Manejo Florestal
Comunitário
Autores
Claudenor Pinho de Sá - Consultor autônomo
Luciano Arruda Ribas - Embrapa Acre
Luís Claudio de Oliveira - Embrapa Acre
Durante muitos anos, o manejo florestal sustentável comunitário foi um grande tabu na engenharia florestal brasileira. A justificativa mais comum para não se pesquisar este modelo era a inviabilidade econômica do processo, considerando que empresas madeireiras para se tornarem competitivas, necessitam de equipamentos caros como trator de arraste, incompatíveis com a renda do pequeno produtor e tamanho da área. Na busca de soluções para a questão, há cerca de dez anos, um grupo de pesquisadores da Embrapa Acre e Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC), debruçaram-se pela primeira vez sobre questões como: extrair madeira da floresta nativa sem utilização de equipamentos caros; incluir esta atividade junto às outras atividades agrícolas do pequeno produtor; e realizar esta atividade de forma sustentável do ponto de vista ambiental e econômico.
Em 1995, a Embrapa Acre instalou o primeiro modelo de manejo florestal comunitário do Estado no Projeto de Colonização Agrícola Pedro Peixoto, nos ramais Granada e Nabor Júnior. A concepção inicial baseou-se na observação da viabilidade do método tradicional de exploração de florestas inundáveis (várzeas e igapós) e de terra firme no Amazonas e Pará. Este sistema de uso da terra vem garantindo a subsistência e fixação à terra de milhares de famílias através de gerações não apenas no Estado do Amazonas, mas em toda Amazônia.A experiência no projeto de manejo florestal do PC Peixoto, em execução desde 1996, com a produção sustentada de madeira em pequena escala tem demonstrado ser uma solução viável para a incorporação das áreas de Reserva Legal ao sistema produtivo da propriedade, gerando uma importante fonte adicional de renda aos produtores e garantindo a manutenção da estrutura e biodiversidade da floresta.
A legislação brasileira determina que a cobertura florestal original deve ser preservada em 80% da área das propriedades rurais da Amazônia sob a forma de Reserva Legal. Segundo a lei, estas áreas somente podem ser utilizadas para o manejo florestal sustentado e o extrativismo tradicional.Essa medida visa a manutenção dos ecossistemas florestais. A existência da lei não tem sido suficiente para evitar que áreas de Reserva Legal continuem sendo derrubadas e queimadas para implantação da agricultura e da pecuária. Na maioria das vezes, os sistemas de cultivo utilizados levam ao rápido esgotamento da terra, ocasionando o avanço dos produtores sobre a floresta, vista como improdutiva e excluída do sistema de produção da propriedade, enquanto não convertida a projetos agropecuários.No passado, a falta de uma política de ocupação e uso da terra na Amazônia, que promovesse o uso florestal da propriedade, levava os produtores a usar a floresta para se capitalizar, comercializando, a baixos preços, a madeira de suas propriedades para desenvolver outras atividades. Hoje, com as técnicas de manejo florestal, é possível tornar a área de Reserva Legal produtiva, gerando produtos de forma contínua e sustentável. Assim, a floresta passa a ser mais uma fonte de renda para o produtor. Praticando o manejo florestal em sua propriedade, o pequeno produtor colabora com a manutenção do ambiente exercendo uma atividade econômica ambientalmente correta.
MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL
O manejo florestal sustentável pode ser definido como uma atividade econômica que utiliza os recursos florestais (madeira e produtos não madeireiros), ao mesmo tempo em que os preserva para as gerações futuras, produzindo continuamente benefícios econômicos e sociais com poucas modificações ao ambiente. Esta atividade foi pensada como uma forma cuidadosa de retirar, beneficiar e comercializar a madeira e outros recursos da floresta, sem causar grandes danos, ao mesmo tempo em que permite a sua recuperação. Além da madeira, o manejo florestal também pode ser pensado para os outros recursos existentes, como por exemplo, óleo de copaíba, castanha, borracha, bambu (taboca), sementes florestais, etc.
Para a prática correta do manejo florestal, deve-se considerar a capacidade que a floresta possui para repor as quantidades de produtos que são retirados. Quando há excessiva retirada pode haver comprometimento da capacidade da floresta se recompor. Assim, a retirada de produtos não deve ser maior que a capacidade de “crescimento” da floresta. No caso da madeira, estudos realizados na Amazônia indicam que a floresta manejada é capaz de “crescer”, ou repor a quantidade retirada, aproximadamente 1,0m3/ha/ano. Deste modo, quando se planeja o manejo florestal para madeira recomenda-se não retirar além 1,0m3/ha/ano.
VANTAGENS DE SE PRATICAR O MANEJO FLORESTAL
1. Faz com que toda a área (incluindo a Reserva Legal) da propriedade seja produtiva.
2. É uma atividade de longo prazo, passando de pai para filho.
3. Alternativa de renda para o pequeno produtor.
4. Atividade de baixo custo, sendo o investimento inicial pequeno e acessível ao produtor.
5. Possibilita o envolvimento de toda a comunidade (incluindo mulheres e jovens) em várias atividades do manejo.
6. Os ciclos de manejo são curtos, com retornos econômicos constantes e danos ambientais a floresta reduzidos.
7. Conserva a estrutura e biodiversidade da floresta mantendo os seus serviços ambientais (equilíbrio climático e hídrico, conservação de animais e plantas, proteção do solo, etc.).
8. Novo modelo de desenvolvimento rural para a Amazônia, podendo ser combinado com agricultura, pecuária e outras atividades.
9. Produz madeira para atender as necessidades da propriedade (galpões, cercas, chiqueiros, etc.).
10. A floresta passa a ser uma ‘”poupança” da propriedade, podendo ser utilizada anualmente sem o risco de acabar.