Em virtude da grande importância de algumas culturas agrícolas para o Estado de São Paulo e para o país, como citros, café, milho, soja, mandioca e brachiaria além de outras plantas de interesse ecológico como xaxim (Dicksonia) e cacto (Opuntia ficus-indica), vem sendo estudado o possível impacto que os endofíticos podem representar na produtividade e, especialmente, na fixação de N_2, no controle de pragas, entre outros, e por isso tona-se necessário o isolamento e estudos desses endófitos, tanto do ponto de vista morfológico/fisiológico, como de diversidade e riqueza de espécies. Além disso, o aproveitamento e exploração desses microrganismos pode significar ganhos reais na produtividade, haja vista a aplicação desses microrganismos na promoção de crescimento de plantas, na fixação biológica de nitrogênio, no controle biológico, na produção de agentes anticancerígenos e como vetores de genes de resistência, entre outros.

Assim, foram  selecionadas as culturas acima mencionadas de importância agrícola e ecológica - no caso de Dicksonia - para o levantamento de microrganismos endofíticos. Por sua vez, os estudos com endofíticos de Dicksonia (xaxim ou samambaia-xaxim) deve-se à importância dessa planta no ecossistema da Mata Atlântica.

Estudos já realizados demonstrou a possibilidade de se cultivar a Dicksonia em estufas, por propagação vegetativa. Nestas condições e, utilizando técnicas diversas como sombrite, alta umidade e plasticultura, tem-se  conseguido redução no tempo de desenvolvimento de Dicksonia. Enquanto relatos indicam que na natureza o desenvolvimento ocorre em um tempo longo que pode chegar até 80 anos para que as plantas atinjam grandes tamanhos, em condições de estufas, isto pode ser conseguido em cerca de 1/10 deste tempo utilizando-se as técnicas acima mencionadas. Há assim, a possibilidade de se multiplicar e desenvolver as samambaias em menos tempo e devolvê-las às condições naturais, recompondo desta maneira, a população que está desaparecendo. 

Entretanto, é imprescindível verificar a microbiota endofítica do gênero nas duas diferentes condições, pois diferenças podem levar a uma maior dificuldade de transferência e adaptação de um local para outro. A literatura sobre a microbiota endofítica de Pteridófitas é extremamente reduzida e inexistente no Brasil. 

Foto: Itamar Soares de Melo 

Figura 1. Bactérias endofíticas

Quanto a importância de endofíticos de mandioca, ressalta-se que as etnovariedades de mandioca representam uma forma de recurso genético que deve ser preservada e conservada, pois, será utilizada pelos melhoristas em programas de melhoramento no futuro. A mandioca é uma das principais espécies cultivadas por agricultores das regiões tropicais. Nesse contexto, o conhecimento dos microrganismos endofíticos associados, é importante para se resgatar possíveis perdas e inoculá-los em plantas não adaptadas, como também visar a proteção contra pragas.

O cacto (Opuntia ficus-indica) se desenvolve em solo desértico, com altas temperaturas e baixas taxas pluviométricas. Tem sido sugerido como espécie ideal para recuperação de solos em processo de desertificação. Acredita-se que a associação de microrganismos simbióticos ou diazotróficos com fungos micorrízicos, bactérias de vida livre, fixadoras de nitrogênio e endofíticas possa favorecer seu crescimento em habitats extremos. Isolamentos foram feitos de plantas de palma crescendo em solos secos do sertão brasileiro (Estado da Paraíba) e de plantações comerciais em Valinhos, SP. Foram encontrados mais de 100 fungos e 180 bactérias em exemplares coletados nas cidades de Valinhos-SP, Queimados-PB, Taperoá-PB e Patos-PB. Cerca de 30% destes crescem em meio livre de nitrogênio. Dezesseis linhagens de Bacillus sp. isolados de palma foram identificadas, sendo B. subtilis a espécie predominante, as demais foram B. mojavensis, B. amyloliquefaciens, B. atrophaeus, B. licheniformis e B. amiliensis. Uma grande população de Bacillus sp. também foi isolada da rizosfera dessa planta em regiões com baixa precipitação.

Foto: Itamar Soares de Melo 

Figura 2. Bacillus colonizando um pelo radicular de algodão. Linhagem bacteriana endofítica usada no biocontrole de doenças