À Água

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autores

Éder Comunello - Embrapa Agropecuária Oeste

Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos

 

O Sistema Plantio Direto (SPD), por incluir todas as boas práticas agrícolas, inclusive as que visam proteção de áreas permanentes e de reserva legal, por abolir o preparo do solo, por manter espessa camada de palha sobre a superfície do solo, por apresentar grande desenvolvimento de raízes e intensa atividade biológica no interior do solo, é a melhor estratégia de manejo para reduzir o impacto das gotas da chuva, aumentar a infiltração, absorção e retenção de água no solo e reduzir a velocidade e o escoamento da água excedente ou que não infiltra no solo quando da ocorrência de uma chuva. Melhorando o ambiente dentro do estabelecimento rural são observados, por consequência, efeitos fora dele, tais como: melhoria na qualidade e no armazenamento da água e na poluição de mananciais, e diminuição de custos com inundação e assoreamento.

Trabalhos de pesquisa de mais de dez anos de duração mostram que as perdas de água em SPD são quatro vezes menores do que com preparo convencional de solo (Figura 1). Em 2002, estimou-se, com base em vários autores, que o setor rural gerava perdas anuais de 171 bilhões de m3 de água pelo uso de sistemas inadequados de gestão da terra. Se toda a área ocupada com pecuária e com lavoura do Brasil fosse manejada em SPD tais perdas cairiam de 171 para cerca de 28,5 bilhões de m3 por ano.

Figura 1. Perdas médias de água em plantio direto (PD) e em preparo de solo com gradagens pesadas + niveladoras (GP), em cultivo contínuo da sucessão soja-trigo em Latossolo Vermelho Distroférrico muito argiloso de Dourados, MS. 
Fonte: Adaptado de Hernani et al. (1997)

 


Com isso o impacto da agropecuária sobre a questão da água ficaria diminuído em seis vezes e a reposição de reservatórios, de maneira geral, seria ampliada significativamente. Nas áreas agrícolas, por outro lado, a água das chuvas permaneceria nos locais em que caíram numa quantidade seis vezes maior, sendo armazenada no solo e repondo lençóis freáticos numa intensidade bem maior do que ocorre atualmente. 

Além das partículas de solo em suspensão, o escoamento superficial transporta nutrientes (adubos), matéria orgânica, sementes e defensivos agrícolas que, além de causarem prejuízos (com a perda de insumos) à produção agropecuária, causam poluição dos recursos hídricos. A turbidez gerada por esses processos erosivos e outros de origem urbana, aumenta o custo do tratamento da água para consumo humano. No Brasil, esse tratamento varia entre R$ 6,00 – 11,00 para cada dez mil m3 de água, dependendo das condições da água de cada local e da época do ano. No Paraná em trabalhos integrados em microbacias hidrográficas, o SPD vem auxiliando à diminuição desses custos. Pode-se inferir que inundações e suas consequências sociais e econômicas, assoreamentos de lagos e represas seriam menores e muitos dos prejuízos associados poderiam ser significativamente minimizados com o uso desse sistema conservacionista.

Em resumo, o SPD, em relação à água, traz entre outros os benefícios:

    • Diminui as perdas de água por erosão e por evaporação.
    • Aumenta a quantidade armazenada no solo.
    • Aumenta a reposição do lençol freático.
    • Contribui com a diminuição de custos de tratamento de água.
    • Contribui com a manutenção de reservatórios.
    • Diminui a intensidade de inundações e os assoreamentos.
    • Melhora a qualidade da água.