Glebas: reorganizando o espaço

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autores

Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos

Júlio Cesar Salton - Embrapa Agropecuária Oeste

Pedro Luiz de Freitas - Embrapa Solos

 

A divisão da área total em glebas proporciona algumas vantagens importantes à gestão do estabelecimento rural. Algumas dessas vantagens são:

  • definição mais precisa de tipo, dose, forma e época de aplicação de insumos;
  • maior controle da qualidade e dos custos das operações (ex.: pulverização);
  • maior facilidade na detecção de problemas específicos e localizados;
  • mais facilidade e menores custos de correções de inadequações;
  • maior controle dos rendimentos do sistema produtivo;
  • facilita a condução dos sistemas de rotação de culturas;
  • permite avaliação mais precisa dos custos de produção.


Para que haja adequada implantação e adaptação ao Sistema Plantio Direto (SPD) sugere-se que, antes de qualquer coisa, se avalie a propriedade, selecionando-se as glebas de melhor qualidade para a implantação do SPD. Essa gleba deve apresentar:

  • alta fertilidade e ausência de elementos tóxicos (alumínio, por ex.);
  • ausência de sulcos de erosão, de trilheiros (caminhos de bovinos) ou de buracos;
  • ausência de erosão laminar severa (exposição de raízes de árvores, por ex.);
  • ausência de plantas daninhas agressivas de difícil controle químico;
  • ausência de compactação do solo (entre 15-20 cm de profundidade, principalmente).

 

Ocorrendo pelo menos três glebas com tais características ou uma que possa ser dividida em glebas menores pode-se, então, iniciar o planejamento e a execução da implantação do SPD.

Para a avaliação das glebas devem-se considerar os dados do levantamento ou diagnóstico inicial, separando-se áreas com características físicas homogêneas quanto ao solo, à ocorrência de plantas espontâneas, histórico de rendimento, ocorrência de erosão, buracos, trilheiros, etc.

No exemplo apresentado no Quadro 1, verifica-se que as glebas de um dado estabelecimento rural podem apresentar diferentes situações quanto à fertilidade, tipo e frequência de erosão, ocorrência de compactação, presenças de sulcos (trilheiros, buracos etc.) e, produtividade.

A gleba E (Quadro 1), por exemplo, apresenta fertilidade elevada, erosão laminar leve, poucas plantas daninhas de folhas estreitas, não tem compactação, os sulcos estão ausentes e a produção por unidade de área é alta. Portanto, essa gleba pode ser selecionada para a implantação imediata do SPD.

Outras glebas também podem ser selecionadas (por ex.: as glebas C e F), mas nesse caso, essas exigirão diferentes níveis de correções ou adequações. A execução dessas ações corretivas dependerá dos recursos disponíveis. Essas ações corretivas podem ser realizadas a curto ou médio prazo.

Caso não haja gleba com características desejáveis para, de imediato, implementar-se o SPD, deve-se priorizar as ações corretivas até que o solo se encontre em condições satisfatórias e, nesse caso, a sequência de prioridade das atividades ao longo do tempo será:

  • correção das práticas conservacionistas para o controle da erosão;
  • descompactação do solo mediante escarificação;
  • cultivo de espécies com sistema radicular abundante e fasciculado, consorciadas com espécies melhoradoras (leguminosas, como o guandu e, outras espécies, como o nabo forrageiro);
  • correção da fertilidade do solo (com calcário, gesso, fósforo e potássio) que pode ser implementada de uma só vez ou ser parcelada ou gradativa, ao longo do tempo.


A gleba selecionada (por ex.: a E), numa primeira fase de conformação ao SPD poderia ser subdividida para implantação de esquemas iniciais de rotação de culturas, o que é fundamental para o aprendizado do manejo conjunto de mais de uma cultura ao mesmo tempo.

Quadro 1. Exemplo de alguns resultados de avaliação de atributos qualitativos  das glebas de um estabelecimento rural.

 

Gleba

Fertilidade

Erosão

Planta daninha

Compactação

Sulcos

Produtividade

A

Baixa

Sulcos frequentes

Poucas, folhas estreitas

Ausência

Frequentes

Baixa

B

Baixa

Laminar leve

Poucas, folhas estreitas

Compactado

Frequentes

Baixa

C

Média

Sulcos poucos

Plantas de difícil controle

Ausência

Pouco Frequentes

Baixa

D

Alta

Laminar severa

Poucas, folhas estreitas

Compactado

Poucos

Média

E

Alta

Laminar leve

Muito Poucas, folhas estreitas

Ausência

Ausentes

Alta

F

Média

Laminar leve

Poucas, folhas estreitas

Ausência

Ausentes

Baixa

Fonte: Quadro organizado por Luis Carlos Hernani 

 

As glebas, sempre que possível, devem ser alocadas em faixas (de 50-100 m de largura), em nível no terreno, evitando-se as faixas estreitas e alongadas no sentido do declive. O tamanho de cada gleba pode variar de região para região, de propriedade para propriedade, ou mesmo dentro da mesma propriedade, em função das condições de solo (ex.: declividade), do sistema produtivo e do interesse do produtor, mas sempre que possível a gleba não deve ser maior que 20 ha.

Todas as glebas devem ser controladas e/ou monitoradas quanto ao uso de insumos, à qualidade do solo e à produtividade. Informações importantes para a avaliação dos resultados e definição de alteração da aplicação de insumos, tais como a pluviosidade, também devem ser monitoradas, se possível em cada uma das glebas.

A partir dessa análise, metas objetivas podem ser estabelecidas e resumidas, para as glebas selecionadas para a implantação inicial do SPD o que pode ser sintetizado como segue:

  1. Quais e quando serão realizadas as correções.
  2. Quais insumos/doses/épocas serão aplicados em cada uma das Glebas.
  3. Qual o esquema de culturas a ser cultivado inicialmente.
  4. Quais os níveis de produção esperados para as culturas, nos primeiros anos.
  5. Qual o sistema integrado de produção, a partir do quarto ano de condução do SPD.


De forma semelhante, deve-se estabelecer o detalhamento das correções para as demais glebas que exigem adequações mais intensivas, definindo-se, numa fase posterior, quando e como serão agregadas ao sistema de produção integrada.

Os dados são organizados em Quadros ou Tabelas e servirão de base para a execução e monitoramento das ações em cada gleba.