Agricultura e Meio Ambiente
Biomonitoramento
Autor
Mariana S. Guerra Moura e Silva - Consultora autônoma
O biomonitoramento é uma maneira de avaliar a “saúde” de ecossistemas aquáticos e, conseqüentemente, a qualidade de suas águas. Esta técnica consiste no uso sistemático de respostas biológicas para avaliar mudanças ambientais (geralmente antropogênicas, ou seja, provocadas pelo homem) com o objetivo de utilizar esta informação em um programa de controle de qualidade. Em ecossistemas aquáticos, as mudanças ambientais nos parâmetros físicos e químicos, decorrentes de despejos domésticos, agrícolas e industriais, causam alterações na estrutura do conjunto de seres vivos habitantes do corpo hídrico. Entretanto, essas alterações não podem ser adequadamente descritas simplesmente pela mensuração de todos os parâmetros físicos e químicos que caracterizam o sistema.
As interações bióticas são também muito importantes. Listagens de espécies, densidades populacionais, mudanças sazonais no conjunto de populações dos ecossistemas aquáticos e diversidade da comunidade em condições naturais (não poluídas) são informações necessárias para avaliar as mudanças na qualidade da água com bases biológicas.
Ao se aplicar o biomonitoramento, é preciso haver uma seleção criteriosa das ferramentas nele utilizadas, isto é, escolher bem os chamados bioindicadores. Os macroinvertebrados bentônicos são animais que vivem associados ao fundo de rios, lagos, lagoas, reservatórios em pelo menos uma fase de seu ciclo vital e são retidos por tamanho de malha de 200 a 500 micrômetros. Este grupo é composto por vermes, crustáceos, moluscos e insetos. Eles constituem uma importante fonte alimentar para os peixes, são valiosos indicadores da degradação ambiental, além de influenciarem na ciclagem de nutrientes, na produtividade primária e na decomposição. Por apresentarem vantagens sobre a avaliação físico-química, tais como, serem relativamente sedentários e estarem localizados nos sedimentos e, também por serem capazes de registrar um longo tempo de impactos e testemunhar os efeitos de diversos poluentes, estes animais têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade de água no monitoramento de reservatórios, trechos de importantes bacias hidrográficas sob diferentes níveis de impacto antrópico e na saúde de ecossistemas.
Foto: Júlio F. de Queiroz
Figura 1. Tratamento de águas
Ainda assim, vale destacar que a avaliação por meio do biomonitoramento deve ser feita em conjunto com a avaliação físico-química, uma vez que os organismos respondem a fatores abióticos. Outras vantagens de seu uso são a ubiqüidade, ou seja, podem responder a perturbações em todos os ambientes aquáticos e em todas as épocas do ano; e as metodologias de coleta são simples e de baixo custo, o que é interessante para países em desenvolvimento.
O biomonitoramento feito através do uso de macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores é cada vez mais usado e aceito como uma importante ferramenta na avaliação da qualidade da água, embora ainda haja carência no conhecimento taxonômico da fauna brasileira, o que dificulta o desenvolvimento e a aplicação desta técnica pelos órgãos ambientais.
Em virtude de sua grande biodiversidade, há espécies que toleram impactos como desmatamento da mata ciliar, assoreamento, eutrofização e poluição em geral; já outras espécies são sensíveis a esses impactos, desaparecendo ou diminuindo o seu número nos ecossistemas aquáticos. Atualmente, a Embrapa Meio Ambiente está desenvolvendo projetos de pesquisa com base no uso de organismos bentônicos para avaliar os impactos ambientais de diversas atividades agropecuárias, industriais e urbanas sobre os corpos hídricos.