Sistema Plantio Direto
Glebas: reorganizando o espaço
Autores
Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos
Júlio Cesar Salton - Embrapa Agropecuária Oeste
Pedro Luiz de Freitas - Embrapa Solos
A divisão da área total em glebas proporciona algumas vantagens importantes à gestão do estabelecimento rural. Algumas dessas vantagens são:
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definição mais precisa de tipo, dose, forma e época de aplicação de insumos;
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maior controle da qualidade e dos custos das operações (ex.: pulverização);
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maior facilidade na detecção de problemas específicos e localizados;
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mais facilidade e menores custos de correções de inadequações;
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maior controle dos rendimentos do sistema produtivo;
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facilita a condução dos sistemas de rotação de culturas;
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permite avaliação mais precisa dos custos de produção.
Para que haja adequada implantação e adaptação ao Sistema Plantio Direto (SPD) sugere-se que, antes de qualquer coisa, se avalie a propriedade, selecionando-se as glebas de melhor qualidade para a implantação do SPD. Essa gleba deve apresentar:
- alta fertilidade e ausência de elementos tóxicos (alumínio, por ex.);
- ausência de sulcos de erosão, de trilheiros (caminhos de bovinos) ou de buracos;
- ausência de erosão laminar severa (exposição de raízes de árvores, por ex.);
- ausência de plantas daninhas agressivas de difícil controle químico;
- ausência de compactação do solo (entre 15-20 cm de profundidade, principalmente).
Ocorrendo pelo menos três glebas com tais características ou uma que possa ser dividida em glebas menores pode-se, então, iniciar o planejamento e a execução da implantação do SPD.
Para a avaliação das glebas devem-se considerar os dados do levantamento ou diagnóstico inicial, separando-se áreas com características físicas homogêneas quanto ao solo, à ocorrência de plantas espontâneas, histórico de rendimento, ocorrência de erosão, buracos, trilheiros, etc.
No exemplo apresentado no Quadro 1, verifica-se que as glebas de um dado estabelecimento rural podem apresentar diferentes situações quanto à fertilidade, tipo e frequência de erosão, ocorrência de compactação, presenças de sulcos (trilheiros, buracos etc.) e, produtividade.
A gleba E (Quadro 1), por exemplo, apresenta fertilidade elevada, erosão laminar leve, poucas plantas daninhas de folhas estreitas, não tem compactação, os sulcos estão ausentes e a produção por unidade de área é alta. Portanto, essa gleba pode ser selecionada para a implantação imediata do SPD.
Outras glebas também podem ser selecionadas (por ex.: as glebas C e F), mas nesse caso, essas exigirão diferentes níveis de correções ou adequações. A execução dessas ações corretivas dependerá dos recursos disponíveis. Essas ações corretivas podem ser realizadas a curto ou médio prazo.
Caso não haja gleba com características desejáveis para, de imediato, implementar-se o SPD, deve-se priorizar as ações corretivas até que o solo se encontre em condições satisfatórias e, nesse caso, a sequência de prioridade das atividades ao longo do tempo será:
- correção das práticas conservacionistas para o controle da erosão;
- descompactação do solo mediante escarificação;
- cultivo de espécies com sistema radicular abundante e fasciculado, consorciadas com espécies melhoradoras (leguminosas, como o guandu e, outras espécies, como o nabo forrageiro);
- correção da fertilidade do solo (com calcário, gesso, fósforo e potássio) que pode ser implementada de uma só vez ou ser parcelada ou gradativa, ao longo do tempo.
A gleba selecionada (por ex.: a E), numa primeira fase de conformação ao SPD poderia ser subdividida para implantação de esquemas iniciais de rotação de culturas, o que é fundamental para o aprendizado do manejo conjunto de mais de uma cultura ao mesmo tempo.
Quadro 1. Exemplo de alguns resultados de avaliação de atributos qualitativos das glebas de um estabelecimento rural. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Fonte: Quadro organizado por Luis Carlos Hernani |
As glebas, sempre que possível, devem ser alocadas em faixas (de 50-100 m de largura), em nível no terreno, evitando-se as faixas estreitas e alongadas no sentido do declive. O tamanho de cada gleba pode variar de região para região, de propriedade para propriedade, ou mesmo dentro da mesma propriedade, em função das condições de solo (ex.: declividade), do sistema produtivo e do interesse do produtor, mas sempre que possível a gleba não deve ser maior que 20 ha.
Todas as glebas devem ser controladas e/ou monitoradas quanto ao uso de insumos, à qualidade do solo e à produtividade. Informações importantes para a avaliação dos resultados e definição de alteração da aplicação de insumos, tais como a pluviosidade, também devem ser monitoradas, se possível em cada uma das glebas.
A partir dessa análise, metas objetivas podem ser estabelecidas e resumidas, para as glebas selecionadas para a implantação inicial do SPD o que pode ser sintetizado como segue:
- Quais e quando serão realizadas as correções.
- Quais insumos/doses/épocas serão aplicados em cada uma das Glebas.
- Qual o esquema de culturas a ser cultivado inicialmente.
- Quais os níveis de produção esperados para as culturas, nos primeiros anos.
- Qual o sistema integrado de produção, a partir do quarto ano de condução do SPD.
De forma semelhante, deve-se estabelecer o detalhamento das correções para as demais glebas que exigem adequações mais intensivas, definindo-se, numa fase posterior, quando e como serão agregadas ao sistema de produção integrada.
Os dados são organizados em Quadros ou Tabelas e servirão de base para a execução e monitoramento das ações em cada gleba.