Nutrientes

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

George Wellington Bastos de Melo - Embrapa Uva e Vinho

 

Nas condições da viticultura brasileira, os nutrientes que mais se deve prestar atenção são fósforo, potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio e boro, principalmente por serem os mais exigidos pela planta e/ou encontrarem-se em menor concentração nos solos.

 

Fósforo

O nutriente fósforo atua como componente estrutural das membranas celulares, bem como fazendo parte de compostos responsáveis pela fixação do CO2 atmosférico e pelo metabolismo de açúcares.

Solos brasileiros são deficientes em fósforo, com teores médios em torno de 1,0 mg kg-1 (Mehlich 1), que torna necessário utilização de fertilizantes para suprir a deficiência. Os sintomas de deficiência de fósforo ocorrem em folhas maduras, onde é observado redução do tamanho, tornam-se amareladas e ainda podem apresentar limbo com manchas avermelhadas.

A concentração normal de fósforo nas folhas da videira varia de 0,15 a 0,25 %, sendo que a planta absorve cerca de 0,4 kg de P2O5 para produzir 1000 kg de frutos.

 

Potássio

É um nutriente que atua em funções que dizem respeito às relações osmóticas, dinâmica dos estômatos e ativador enzimático. O potássio é uma elemento que não forma compostos orgânicos no interior das plantas, predominando na forma iônica K+.

O critério utilizado com indicador da disponibilidade de potássio nos solos é o K-trocável, isto é, o potássio encontrado adsorvido nas cargas do solo formando compostos de esfera externa.

Por ser um elemento bastante móvel no interior das plantas, os sintomas de deficiência de potássio ocorrem em folhas mais velhas. Nas variedades brancas os sintomas iniciais se caracterizam por amarelecimento nas proximidades das bordas foliares, com o agravamento da deficiência as bordas ficam necrosadas. Nas variedades tintas, as folhas tornam-se avermelhadas e também mostram o necrosamento das bordas.

A concentração normal de potássio nas folhas da videira varia de 1,50 a 2,50 %, sendo que a planta absorve cerca de 6 kg de K2O para produzir 1000 kg de frutos. O uso indiscriminado de fertilizantes potássicos aumenta a concentração desse elemento no mosto, isso pode acarretar problemas enológicos.

 

Nitrogênio

Cerca de 1 a 2 % da matéria seca de videira é constituída de compostos nitrogenados. O N participa como componente primário de aminoácidos, proteínas, clorofila e citocininas, tendo como função estrutural e metabólica.

O teor de matéria orgânica é o indicador de disponibilidade de N no solo mais utilizado, mas este não tem sido muito eficaz na predição do comportamento das plantas, o que tem causado sérios problemas na viticultura, pois tanto o excesso quanto a deficiência de nitrogênio afeta a produtividade e a qualidade dos frutos. O cultivo da videira tem diminuído o teor de matéria orgânica do solo, sendo que uma das prováveis causas dessa diminuição é o uso inadequado de nitrogênio e o mito de que a matério organica do solo influencia negativamente na qualidade do vinho.

Os sintomas de deficiência de nitrogênio se caracterizam pela redução no vigor das plantas e pela clorose (amarelecimento) no limbo das folhas maduras e velhas. Em algumas variedades tintas as folhas e, principalmente, os pecíolos podem apresentar coloração avermelhada.

A concentração normal de N nas folhas da videira varia de 1,60 a 2,40 %, sendo que a planta absorve cerca de 3 kg de N para produzir 1000 kg de frutos.

 

Cálcio

O cálcio é responsável pela estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos das plantas, juntamente com outras substâncias, ele regula os processos de permeabilidade das células e tecidos; também tem função de ativador enzimático. O cálcio forma fitatos e pectatos, que o torna importante na manutenção da integridade da parece celular.

O indicador da disponibilidade de cálcio nos solos é o Ca-trocável, extraído com KCl 1 M. Apesar dos teores de Ca2+ da grande maioria dos solos brasileiros serem considerados baixos, ele não tem sido problema para a videira, pois a calagem utilizada para aumentar o pH do solo aumenta o teor de Ca-trocável. Para os solos do RS, teores maiores que 4 cmolc/l são considerados altos, sendo que na Serra Gaúcha a maioria dos solos possuem naturalmente altos teores e, mesmo assim, a exploração da videira tem aumentado a concentração de cálcio no solo.

O cálcio é um elemento pouco móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência aparecem nas folhas jovens. Essas folhas normalmente são menores do que as normais, com a superfície entre as nervuras cloróticas, com pintas necróticas e tendência a se encurvarem para baixo. Os teores de cálcio considerados normais para a videira varia de 1,6 a 2,4 % , sendo que as plantas retiram cerca de 6 kg de CaO para produzir 1000 kg de frutos.

 

Magnésio

O Mg participa na ativação de várias enzimas e na estabilidade de ribossomas; ele também é um componente do pigmento de clorofila. Mais de 300 enzimas são influenciadas pelo magnésio.

O indicador da disponibilidade de magnésio nos solos é o Mg-trocável, extraído com KCl 1 M. Apesar dos teores de Mg2+ da grande maioria dos solos brasileiros serem baixos, ele também não tem sido problema sério para a videira, pois, como para o cálcio, a utilização de calcário dolomítico para aumentar o pH do solo também aumenta o teor de Mg. Para os solos do RS, teores maiores que 1,0 cmolc/l são considerados altos.

O magnésio é um elemento móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência aparecem nas folhas maduras. Essas folhas apresentam a superfície entre as nervuras cloróticas, que com o agravamento da deficiência vão ficando amareladas, no entanto as nervuras permanecem verdes. Tem-se observado um distúrbio fisiológico chamado dessecamento da ráquis, sendo sua ocorrência mais frequente em anos em que o período de maturação dos frutos é bastante chuvoso e o solo apresenta-se com alto teor de potássio e baixo de magnésio. Os teores de magnésio considerados normais para a videira varia de 0,25 a 0,50 % , sendo que as plantas retiram cerca de 1 kg de MgO para produzir 1000 kg de frutos.

 

Boro

O boro atua no transporte de carboidratos no interior das plantas. Além disso existem evidências de que ele faz parte dos mecanismos hormonais que são responsáveis pelo crescimento das plantas .

O indicador da disponibilidade de boro nos solos é o B extraído com água quente. A grande maioria dos solos do Brasil, cultivados com videira, possuem baixo teor de boro. No RS, frequentemente tem-se observado sintomas de deficiência de B, sendo que os problemas normalmente aparecem em solos cujo teor é menor do que 0,6 mg dm-3. Para os solos do RS considera-se 1,0 mg dm-3 como o nível satisfatório de boro.

A mobilidade do boro nas plantas ainda é muito discutida, principalmente porque os sintomas de deficiência aparecem nas folhas e ramos novos. A característica principal é a redução no tamanho das folhas e encurtamento dos estrenós. Os teores de boro considerados normais para a videira varia de 15 a 22 mg dm-3, sendo que as plantas retiram cerca de 10 g de B para produzir 1000 kg de frutos.

 

 Fotos: George Wellington B. de Melo
    
 Figura 1. Sintomas de deficiência de Magnésio em videira ( esquerda) e mudas de videira com excesso de Cobre ( Direita).