Sistema Plantio Direto
Socioeconômicos
Autor
Alceu Richetti - Embrapa Agropecuária Oeste
O Sistema Plantio Direto (SPD), por incluir todas as boas práticas agrícolas, inclusive as que visam proteção de áreas permanentes e de reserva legal, abolir o preparo do solo, manter espessa camada de palha sobre a superfície do solo, por apresentar grande desenvolvimento de raízes e intensa atividade biológica no interior do solo, é a melhor estratégia de manejo para reduzir a degradação do solo. Melhorando o ambiente dentro do estabelecimento rural são observados, por consequência, efeitos fora dele, tais como, melhoria na qualidade e no armazenamento da água e diminuição de custos com inundação e assoreamento.
Sistemas de produção conduzidos sob os princípios do Sistema Plantio Direto (SPD), após o equilíbrio e a estabilização podem proporcionar os seguintes benefícios econômicos e sociais:
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Melhoria nos componentes da renda do estabelecimento rural.
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Melhoria na produtividade das plantas e dos animais.
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Melhoria na remuneração da mão de obra.
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Menor número de funcionários.
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Funcionários melhor treinados.
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Melhor conhecimento das cadeias de produção rural.
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Melhor conhecimento e atuação sobre o mercado, incluindo Bolsas de Mercado Futuro.
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Maior economia de combustível fóssil.
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Redução do número e da potência de máquinas.
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Maior longevidade e menor depreciação de máquinas e equipamentos.
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Melhores condições de manutenção e armazenamento de máquinas.
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Menores doses de fertilizantes (P e K) e calcário.
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Mínima perda por erosão de fertilizantes, sementes, defensivos e outros insumos agrícolas.
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Uso mais econômico dos insumos agrícolas.
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Maior disponibilidade de tempo ao produtor.
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Maior acesso a outros campos de interesse (esporte, lazer, cultura) pelo produtor.
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Melhor qualidade de vida.
O SPD é a ferramenta fundamental para a geração de renda com segurança, estabilidade e competitividade ao nível do estabelecimento agrícola e do agronegócio. No entanto, para que haja sucesso é necessário que o produtor persista, vencendo obstáculos (sem voltar ao sistema de manejo antigo), tenha criatividade e busque, cada vez mais, informações e conhecimentos sobre o seu negócio. Pois além de gerenciar eficaz e eficientemente a propriedade, o produtor deve ampliar conhecimentos sobre as cadeias produtivas em que seus produtos estão inseridos.
Após o período de adaptação ao sistema, que varia de quatro a seis anos, em função do solo, do clima e das condições socioculturais da região, podem-se constatar melhorias em todos os componentes da renda dos estabelecimentos. Com o crescimento do lucro, o produtor tem condições de remunerar e treinar melhor a mão de obra do estabelecimento. Com funcionários melhor treinados haverá maior eficiência na execução de operações fundamentais como o controle do mato, a semeadura, o controle fitossanitário, a colheita e as operações de pós-colheita.
Os benefícios contabilizados irão muito além das expectativas dos produtores. Em relação ao cultivo convencional (preparo do solo + ausência de rotação de culturas) o SPD proporciona economia de até 70% de combustível. Requer aproximadamente a metade do número de horas máquinas para a condução do mesmo sistema de produção e, também, com a eliminação das operações de aração e gradagens, a potência exigida para os tratores fica reduzida em até 60%. Consequentemente, a vida útil dos equipamentos fica mais longa. Pode-se contabilizar também a diminuição do uso de fertilizantes. Por outro lado, a produtividade aumenta e pode chegar, em alguns casos, a superar os cultivos convencionais em mais de 20 %.
A adoção do SPD resulta, entretanto, em redução da oferta de empregos temporários e de empregos permanentes, quando comparado com o Sistema Convencional de preparo do solo. Esta redução do número de empregos é devido à menor utilização de máquinas e equipamento durante o processo produtivo. Por outro lado, o SPD implica em aumento na realização de treinamentos de curta duração e de nível básico, dos empregados. Com relação à qualidade do emprego, o SPD proporciona a melhora das condições de trabalho com relação à legislação trabalhista e à concessão de benefícios (auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-transporte e auxílio-saúde).
No aspecto ambiental, o SPD pode ser considerado uma das mais importantes tecnologias agropecuárias já desenvolvidas, principalmente por seus efeitos na conservação do solo e seus reflexos no ambiente em geral. Com a diminuição do consumo de combustíveis fósseis, o estabelecimento que adota este sistema auxilia a reduzir a emissão de poluentes atmosféricos. E, com o aumento do estoque de carbono no solo, promove o sequestro de carbono e auxilia a diminuir o efeito estufa. Reduzindo significativamente as perdas de solo e de água por erosão, o produtor auxilia indiretamente a diminuir assoreamentos de rios e de reservas hídricas de barragens e, a minimizar a produção de poluentes hídricos. Por outro lado, com o incremento no teor de matéria orgânica e melhores condições de infiltração e retenção de água no perfil do solo, o produtor que usa este sistema auxilia a suprir o lençol freático, contribuindo em maior abastecimento e melhor qualidade de água não apenas para si, mas para toda a população. Produzindo menor quantidade de sedimentos e outras fontes de poluição da água, colabora com a redução substancial do custo de tratamento da água para o consumo humano, fazendo do agricultor um "produtor de água boa".
Portanto, o SPD além de propiciar ao produtor agrícola maior sustentabilidade econômica e maior acesso a outros assuntos de seu interesse como o esporte, o lazer e a cultura, melhorando as condições de saúde e de qualidade de vida, pode trazer benefícios a toda a comunidade em que ele está inserido. Dessa forma, espera-se que o agricultor que o adota seja, em breve, melhor reconhecido pela sociedade.