Uva para Processamento
Poda seca
Autores
Alberto Miele - In memoriam
Francisco Mandelli
A poda seca da videira compreende um conjunto de operações que se efetuam na planta, consistindo na supressão parcial do sistema vegetativo lenhoso (sarmentos). Isso é realizado no inverno, durante o descanso vegetativo da videira.
Ao limitar o número e o comprimento dos sarmentos, a poda seca proporciona um balanço racional entre o vigor da planta e a produção, limitando a quantidade de uva produzida e sua qualidade. A videira admite variações na poda, o que pode ser constatado pela diversidade de sistemas de poda seca existentes em várias regiões vitícolas do mundo.
Os principais objetivos da poda seca são: a) limitar o número de gemas para regular e harmonizar a produção e o vigor, de modo a não expor as videiras a excessos de produção que favoreçam baixa frutificação no(s) ano(s) seguinte(s); b) melhorar a qualidade da uva, que pode ser comprometida por uma produção elevada; c) direcionar racionalmente a seiva elaborada para os diferentes órgãos; d) proporcionar à planta uma forma determinada que se mantenha por muito tempo e que facilite a execução dos tratos culturais.
Mesmo que os sistemas de poda seca sejam transmitidos durante gerações de forma empírica ou intuitiva, é importante que o podador conheça as bases racionais nas quais se sustenta a difícil técnica de podar. Alguns dos princípios da poda são: a) a videira normalmente frutifica em ramos do ano, ou seja, que se desenvolvem em sarmentos do ano anterior; b) a frutificação em geral é inversa ao vigor da planta; c) o vigor individual dos ramos é inversamente proporcional ao seu número; d) quanto mais um ramo se aproximar da posição vertical, maior será o seu vigor; e) a videira tem condições de nutrir e maturar de forma eficaz uma determinada quantidade de frutos; f) a gema que proporcionou um broto frutífero não produz novamente, por isso deve ser substituída por outra que ainda não tenha produzido; g) o podador deve selecionar os elementos da poda (varas e esporões) primeiramente pela sua condição (vigor e sanidade) e, após, pela sua posição na planta; h) qualquer que seja o sistema de poda adotado, o viticultor deverá estar atento para que as futuras área foliar e produção de uva tenham as melhores condições de aeração, calor e luminosidade. Portanto, a correta seleção de um sistema de poda não é tão simples como se poderia imaginar, pois deve-se considerar a variedade de uva, as características do solo, a influência do clima e os aspectos sanitários.
Na videira não se distinguem gemas vegetativas e gemas frutíferas, como em muitas espécies frutíferas, mas somente gemas mistas que originam brotos com inflorescências, folhas e gavinhas ou somente folhas e gavinhas. A gema da videira é composta de três primórdios, sendo o principal deles chamado de primário e os outros dois de secundários. As gemas localizam-se nas axilas das folhas, inseridas junto aos nós. Segundo a sua localização no broto, elas são denominadas de gemas: a) francas ou axilares, b) prontas, c) latentes, d) basilares, e) da coroa ou casqueiras e f) cegas.
Figura 1. O sarmento da videira e suas partes. |
Fonte: Chauvet & Raynier, 1979. |
Ilustração: Adriano Mazzarolo |
Figura 2. Poda de formação: A - enxerto ou muda; B - condução da muda; C - desponta; D - condução das feminelas; E - poda seca. |
Ilustração: Adriano Mazzarolo |
Figura 3. Poda de frutificação: A - planta antes da poda, mostrando os sarmentos originados dos esporões e varas deixados no ano anterior; B - planta mostrando as varas e os esporões deixados após a poda; C - brotação das duas gemas do esporão; D - detalhe indicando a posição dos cortes na poda mista de inverno; E - detalhe mostrando a vara e o esporão após a poda. |
Foto: Alberto Miele |
Figura 4. Videira conduzida em espaldeira durante o período de descanso (esquerda) e após a poda seca (direita). |