Solos

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

Walder Antonio Gomes de Albuquerque Nunes - Embrapa Agropecuária Oeste

 

A região Sudoeste do Brasil Central, aqui delimitada pelo quadrilátero formado pelas coordenadas 54°45’ W – 49°15’ W e 16°30’ S - 19°30’ S, é um importante divisor de águas, onde ocorrem algumas das principais nascentes dos rios Araguaia, Paraná e Paraguai. O Rio Paranaíba, ao centro-sul, é, no entanto, o principal coletor de drenagem da região, recebe no extremo nordeste da área, os rios Corumbá, Meia Ponte e dos Bois; a noroeste sua área de captação estende-se através do rio Verde, até próximo à cabeceira dos Rios Araguaia e Taquari, onde se verifica a maior aproximação entre as três grandes bacias (do Paraná, do Araguaia e do Paraguai).

O relevo regional é favorável ao uso de mecanização agrícola, sendo predominantemente plano e suave ondulado. A área apresenta Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná que se assentam sobre rochas dos Grupos São Bento (Formação Botucatu, Formação Serra Geral) e Bauru. Nas partes mais elevadas, extensos chapadões estendem-se sobre sedimentos inconsolidados, onde se verificam a ocorrência de Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos e Areias Quartzosas sobre as rochas do Grupo Bauru e os sedimentos terciários. A oeste ocorre o Planalto dos Guimarães (Alcantilados) que se assenta sobre rochas das Formações Furnas, Ponta Grossa e Aquidauana, desenvolveram Latossolos VermeIho-Amarelos, de textura arenosa, e Areias Quartzosas. A Depressão do Araguaia, superfície rebaixada e dissecada, de onde emergem relevos residuais, foi esculpida em rochas predominantemente pré-cambrianas e, secundariamente, devonianas, permocarboníferas e cretácicas. Embora predominem os Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos, ocorrem em proporção menor Cambissolos, Latossolos Vermelhos e outros.

Os Latossolos Vermelhos perfazendo cerca de 35% da área dessa região são, portanto, os de ocorrência mais expressiva. Ocupam áreas do Triângulo Mineiro (excetuando-se as áreas com Latossolo Vermelhos Férricos), os interflúvios dos afluentes do rio Paranaíba. São, no geral, profundos e muito profundos, bem drenados e acentuadamente drenados, friáveis, bastante porosos. A estrutura pequena e granular lhes confere um aspecto maciço, sendo pouco susceptíveis à erosão. Ocorrem, nessa região, em relevos plano e suave ondulado, em diferentes níveis de altitude, muitos deles formando relevos residuais, com bordas escarpadas, chamados "chapadas", quando são argilosos a muito argilosos (com 43-90% de argila), com destaque para os óxidos de ferro e alumínio em sua constituição. Apresentando baixas CTC e saturação de bases, requerem, obrigatoriamente, o emprego de técnicas de correção da fertilidade (calagem e adubação). Quando originados de arenito (Grupo Bauru), possuem textura média, com teores de argila variando entre 12 e 31% (predominando valores <25%) e, saturações por alumínio superiores a 50%. Apesar da fertilidade sofrível, exibem boas condições físicas para a mecanização em função da textura leve e do relevo plano a suave ondulado.

Os Latossolos Vermelhos Férricos (antes chamados de Latossolos Roxos) são muito profundos, acentuadamente ou fortemente drenados, muito porosos e permeáveis devido à sua estrutura granular. Apresentam teor de óxidos de ferro relativamente elevado (> 18%) e coloração fortemente avermelhada, por vezes sanguínea. A capacidade de troca catiônica (CTC) não chega a ser elevada, a reserva e retenção de nutrientes é relativamente baixa e tendem a apresentar níveis satisfatórios de micronutrientes em condições naturais, em que apresentam bom suprimento de cálcio e magnésio, sendo deficientes em fósforo e potássio. Expressiva presença caulinita e de óxidos de ferro, que fixam o fósforo, tornando-o pouco disponível às plantas. Ocorrem em uma grande área contínua na Bacia do Paraná, abrangendo o sul de Goiás e o Triângulo Mineiro, tendo como limite norte a cidade de Acreúna-GO, Rio Verde-GO a Oeste, Jovânia-GO, Buriti Alegre-GO, Itumbiara-GO e Centracina-GO a leste e Capinópolis-MG e Ipaçu-MG ao sul. Além dessa área, há manchas menores e geralmente localizadas junto aos rios (1 a 2 km de cada margem), com destaque para o entorno de Recolândia-GO (ribeirões Invernadinha e Bonfim), Montividiu-GO (Rios Montividiu e Verde), Jataí-GO (Rios Claro e Ariranha), Aparecida do Rio Doce-GO (Rio Doce), no vale do rio Corrente, Cassilândia-MS (Rio Aporé), Costa Rica-MS (Rio Sucuriú), Ituiutaba-GO (Rio Tijuco), proximidades de Uberlândia-MG, Pires do Rio-GO, Nerópolis-GO, Petrolina de Goiás-GO, Araguari-MG, Paranaíba-MS (Rio Paranaíba), vale do Rio Sucuriú-MS e outras de menor expressão. No total, estima-se que os Latossolos Vermelhos Férricos correspondam a cerca de 10% da região aqui definida como Sudoeste do Brasil Central.

Os Neossolos Quartzarênicos (antigos Areias Quartzosas álicas e distróficas) são arenosos (<12% de argila), muito profundos, pouco desenvolvidos, excessivamente drenados, originados principalmente a partir de arenitos das formações Aquidauana, Botucatu e Grupo Bauru, sendo encontrados em paisagens formadas no Planalto Norte (setentrional) da Bacia do Paraná, Planalto do Guimarães e Depressão do Araguaia, sob cobertura vegetal original de Savana. Abrangem cerca de 20% da área em questão. Apresentam baixa CTC, baixa fertilidade natural (distróficos), com teores muito baixos de cálcio, magnésio e fósforo, e na sua grande maioria possuem alumínio trocável alto e nocivo para a maioria das culturas (álicos), variando de fortemente a moderadamente ácidos, alta lixiviação, baixa retenção de umidade e excessivamente drenados em função de apresentarem teores de areia em torno de 90%. Dessa forma, são pouco utilizados com agricultura, sendo a sua utilização restrita à pecuária, bem como com reflorestamento de eucalipto. Iniciativas de uso com alta tecnologia podem tornar esses solos produtivos, contando com uso de irrigação e correção das fortes deficiências de fertilidade em condições naturais.