a Itália, para o manejo da data de colheita de uvas de mesa. Se o objetivo for antecipar a brotação, utiliza-se o plástico apenas durante o período da poda até a mudança de cor, e se o interesse for apenas o prolongamento do ciclo, a utilização do plástico é feita somente no período de maturação da uva. Entretanto, em regiões que apresentam alta frequência de chuvas, que favorece as doenças fúngicas, recomenda-se o uso da cobertura em todo o ciclo.
3. Detalhes de altura e espaçamento
Deve-se ter o cuidado de posicionar a cobertura sobre a vegetação sem haver o risco de favorecer a entrada de água pela chuva. Além disso, deve evitar alturas muito baixas que favoreçam o efeito estufa, pela restrição da ventilação, e o contato da vegetação na face inferior da cobertura (molhada pelo orvalho), que favorece doenças. Como regra geral a distância mínima entre as folhas e as extremidades inferiores do arco de cobertura deve ser de 20 cm. Outro fator importante para o controle da temperatura sob a cobertura é o espaçamento entre os plásticos de cobertura (espaçamento entre linhas), o qual não pode ser demasiadamente grande que possa favorecer a entrada de chuvas laterais ou demasiadamente pequeno que evita a circulação do ar. Para esse parâmetro, recomenda-se no mínimo 10 cm (o máximo dependerá do espaçamento entre linhas e do sistema de condução, sendo Y o sistema que permite o maior distanciamento entre linhas de cobertura). No sistema de condução latada, o qual exige um espaçamento menor entre linhas de cobertura, pode-se adotar o uso de calhas na entrelinha (Figura 2). Estas são constituídas do mesmo material de cobertura e podem favorecer o maior espaçamento entre linhas sem o risco de entrada da água de chuva e granizo sob as coberturas.
Foto: Daniel A. Souza |
Figura 2. Detalhe de uma calha, para ser utilizada no espaço de entrelinhas de cobertura plástica. |
4. Evitar excesso de água sob a cobertura
Em anos ou locais que ocorre elevada precipitação pluviométrica, pode-se também adotar o uso das calhas para evitar a entrada de água no parreiral, principalmente no período de maturação quando o excesso de água, aliado a menor transpiração das plantas sob as coberturas, pode favorecer as rachaduras e o apodrecimento de bagas. O uso de valas nas entrelinhas, impermeabilizadas com plástico preto, também é eficiente para escoar o excesso de água das chuvas para fora do parreiral. O produtor deve estar atento também para a frequência e volume de água de irrigação, pois, sob cobertura, as plantas tem menor necessidade de água.
c) Controle fitossanitário e cuidados na utilização de fungicidas
O efeito “guarda-chuva” promovido pelas coberturas restringe drasticamente as condições para o estabelecimento das principais doenças fúngicas (míldio, antracnose, glomerela, botritis e podridão ácida). Essa restrição pode chegar a 100%, como no caso do míldio. Em função disso, os tratamentos fitossanitários preventivos devem ser concentrados em pontos do parreiral mais predispostos a ocorrência de molhamento, evitando-se com isso o uso indiscriminado de tratamentos na área, os quais podem favorecer o acúmulo de resíduos na fruta, pois sob a cobertura os produtos apresentam maior período de carência em relação as especificações de rótulo. Pelas condições mais secas sob as coberturas, podem favorecer a ocorrência de oídio. Contudo, já existem tratamentos alternativos desse fungo, tais como o uso de bicarbonato de sódio e leite.
Quando houver necessidade, a pulverização de fungicidas deve ser dirigida, evitando ao máximo que os produtos aplicados atinjam os plásticos de cobertura. Isto porque, até o presente momento, esses plásticos não possuem proteção contra a degradação oxidativa dos metais presentes nos agroquímicos (ex.: cloro, enxofre, zinco e cobre). Portanto, além de elevar os custos de produção anual, a pulverização em excesso pode comprometer drasticamente a vida útil das coberturas.
d) Manejo da vegetação e colheita sob as coberturas
Como o plástico pode ser uma fonte de água livre (formação de orvalho na face inferior), é importante que o produtor efetue com frequência o manejo de poda verde, desbaste, desponte e amarração da brotação. Esse manejo deve ser realizado com o propósito principal de evitar o contato das folhas com a face interna das coberturas ou a saída de ramos para fora da área coberta, o que aumenta a necessidade de tratamentos químicos. Sob as coberturas é importante a organização das brotações para evitar sobreposições e auto-sombreamentos, considerando a restrição de radiação que ocorre.
Devido o controle fitossanitário promovido pela cobertura plástica, o produtor pode adiar a colheita em até 30 dias, em relação ao período convencional. Esse atraso não compromete a qualidade da fruta e pode garantir bons preços de comercialização, pelo fato de ofertar a fruta em épocas distintas. Além disso, a fruta pode ser valorizada se o produtor aliar o manejo orgânico ao cultivo protegido, atingindo nichos distintos de mercado.