Ageitec
Uva para Processamento
Poda verde
Conteúdo atualizado em: 27/04/2022
Autores
Alberto Miele - In memoriam
Francisco Mandelli
O manejo do dossel vegetativo é efetuado com o objetivo de complementar a poda seca da videira e de melhorar o equilíbrio entre a vegetação e os órgãos de produção. Nesse sentido, a poda verde constitui-se numa das principais atividades do manejo da vegetação. Ela consiste na remoção de gemas, ramos e folhas quando forem verdes ou herbáceos.
Os objetivos gerais da poda verde na videira são: a) direcionar o crescimento vegetativo para as partes que formarão o tronco e os braços. Isso é feito com a eliminação de gemas, desponta e eliminação de ladrões; b) diminuir os estragos causados pelo vento; e c) abrir a vegetação de maneira a expor as folhas mais favoravelmente à luz e ao ar.
As práticas que constituem a poda verde são a remoção de gemas, a desbrota, o esladroamento, a desfolha, a desponta e o desnetamento.
Desbrota e Esladroamento
A desbrota consiste em suprimir os brotos que se desenvolvem nos troncos e nos braços da videira enquanto que o esladroamento consiste na retirada dos brotos que se desenvolvem no porta-enxerto.
Essas práticas têm como principais objetivos: a) eliminar órgãos frutíferos ou não; b) reduzir os riscos de infecção do míldio; c) reduzir os riscos da fitotoxicidade de herbicidas sistêmicos; d) preparar as operações da poda seca, de maneira a reduzir o tempo necessário para a execução dessa prática; e) auxiliar no estabelecimento das plantas como complemento da formação de inverno.
A remoção de gemas inchadas ou de brotos da parte inferior do tronco de uma planta jovem é realizada com o intuito de concentrar o crescimento em um ou mais ramos situados na parte superior, os quais formarão os braços da videira. Nas plantas mais jovens deve-se deixar apenas a gema superior, a fim de concentrar o crescimento no único ramo que formará o tronco da videira.
A remoção dos ladrões geralmente é feita manualmente, entre os períodos de brotação e floração da videira, em uma ou mais vezes se necessário. Se houver disponibilidade de mão de obra, o esladroamento deve ser realizado o mais cedo possível. De um modo geral, essa prática deve ser feita nos três primeiros anos para evitar o surgimento de ladrões a partir do quarto ano.
Desfolha
A desfolha consiste na eliminação de folhas da videira, principalmente as situadas próximas aos cachos. Essa prática tem como principais objetivos: a) aumentar a temperatura, a insolação e a aeração na região dos cachos; b) melhorar a coloração e a maturação das bagas; c) reduzir a incidência das podridões do cacho; d) favorecer o acesso aos cachos das pulverizações tardias contra as podridões do cacho.
A desfolha, da mesma forma que a desponta, deve ser feita com cuidado, pois se for inadequada pode comprometer a atividade fotossintética da planta. Deve ser feita durante o pegamento do fruto se os objetivos forem os de dar melhores condições para a maturação da uva e de diminuir as condições de incidência de Botrytis. Mas, se o objetivo for acelerar a maturação ela deve ser feita poucos dias antes da colheita da uva, evitando-se a incidência de radiação solar diretamente nos cachos. Saliente-se que, em qualquer caso, devem-se eliminar somente as folhas muito desenvolvidas, as mais velhas, para não comprometer o fornecimento de nutrientes para o cacho.
Desponta
A desponta consiste na eliminação de uma parte da extremidade do ramo em crescimento. Essa prática tem como principais objetivos atuar nos seguintes efeitos: a) fisiológico – diminuir a incidência do desavinho em variedades susceptíveis a este distúrbio fisiológico; b) prático – facilitar a penetração de materiais e de produtos fitossanitários, o que não seria tão facilmente realizado com uma vegetação densa; c) sobre o microclima dos cachos - melhorar as condições de insolação e de aeração através da redução da sombra; d) sobre a sensibilidade às doenças - eliminação de órgãos jovens susceptíveis à infecção de doenças, especialmente o míldio; e) sobre a morfologia da planta – manter um porte ereto dos ramos no vinhedo conduzido em espaldeira, antes que adquiram uma posição em direção ao solo.
A desponta deve ser feita manualmente durante a floração, repassando duas ou três vezes se necessário. Quando realizada muito cedo, ela pode estimular o desenvolvimento das feminelas, o que aumenta o efeito da competição por nutrientes; se praticada muito tarde, não apresenta efeito sobre o pegamento do fruto.
A intensidade da desponta não deve ser muito severa, pois pode causar um importante efeito depressivo na videira. De um modo geral, recomenda-se suprimir em torno de 15 cm do ramo. Supressões mais severas, ou seja, de 30 a 60 cm, podem causar os problemas acima mencionados.
Foto: Alberto Miele |
Figura 1. Parte de dossel vegetativo de videira conduzido em latada, antes da desbrota (esquerda) e após a desbrota (direira). |