Bioma Caatinga
Subterrânea
Autores
Luiza Teixeira Lima Brito - Consultora autônoma
Lúcio Alberto Pereira - Embrapa Semiárido
Roseli Freire de Melo - Embrapa Semiárido
Disponibilidade hídrica subterrânea
Na região Nordeste, 70% do subsolo é cristalino, porém, há vários pontos de área sedimentar que podem ser explorados para o abastecimento local. Quatro grandes reservas de água subterrânea conhecidas são: a Bacia Tucana (Tucano-Jatobá), na divisa da Bahia com Pernambuco, a Chapada do Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Piauí, a Chapada do Urucuia e a Chapada do Irecê, na Bahia.
Objetivando reduzir as irregularidades climáticas, essas águas também são utilizadas para produção de alimentos. Embora esses tipos de água só devam ser usados ocasionalmente, a sua utilização contínua poderá contribuir para salinização do solo. Nessas condições, deve-se questionar o que causa maior impacto na produção: se os efeitos do estresse hídrico na cultura ou o efeito da salinidade da água utilizada na irrigação suplementar.
Com vistas ao consumo humano, a Organização Mundial de Saúde - OMS e o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, por meio da Resolução No. 357, de 17 de março de 2005, dispõem sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelecem as condições e padrões de lançamento de efluentes e classificam as águas quanto ao teor de sais como: água doce (água com salinidade igual ou inferior a 0,50%o); água salobra (águas com salinidade superior a 0,5%o e inferior a 30%o) e água salina (água com salinidade igual ou superior a 30 %). A limitação dessas águas para o consumo animal está associada, principalmente, àquelas que apresentam elevados teores de sais de magnésio, que podem causar distúrbios gastrointestinais.
No contexto do uso de águas salinas para produção de alimentos, por meio da irrigação, devem-se analisar as condições em que essa água será utilizada. Em geral, a água pode estar adequada para uso em determinadas condições e não em outra. Desse modo, a análise da adequabilidade da água deve estar relacionada a fatores condicionantes, como: características do solo; tolerância da cultura; condições climáticas e o manejo da irrigação e da drenagem.
As águas de irrigação devem ser avaliadas com base nos principais problemas que estas podem causar ao ambiente e às culturas, sejam: salinidade, infiltração, toxicidade de íons específicos e outros problemas.
- Salinidade - O efeito da salinidade é de natureza osmótica reduzindo a disponibilidade da água para as plantas afetando o seu rendimento. A salinidade elevada afeta o desenvolvimento da planta devido ao aumento de energia gasto para a absorção d’água do solo e ao ajustamento bioquímico necessário para resistir ao estresse hídrico.
- Infiltração da água - As alterações nas propriedades físico-químicas do solo causadas pelos altos teores de sódio, ou baixos de cálcio no solo e água, reduzem a velocidade de infiltração d’água no solo impedindo muitas vezes que as raízes recebam suficientes quantidades de água.
- Toxicidade de íons específicos - Diz respeito a certos íons (sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, que em certas concentrações podem provocar danos e afetar os rendimentos das culturas sensíveis, independentemente do efeito osmótico.
Outros problemas - Os excessos de nutrientes reduzem os rendimentos das culturas e/ou sua qualidade. Manchas nas frutas ou folhagem prejudicam a comercialização dos produtos. Também, deve-se atentar para o perigo de corrosão e ou entupimento nos equipamentos de irrigação, incluindo motobomba, conexões e tubulações. Com o objetivo de utilizar o potencial de água subterrâneas no Semiárido brasileiro, o governo federal implementou ações, juntamente com o programa Fome Zero, visando aumentar a oferta e democratizar o acesso à água de boa qualidade para o consumo humano, por meio do programa Água Doce.
O programa Água Doce tem como principal objetivo a recuperação e a instalação de dessalinizadores para fornecer água potável às famílias, associando-os à implantação de sistemas produtivos locais para aproveitamento do efluente resultante do processo de dessalinização, que contém elevados teores de sais. Neste sentido, a Embrapa Semiárido e instituições parceiras vêm desenvolvendo um sistema produtivo integrado para aproveitamento dos efluentes do processo da dessalinização tanto na piscicultura quanto na irrigação de plantas forrageiras. Além de assegurar a saúde da população, os sistemas integrados ajudam a fomentar a renda. Após separar a água potável, o efluente com alto teor de sal é despejado em tanques para criação de tilápia rosa, que se desenvolve em águas salobras. Em seguida, no processo de renovação da água dos tanques, esta água enriquecida com matéria orgânica é utilizada para irrigar plantas resistentes à salinidade, como, por exemplo, a erva-sal (Atriplex nummularia), que é utilizada na produção de feno para alimentação de ovinos e caprinos, principalmente durante o período de estiagem, evitando, assim que esse efluente seja despejado no solo sem qualquer tratamento, o que é benéfico para a preservação do ambiente.