Irrigação

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

Marco Antônio Fonseca Conceição - Embrapa Uva e Vinho

 

A irrigação tem sido utilizada em diferentes regiões do mundo na produção de uvas para processamento. Em regiões áridas ou semi-áridas, como no Vale do São Francisco, a irrigação é a principal fonte de água para a cultura. Já em regiões mais úmidas a irrigação pode suplementar a precipitação pluvial.

 

Sistemas de Irrigação

Na produção de uvas para processamento, geralmente tem sido empregada a irrigação por gotejamento, nas variedades finas conduzidas em espaldeira; e microaspersão, nas uvas rústicas conduzidas em latada (Figura 1). A irrigação por gotejamento umedece apenas parte do solo, o que reduz o volume de água disponível para a cultura e aumenta a dependência da planta por irrigação. É devido a essa menor disponibilidade de água que o intervalo entre irrigações, nesse sistema, deve ser inferior aos dos outros métodos. Tanto a irrigação por gotejamento como a microaspersão devem ter sistemas de filtragem e podem utilizar a fertirrigação, que é a aplicação de fertilizantes através da água de irrigação.

 

 Fotos:Marco A.F. Conceição
  
 Figura 1. Irrigação por gotejamento em videiras conduzidas em espaldeira (esquerda); e irrigação por microaspersão em videiras conduzidas em latada (direita).

 

Necessidade de Água

O uso da água por um vinhedo varia conforme as condições atmosféricas, sendo que quanto mais altas forem a radiação solar, a temperatura do ar e a velocidade do vento e quanto menor for a umidade relativa do ar, maior será o consumo hídrico da cultura. Esse consumo também varia conforme a fase de desenvolvimento das plantas. Há, normalmente, uma baixa demanda no início da fase de crescimento, devido à menor área foliar, seguida por um período de alta demanda, quando o dossel está plenamente desenvolvido, e uma redução do consumo após a colheita, devido à menor taxa de transpiração das folhas mais velhas e à sua queda.

 

Monitoramento da água no solo e na planta

Um dos métodos mais utilizados para o monitoramento da água no solo é o uso de equipamentos denominados tensiômetros. Quanto mais seco estiver o solo maior será a tensão com que a água ficará retida no solo, valor que será registrado pelo tensiômetro. Cabe ressaltar que o resultado do tensiômetro é influenciado pelo tipo de solo.


O monitoramento também pode ser feito avaliando-se o potencial da água nas folhas, sendo que quanto menor esse valor maior o déficit hídrico na planta. Para se determinar esse potencial é utilizado um equipamento denominado câmara ou bomba de Scholander, que é bastante empregado em áreas irrigadas com uvas finas para processamento.

 

Manejo da Irrigação

O manejo da irrigação pode ser feito empregando-se diferentes técnicas. No manejo baseado na tensão da água no solo ou no potencial hídrico das folhas, a irrigação é realizada sempre que a tensão ou o potencial atingirem determinados valores limites estabelecido previamente.

No manejo com turno de rega fixo, estabelece-se um intervalo entre irrigações e calcula-se o consumo de água da cultura durante esse período. Se ocorrerem precipitações entre as irrigações, o valor deverá ser descontado da lâmina a ser aplicada.

No manejo com lâmina de irrigação fixa, a irrigação é realizada sempre que consumo de água atingir um valor pré-estabelecido. Como o valor da precipitação pluvial (P) ocorrida no intervalo entre irrigações é descontado, quanto mais chuva houver maior será o intervalo entre irrigações e, consequentemente, menor o número de irrigações da cultura, o que representa uma economia de água e energia. Por essa razão, em regiões onde há precipitações pluviais mais frequentes, recomenda-se utilizar intervalos com lâminas de irrigação fixas ao invés de turnos de rega fixos.

 

Manejo com déficit hídrico

O manejo com déficit hídrico é bastante utilizado na produção de uvas para elaboração de vinhos finos de alta qualidade. Para a obtenção de vinhos jovens, leves e frutados, sugere-se um déficit hídrico de leve a moderado durante a maturação, enquanto que para vinhos de guarda, mais concentrados, deve-se permitir uma restrição hídrica entre moderada e forte durante o crescimento das bagas e a maturação dos frutos. O manejo com déficit hídrico pode reduzir a produtividade, principalmente se ocorrer no início, mas favorece, normalmente, a qualidade dos vinhos, principalmente dos tintos. O controle do déficit deve ser realizado com cuidado, uma vez que níveis maiores de estresse podem restringir a função foliar e prejudicar o desenvolvimento da cultura e a qualidade final dos frutos e do vinho.

 

Fertirrigação

A fertirrigação é a aplicação de fertilizantes através da água de irrigação. Apesar da possibilidade de se aplicar vários tipos de nutrientes ou combinações destes via água de irrigação, os mais usados são os que contêm nitrogênio e potássio. Vários adubos líquidos são, também, comercializados no mercado e podem ser empregados via água de irrigação. A fertirrigação pode ser diária em sistemas de gotejamento. Em sistemas de microaspersão é comum a utilização de um intervalo maior entre aplicações.