Agricultura e Meio Ambiente
Agrobiodiversidade
Autores
Maria Aico Watanabe - Consultora autônoma
Lucimar Santiago de Abreu - Embrapa Meio Ambiente
Com a finalidade de avaliar o impacto da agrobiodiversidade sobre a qualidade da alimentação das famílias dos agricultores familiares de Ouro Preto d’Oeste/RO, e de estabelecer uma relação entre a diversificação das culturas e da criação animal com a possibilidade das famílias dos agricultores familiares contarem com dieta diversificada, com múltiplas opções quanto a fonte de calorias, proteínas, sais minerais e vitaminas, foi realizada uma pesquisa com 50 agricultores estabelecidos nessa cidade no ano de 2005.
As culturas anuais cultivadas são: arroz, feijão, milho, mandioca, abacaxi e cana-de-açúcar. As culturas perenes cultivadas são: laranja, manga, caju, banana, cacau, café, mamão, abacate, pupunha, cupuaçu e coco. Destas, a laranja, manga, caju e abacate são destinados ao auto-consumo; a banana, mamão, pupunha, cupuaçu e coco têm destino tanto para auto-consumo como para comercialização; o café e o cacau são tipicamente culturas comerciais. As culturas anuais são destinadas, principalmente, ao auto-consumo, com comercialização do excedente.
Quanto às culturas foi verificado por meio de fórmulas estatísticas que os índices anuais variaram entre 0 (apenas uma cultura) a 0,6025, com a média de 0,2140. Nas culturas perenes, os resultados variaram de 0 (apenas uma cultura) a 0,5757, com média de 0,2264. Com relação a criação animal, os índices variaram entre 0 (apenas uma espécie de animal) a 0,4986, com média de 0,2892. Em 13 das propriedades entre as 42 que declararam ter culturas anuais com área conhecida, existia apenas uma espécie de planta cultivada. No entanto, todas essas 13 propriedades tinham culturas perenes diversificadas.
Foto: Arquivo Embrapa meio Ambiente
Figue 1. Agricultores familiares recebem orientações em Dia-de-Campo
A agrobiodiversidade observada nas culturas anuais, perenes e criação animal, bem como produtos obtidos dos roçados e quintais (hortaliças e legumes) permitem às famílias uma alimentação variada e rica em fonte de calorias, provenientes do consumo de arroz, feijão, milho e mandioca; em fonte de proteínas provenientes do consumo de ovos e carne de aves e suínos, leite e derivados; e em fonte de sais minerais e vitaminas provenientes das verduras, legumes e das numerosas espécies de frutas.
Esses resultados distinguem a dieta da comunidade estudada, da dieta das populações dos ribeirinhos dos estados do Pará e Amazonas, e dos seringueiros do Acre. A dieta dos primeiros é constituída principalmente de farinha de mandioca, peixe e açaí (nos locais em que ocorre a palmeira), e a dieta dos segundos, é feita à base de farinha de mandioca, arroz, feijão, carne de galinha e frutas regionais. Nas comunidades de ribeirinhos e seringueiros, as verduras, legumes, e frutas são raramente consumidas, havendo complementação da dieta com carne de caça.
Em relação à procedência dos agricultores de Ouro Preto d’Oeste, a pesquisa indica que 72,5% vieram como migrantes dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, onde as fruteiras, com exceção da pupunha e do cupuaçu, já são tradicionalmente cultivadas. Na pesquisa foi, também, observada a manutenção de roçados (familiares ou comunitários) e quintais em volta das casas, que são fornecedores de hortaliças, legumes e plantas medicinais.
O hábito de cultivar roçados e quintais além das fruteiras mencionadas foi levado a Rondônia por esses migrantes, que se ocuparam de preservar e perpetuar esse costume agronômico na nova terra.