Sensibilidade ambiental

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

Lauro Charlet Pereira - Embrapa Meio Ambiente

 

Nas últimas décadas, a questão ambiental passou a assumir grande importância no contexto nacional e internacional, com envolvimento direto das instituições de pesquisa e da sociedade como um todo. Alguns pontos tornaram-se mais explícitos e necessários, dentre os quais, com grande relevância, surgiu a necessidade da incorporação do componente ambiental nos processos de avaliação e uso das terras.

Estudos relacionados à sensibilidade ambiental, cuja visão central aponta para os aspectos de vulnerabilidade ou estabilidade das áreas, devem merecer especial atenção, principalmente quando se trata de desenvolvimento sustentável e qualidade ambiental.

Em termos de avaliação de sensibilidade ambiental, há duas linhas metodológicas básicas utilizadas no Brasil. Uma, que segundo J. Tricarti, adota princípios da ecodinâmica, e estabelece diferentes categorias de estabilidade ou instabilidade ambiental, com base na morfogênese e pedogênese. A outra, que segundo J. Bertoni e outros, refere-se à Equação Universal de Perda de Solo – EUPS. Esta equação considera dois conjuntos de fatores (naturais e antrópicos), que pelo processo multiplicativo entre eles, resulta numa perda anual de solos, por unidade de área (Mg.ha-1. ano-1). A EUPS tem sido utilizada para diferentes finalidades, como: quantificação de perdas de solo e água, estimativa de erosão e seus impactos, diagnóstico ambiental, índice de vida de solos, simulação de cenários ambientais, avaliação de fragilidade de terras, dentre outras.

Como estudo de caso, avaliou-se a sensibilidade ambiental de uma área localizada na região nordeste do Estado de São Paulo, no nível tecnológico B (nível médio), como subsídio ao planejamento e gestão agrícola sustentáveis.

A área de estudo, localizada à nordeste do Estado de São Paulo, possui extensão de 276.451ha e delimita-se pelas seguintes coordenadas geográficas: 21° 00’ a 21° 30’ de latitude Sul e 47° 30’ a 48° 00’ de longitude Oeste. Abrange, total ou parcialmente, 17 municípios de elevada expressão econômica no Estado. A metodologia utilizou-se da Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS) e do Fator Tolerância de perda de solo (T), gerando o Índice de Fragilidade (IF), que permitiu a identificação de cinco classes de sensibilidade ambiental, identificado por Lauro C. Pereira. A partir da EUPS na Equação 1, obteve-se as perdas de solo anual, considerando-se o nível tecnológico intermediário (nível B), conforme demonstra Lauro C. Pereira.

             A = R . K . L . S . C . P                                                             (1)

A = perda de solo (Mg.ha-1. ano-1); R = erosividade (MJ.mm/ha.h); K = erodibilidade (Mg.h/MJ.mm);

L = comprimento do declive; S= grau do declive (%); C = uso e manejo; P = práticas de conservação

 

Os valores de tolerância média de perdas de solo foram calculados com base em características morfopedológicas, drenagem interna dos solos, maior ou menor contraste textural entre horizontes pedogenéticos, dentre outras.

O Índice de Fragilidade (IF) foi obtido a partir da divisão entre perdas de solo pela sua tolerância às perdas, conforme a Equação 2, permitindo o estabelecimento de cinco classes de sensibilidade, conforme Tabela 1.

           IF = A / T                                                                                (2)

Onde: IF = Índice de Fragilidade; A = Perda de solo; T = Tolerância à perda de solo

 

Tabela 1. Índice de Fragilidade do solo e classes de  Sensibilidade Ambiental

 

Índice de Fragilidade (IF)

 

Classes de sensibilidade ambiental

< 1 vez a tolerância

Muito estável

1 – 2 vezes a tolerância

Estável

2 – 5 vezes a tolerância

Moderadamente estável

5 – 10 vezes a tolerância

Frágil

> 10 vezes a tolerância

Muito frágil

Fonte: Lauro C. Pereira

 

Verificou-se que cerca de 61% da área (168.945 ha), caracterizadas por índice de fragilidade (IF) muito baixo e baixo, foram classificadas como muito estável e estável, projetando riscos de degradação variando de muito baixo a baixo (Tabela 2). Considerando que o nível de manejo B contempla apenas padrões médios de tecnologia, insumos e capital, é provável que esta dominância de áreas com fragilidade muito baixa e baixa, deva-se muito mais às boas condições fisiográficas da área do que à proteção dada pelo sistema de manejo adotado.

A classe de sensibilidade ambiental moderadamente estável, que caracteriza risco de degradação intermediário, totalizou cerca de 14% da área (39.332 ha).

 Tabela 2. - Índice de fragilidade de solos e sensibilidade ambiental (nível de manejo B).

 

Índice de Fragilidade

(IF)

Classe de sensibilidade ambiental

Risco de degradação ambiental

Área

 

hectare

 

%

< 1 vez a tolerância

Muito Estável

Muito baixo

   131.854,8

47,7

1 – 2 vezes a tolerância

Estável

Baixo

37.090,3

13,4

2 – 5 vezes a tolerância

Mod. Estável

Médio

39.331,6

14,2

5 – 10 vezes a tolerância

Frágil

Alto

16.215,7

  5,9

> 10 vezes a tolerância

Muito Frágil

Muito alto

41.598,1

15,1

Área urbana

--                                     --

--                                     --

 8.893,4

  3,2

Corpos d’água                    

 1.467,4

  0,5

Área Total 

   276.451,3

     100,0

Fonte: Lauro C. Pereira


As classes de sensibilidade ambiental frágil e muito frágil, em conjunto, representaram cerca de 21 % da área  (57.814 ha). Tratam-se de áreas que traduzem sérios problemas ambientais, caracterizadas por condições muito adversas de solo e/ou relevo (solos suscetíveis à erosão e relevo forte ondulado), sendo  merecedora de atenção especial em qualquer planejamento agroambiental.

A partir dos resultados, foi possível estabelecer as seguintes conclusões:

·         A classificação da sensibilidade ambiental revelou que a maior parte da área estudada (cerca de 61%) apresentou baixo risco de degradação (classes estável e muito estável).

·         O estudo de sensibilidade ambiental fornece valiosos instrumentos e/ou informações que podem servir de bons subsídios para um planejamento equilibrado, resultando numa gestão em bases mais sustentáveis.

Foto: Maria Aico Watanabe 

 Abóbora orgânica

Figura 1. Plantação de abóbora com proteção do solo