Sistema Plantio Direto
Semeadura Direta e Plantio Direto
Autores
Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos
José Eloir Denardin - Embrapa Trigo
"Semeadura Direta", "Plantio Direto", "Plantio Direto na Palha" e "Sistema Plantio Direto" são expressões corriqueiramente empregadas no Brasil de forma indistinta e com sentido semelhante. No entanto, essas técnicas diferem entre si.
O conceito "Plantio Direto" envolve o plantio de espécies arbóreas perenes e semiperenes e ainda hortaliças propagadas por mudas, mas no que respeita ao cultivo de culturas de grãos, "Semeadura Direta" e "Plantio Direto" apresentam o mesmo significado.
A expressão "Semeadura Direta" deve ser entendida como o ato de depositar no solo sementes ou partes de plantas na ausência de mobilizações intensas de solo, tradicionalmente promovidas por arações, escarificações e gradagens. Essa expressão é fiel ao conceito de "zero-tillage" ou "no tillage" ou "no-till", ou seja, "sem preparo de solo" ou "sem amanho", oriundas dos EUA e da Inglaterra. Nesses países, essa técnica foi introduzida, sob o enfoque de um simples método alternativo de preparo reduzido de solo. No Brasil, a adoção dessa técnica, sob esse conceito simplista, não obtém o sucesso esperado e, em adição, promove nítida degradação estrutural do solo, sucumbindo diante da expectativa de implementação de uma agricultura sob contínua e ininterrupta ausência de preparo prévio de solo.
A expressão "Sistema Plantio Direto", genuinamente brasileira, surgiu, em meados dos anos 1980, em consequência da percepção de que a viabilidade da "Semeadura Direta" em regiões tropical e subtropical requeria uma base conceitual mais ampla do que simplesmente o abandono do preparo intenso de solo. A "Semeadura Direta" necessitava ser entendida e praticada como um "sistema de manejo" e não como um simples método alternativo de preparo reduzido de solo. Nesse contexto, a expressão "Sistema Plantio Direto" passou a ser, consensualmente, conceituada como um complexo de processos tecnológicos destinado à exploração de sistemas agrícolas produtivos, compreendendo mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura, manutenção permanente da cobertura do solo e diversificação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas. No início dos anos 2000, essa base conceitual foi ampliada, passando a incorporar o processo colher-semear, que representa a minimização ou supressão do intervalo de tempo entre colheita e semeadura, prática relevante para elevar o número de safras por ano agrícola e construir e/ou manter solo fértil. Essa atual abordagem, além de, em grande parte, ser responsável pela viabilização das chamadas "safrinhas" e, em decorrência, pelo relevante incremento de produção de grãos do País nesta década, sem o equivalente aumento de área cultivada, viabilizou a integração lavoura-pecuária no Cerrado brasileiro, que, além de corresponder à terceira safra em um mesmo ano agrícola nesta região do País, incorporou ao "Sistema Plantio Direto" a propriedade de reproduzir no sistema agrícola produtivo fluxos de aporte e mineralização de fitomassa semelhantes aos observados nos ecossistemas, isto é, fluxos permanentes e simultâneos de aporte e mineralização de material orgânico e absorção de nutrientes. Portanto, é sobre essa base conceitual que, na atualidade, o "Sistema Plantio Direto" é interpretado como ferramenta da Agricultura Conservacionista capaz de induzir caráter de sustentabilidade à agricultura.
No entanto, tem sido observado, especialmente na Região Centro-Oeste do Brasil, inadequações na gestão da terra, como o cultivo de grandes áreas com uma única espécie, sequências de uma mesma cultura num mesmo ano agrícola e o uso de sequências simples como a de soja/milho safrinha ou soja/milheto. Esses monocultivos ocorrem muito frequentemente no campo e, tais sistemas produtivos, tem sido denominados de "Plantio Direto", "Plantio Direto na Palha" ou "Semeadura Direta".
Nesses sistemas de manejo, tal como são praticados atualmente, ainda não há comprometimento com a gestão integrada e conservacionista do estabelecimento agrícola. Cultivam-se sequências de plantas, compostas de espécies para formação de palha e da cultura comercial. Portanto, práticas como rotação de culturas e cobertura permanente do solo, por exemplo, são inexistentes.
Nesse contexto, vários modelos produtivos são praticados no Brasil. No modelo de produção soja/milheto, as sementes de milheto, frequentemente são distribuídas a lanço e incorporadas ao solo com grade niveladora. Realizada, ano após ano, essa mobilização superficial do solo promove rápida decomposição da matéria orgânica, impede adequada formação e manutenção de cobertura morta e incrementa custos no controle de plantas daninhas.
O modelo soja/milho safrinha tem vantagens sobre o soja/milheto por introduzir uma cultura de maior valor econômico no sistema de produção, no entanto, trata-se ainda de cultivo de monoculturas. O modelo soja/milho safrinha + braquiárias caracteriza uma evolução dos sistemas produtivos mediante a consorciação que incrementa a biodiversidade, mas ainda não considera a rotação de culturas.
Tais modelos têm proporcionado, ao longo do tempo, aumento de pragas e de doenças de plantas, surgimento de plantas daninhas "resistentes" aos herbicidas e incremento nos custos de produção. Após uma ou duas safras adotando esses sistemas de produção, a tendência do agricultor é resolver problemas surgidos no solo, nas plantas ou na produtividade, com o retorno ao preparo convencional do solo. Neste sentido, a "Semeadura Direta" ou o "Plantio Direto", embora sejam avanços em direção ao melhor uso do solo, ainda estão aquém da chamada Agricultura Conservacionista caracterizada pelo "Sistema Plantio Direto".