Sistema Plantio Direto
Do Convencional para o SPD
Autores
Pedro Luiz de Freitas - Embrapa Solos
Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos
O Sistema Plantio Direto (SPD) é um macroprocesso (conjunto de técnicas que interagem entre si) que se adotado corretamente trará muitos benefícios ao estabelecimento rural e ao seu entorno. Mas para que tais resultados sejam obtidos é necessário mudar a maneira de pensar e de tratar a terra. Para a correta implantação e condução do SPD tem-se que: reorganizar a propriedade, reavaliar as condições internas e externas para a produção e, sobretudo, estar consciente de que as decisões terão reflexos a médio e longo prazos.
O SPD requer um tempo de aprendizado e adaptação. A duração desse período variará entre quatro a seis anos, dependendo das condições do estabelecimento rural (físicas e culturais) e da região onde este se localiza. O produtor rural deve estar esclarecido e consciente de que a adoção do SPD:
- requer o uso simultâneo de múltiplas técnicas;
- envolve mudança na maneira de administrar a propriedade, especialmente na forma de conduzir as culturas;
- requer entendimento mais abrangente sobre a questão ambiental o que implica entender a influência da atividade agrícola na qualidade do solo, da água e do ar;
- pressupõe respeitar a natureza e, portanto, considerar as leis ambientais e, dessa forma, promover a recuperação de áreas degradadas, a recuperação de florestas etc;
- tem exigências específicas tais como investimentos em semeadoras, pulverizadores, treinamentos no uso de máquinas, de equipamentos e de insumos, subdivisão da terra em talhões ou glebas, implicando em reconstrução de cercas, carreadores e mudanças na disposição das áreas etc.
Sugere-se que após a avaliação do estabelecimento rural, escolha-se as melhores glebas nas quais será implantada a primeira etapa do sistema. Se os problemas dessas glebas forem mínimos ou inexistentes, a implantação será normal e sem dificuldades e, os primeiros anos serão de efetivo aprendizado em relação à semeadura, à pulverização, à colheita e às ações de pós-colheita ou de pré-semeadura subsequente. No entanto, se o SPD for iniciado sem os devidos cuidados ou em situações inadequadas, problemas, como a compactação do solo e a elevada pressão de pragas, doenças ou plantas invasoras, poderão ocorrer.
Para fazer a coisa certa, alguns passos devem ser seguidos:
1. Decidir adotar definitivamente o SPD, o que, em outras palavras, significa:
- Estar preparado para assumir nova postura tecnológica.
- Estar disposto a aprender, de forma contínua, novas práticas/técnicas.
- Estar disposto a construir, com a ajuda de técnicos, de pesquisadores, de professores etc., o SPD de "seu" estabelecimento rural.
- Estar disposto a solucionar os problemas que surgirem dentro do próprio SPD, sem duvidar da potencialidade do mesmo e, sem jamais retornar ao sistema convencional, exceto por razões técnicas justificadas.
- Atualizar-se quanto à tendências de mercado e de comercialização de produtos.
- Atualizar-se sobre conhecimentos locais e técnicos, por meio de reuniões técnicas e de grupos de troca de experiência como os Clubes Amigos da Terra.
2. Avaliar adequadamente os recursos disponíveis:
- Conhecer solo, água, clima, relevo, máquinas, mão de obra, assistência técnica, recursos para investimento, capital e custeio.
- Conhecer a variabilidade da área para a sua divisão em talhões ou glebas.
- Estabelecer as necessidades de adequações e de correções químicas e físicas do solo, e da performance das culturas (rendimento, pragas e doenças) de cada gleba.
3. Gerenciar o estabelecimento rural, independente de seu tamanho, utilizando ferramentas modernas de administração, tais como o programa PDCA (Planejar, Executar, Controlar e Avaliar).
4. Contar com assistência técnica especializada ou predisposta a aprender de forma participativa.
5. Incorporar as glebas inicialmente consideradas menos aptas, na medida em que o aprendizado e a adaptação nas áreas de melhor qualidade forem se solidificando.