Doenças

Conteúdo migrado na íntegra em: 09/12/2021

Autor

Mairon Moura da Silva - Universidade Federal do Agreste de Pernambuco

 

a) Murcha ou fusariose - Fusarium oxysporum f. passifloraceae

Este fungo ataca os vasos lenhosos a partir das raízes, levando a um rápido murchamento, colapso e morte em qualquer estádio de desenvolvimento das plantas. Os sintomas caracterizam-se por um amarelecimento das folhas e murchamento da planta, podendo ocorrer em apenas um lado da planta. Cortes transversais na raíz, colo e caule exibem manchas ferrugíneas. Nas plantas mortas podem surgir fendas e rachaduras nas hastes, onde aparecem pulverulência de cor clara.

A fusariose causa a morte repentina da planta, levemente perceptível 48 horas antes, quando se nota o murchamento dos ponteiros. A disseminação pode ser por sementes, água, contato entre raízes e mudas infectadas. O fungo penetra pelo sistema radicular através de ferimentos naturais ou artificiais, dentre os quais aqueles causados por nematóides e implementos agrícolas. As condições favoráveis ao fungo são altas temperaturas e umidade relativa do ar; solos ácidos e argilosos, mal drenados e infestados por nematóides. A sua ocorrência se dá em focos isolados e tem distribuição radial.

Recomenda-se o cultivo em terrenos de topografia levemente inclinada. Também se deve evitar cultivar em solos recém desbravados. Outras medidas preventivas são recomendadas como; evitar gradagens em áreas de foco; eliminar plantas atacadas, sendo destruídas na própria cova (não retirar do local); e em áreas planas erradicar 5 a 6 plantas, aparentemente sadias em volta das afetadas; abrir valas de isolamento de 20 cm de profundidade, revolver o solo da área e aplicar cal; utilizar sementes vindas de plantas sadias, como também mudas sadias vindas de viveiristas registrados.


b) Podridão do colo ou do pé - Phytophthora cinnamomi

O fungo causa mancha marrom-avermelhada em forma de anel no colo, que se estende por alguns centímetros no caule e nas raízes mais grossas. Nesta região também se observa um inchaço e rachaduras verticais na casca. A ocorrência da doença é generalizada, principalmente nos períodos de chuvas intensas. A morte da planta é lenta e precedida por um amarelecimento foliar localizada no lado da copa correspondente a parte da raiz mais afetada devido a uma interrupção do fluxo de água e nutrientes.

Recomenda-se evitar o plantio em solos compactados, sem aeração ou que já tenha sido detectada a doença; não usar grade; evitar ferimentos nas raízes; utilizar mudas sadias; erradicar e queimar as plantas doentes sem haver novos plantios nestas covas; pulverizar ou pincelar o colo das plantas com pasta cúprica nos pomares em que a doença foi detectada.

Para a fusariose e podridão do colo não se tem um controle químico economicamente viável, levando ao abandono da área. Logo, as medidas preventivas assumem grande importância para manutenção da viabilidade do maracujazal.


c) Verrugose ou cladosporiose - Cladosporiium herbarum

Esta doença causa nos frutos com menos de três centímetros de diâmetro lesões deprimidas, circulares, inicialmente translúcidas, sob as quais se desenvolvem um tecido corticoso, que após pouco tempo se torna saliente, rompe a epiderme e forma pústulas de coloração amarelo-clara. Em condições de temperaturas amenas (15 a 22oC) e baixa umidade relativa do ar o fungo pode atacar ramos, gavinhas e folhas novas. Nos ramos as manchas são alongadas, tornando-os fracos e quebradiços.

A comercialização dos frutos é prejudicada devido a sua aparência, porém a qualidade da polpa não é afetada, podendo ser aproveitado para industrialização.

Para o controle recomenda-se o plantio de mudas sadias, utilizar materiais desinfetados; podar partes da planta infectadas e queimá-las; plantar novas áreas distantes de pomares antigos; realizar a poda de manutenção.


d) Antracnose - Colletotrichum gloeosporioides

É considerada uma doença de grande importância para o maracujazeiro pelo difícil controle. O fungo ataca todas as partes da planta. Os primeiros sintomas surgem nas folhas na forma de grandes manchas aquosas, comumente nas margens do limbo. Posteriormente, tornam-se pardo-escura e podem causar rachaduras nos tecidos. Os frutos maduros apresentam grandes áreas escuras, suco fermentado e, em estádios mais avançados, adquire textura semelhante a de pergaminho, murcham em caem. A disseminação ocorre pelas sementes, respingo de chuva e implementos agrícolas. A sobrevivência do fungo se dá em restos de cultura e em tecidos afetados na própria planta, fazendo com que a doença seja mais frequente e severa em uma determinada área a partir do segundo ano de cultivo. A epidemia é favorecida pela alta umidade e temperatura média de 26 a 28 oC.

Como medidas de controle devem-se utilizar mudas vindas de área livre da doença; eliminar os restos culturais e pulverizações quinzenais.


e) Mancha-parda - Alternaria passiflorae

Tem como sintoma manchas pequenas, deprimidas, pardo-avermelhadas, com pelo menos 3 mm de diâmetro, podendo ter margem aquosa. Posteriormente, formam uma série de anéis concêntricos e podem causar a queda prematura das folhas. Nos frutos surgem manchas necróticas, deprimidas, com até 5 cm de diâmetro e coloração pardo-avermelhada, que podem se aprofundar, afetando totalmente a polpa. Em frutos severamente afetados a superfície das manchas é quebradiça e pedaços de tecidos da casca podem se destacar no processo de industrialização, causando sabor característico ao suco. O fungo é favorecido pela alta umidade. As medidas de controle preventivo consistem na poda das folhas, ramos atacados, complementadas com a aplicação de fungicidas.


Bacteriose - Xanthomonas campestris pv. passiflorae

Nas folhas ocorre a presença de pequenas manchas delimitadas, de aspecto oleoso, translúcido, rodeadas por halos cloróticos. Posteriormente, tornam-se deprimidas e de coloração pardo-escura. A bactéria infecta o sistema vascular e migra para a região do pecíolo, provocando o secamento e desfolhamento.

Nos frutos os sintomas são pequenas áreas verde-escuras e úmido-aquosas, posteriormente circulares ou com margens bem definidas. Em seguida forma-se uma crosta dura recobrindo várias manchas originalmente isoladas, tornando o fruto impróprio para o comércio. A bactéria pode penetrar até as sementes. Ocorre uma exsudação típica de pus bacteriano quando se comprime os feixes vasculares. Não existem outros hospedeiros para o patógeno. A transmissão ocorre por mudas infectadas, caixas de colheita, ferramentas, utensílios, máquinas e sementes originárias de pomares contaminados. As condições de alta temperatura (35 oC) e umidade são favoráveis ao desenvolvimento da doença.

O controle eficaz é feito com a associação de métodos químicos e culturais que evitem a instalação da bactéria no pomar. Recomenda-se utilizar sementes de mudas sadias; adubações equilibradas, observando a relação nitrogênio-potássio; instalação de quebra-ventos; evitar o trânsito no pomar, especialmente quando houver umidade sobre as plantas; evitar o uso de equipamentos para tratamento fitossanitário de alta pressão, pois causam danos mecânicos às plantas, favorecendo a invasão da bactéria pelos ferimentos. Já o controle químico deve ser executado apenas em situações críticas, quando a incidência da doença é muito elevada e as condições climáticas são bem favoráveis.


Endurecimento dos frutos do maracujazeiro - VEFM

Causado por um Potyvirus, reduz a longevidade e produtividade das plantas. As plantas infectadas apresentam sintomas generalizados do mosaico foliar, com intensidade variável, podendo vir acompanhado de manchas anelares, bolhas, rugosidades e deformações do limbo foliar. Os frutos ficam deformados e menores que os produzidos por plantas sadias. O pericarpo fica com espessura irregular e consistência endurecida, reduzindo a cavidade interna. Os sintomas manifestam-se dos períodos mais frios e sua transmissão pode ocorrer por meio mecânico. Pode ser transmitido naturalmente por pulgões (Myzus persicae e Aphis gossypii). Os hospedeiros intermediários são as espécies silvestres de maracujazeiro, amendoim, centrosema, crotalaria, soja, alguns feijoeiros, tomate, pepino, fumo, etc. Logo, o maracujazal não deve ser instalado próximo a estas espécies. O VEFM não é transmitido via semente.


Clareamento da nervura - VCNM

Este vírus pertence ao grupo Rhabdoviridas. Os sintomas são plantas com internós curtos, folhas pequenas e coriáceas, e clareamento das nervuras. As plantas infectadas apresentam ramos verde-escuros e quebradiços, frutos pequenos e deformados.


Superbrotamento do maracujazeiro - Phytoplasma sp.

A planta apresenta redução do porte e superbrotamento dos ramos, que se tornam eretos e sofrem encurtamento dos entrenós. Os sintomas são folhas pequenas, com forte clorose, espessamento das nervuras, cor bronzeada, aspecto quebradiço, algumas vezes acanoadas. Ocorre abortamento, queda de flores e frutos ainda verdes. A ocorrência da doença leva a uma redução da vida útil da planta para aproximadamente 30 meses.

Um dos possíveis vetores são as cigarrinhas, principalmente as do gênero Empoasca. O patógeno pode também ser transmitido por enxertia. Outros possíveis hospedeiros são melão-de-são-caetano e chuchuzeiro.

Como controle recomenda-se a realização de vistorias periódicas de viveiros e utilização de mudas sadias. Em pomares infectados devem-se eliminar as plantas doentes.

Nematóides - Meloidogyne incognita, M. arenaria, Pratylenchus reniformis

As plantas infectadas com nematóides do gênero Meloidogyne apresentam o sistema radicular deformado, com galhas e com reduzido número de raízes secundárias. Como consequência, as plantas são pequenas e com sintoma semelhante a deficiências nutricionais (folhas amareladas e cloróticas).

Os sintomas de ocorrência de nematóides reniformes são áreas necróticas e tecidos corticais descolorados nas raízes.

As medidas de controle preventivas são: escolha do local do viveiro, que deve estar separado do tomateiro, fumo, quiabo, etc.; irrigar as mudas com água de poço, cisterna ou água tratada; esterilizar o substrato; adquirir mudas de qualidade e de boa procedência.

Em áreas de ocorrência do nematóide recomenda-se a aração e gradagem do solo; escolher áreas onde foram cultivados no ano anterior amendoim, arroz, milho, crotalaria ou pastagem, realizar capinas químicas.


Como produtos para o controle alternativo das principais doenças têm-se:

Calda bordaleza: indicada para o controle da bacteriose e verrugose no maracujazeiro. É composta por sulfato de cobre (200 a 400 g), cal virgem (200-400 g) e água (100 L). Em plantas mais jovens ou em florescimento utiliza-se a dosagem menor e em plantas adultas em estágios vegetativos as maiores. Deve ser preparada em vasilhame de plástico. O sulfato de cobre deve ser colocado enrolado em saco de pano e dissolvido em 5 L de água na véspera. Em outro vasilhame mistura-se a cal virgem em 15 L de água. Em seguida misturam-se as soluções, mexendo-se sempre. O pH deve estar próximo a 11.

Calda Viçosa: Utilizada para o controle da antracnose e verrugose do maracujazeiro. Esta calda é composta de sulfato de cobre (500g), sulfato de zinco (600g), sulfato de magnésio (400g), ácido bórico (400g) e cal hidratada (500g) em 100 L de água.

Para o preparo devem-se utilizar dois reservatórios (60 e 180 L). Na caixa A com 50 L de água coloca-se o cobre, zinco, magnésio, ácido bórico e ureia, dentro de um saco poroso. Na caixa B com 50 L de água coloca-se 500 g de cal hidratada, formando o "leite de cal".

A solução da caixa A é despejada vagarosamente sobre o "leite de cal" da caixa B, agitando-se energicamente para obter uma boa calda. Não se deve inverter a ordem da mistura. Uma calda Viçosa bem preparada, quando em repouso, mantém a suspensão por mais de 10 minutos. Se ficar floculenta não deve ser utilizada. O pH ideal da calda é de 7,0 a 7,5, ficando azul celeste.

Antes de colocar a calda no pulverizador utilizar um coador de tela fina. Na aplicação foliar retirar a ureia ou substituir pelo nitrato de potássio. Para uso no tronco pode-se utilizar a ureia. A aplicação deve ser feita a cada 30-45 dias e o período de carência é de sete dias até a colheita.