Território Mata Sul Pernambucana
Manejo de pragas
Autor
Mairon Moura da Silva - Universidade Federal do Agreste de Pernambuco
De uma maneira geral o manejo integrado de pragas e doenças varia de um simples controle químico supervisionado de pragas a programas sofisticados. O manejo é considerado o método ideal para auxiliar o produtor na redução dos danos causados pelas pragas, tornando o cultivo sustentável. As táticas utilizadas são: o reconhecimento das pragas chaves da cultura e de seus inimigos naturais, a amostragem e as medidas de controle.
As principais pragas da cultura do maracujazeiro são:
a) Lagartas desfolhadoras - dentre as diversas espécies de lepidópteros duas se destacam: Dione juno juno e Agraulis vanilae vanilae
As fêmeas de D. juno juno fazem postura de um grande número de ovos na face inferior das folhas. As lagartas têm coloração escura, com comprimento máximo de 30 mm. O corpo é recoberto por espinhos e possuem comportamento gregário. Os adultos são borboletas que medem 50 - 70 mm de envergadura, com asas anteriores de cor laranja e margens superiores externas pretas, as asas posteriores alaranjadas com faixas negras nas bordas.
As borboletas de A. vanilae vanilae depositam os ovos isolados na face inferior das folhas novas e caules. As lagartas podem atingir 30 mm de comprimento e possuem hábito solitário. Também de coloração escura, apresentando pontuações e faixa lateral amarela. Os adultos são alaranjados com manchas pretas na asa posterior ao longo da margem externa com áreas mais claras.
As lagartas dessas pragas consomem as folhas, comprometendo a capacidade fotossintética da planta. O ataque sucessivo em plantas jovens pode provocar a total desfolha, levando-as a morte. As lagartas de D. juno juno podem também raspar a casca dos ramos do maracujazeiro. A época de maior ocorrência é no período seco do ano.
b) Percevejo do maracujá - Diactor bilineatus
O adulto apresenta nas pernas traseiras expansões em forma de folhas, é de coloração verde-escura, possui três linhas alaranjadas que vão da cabeça até o escutelo e apresenta 20 mm de comprimento. A postura é realizada na face inferior das folhas.
c) Percevejo dos frutos - Holymenia clavigera
São percevejos ágeis e possuem 18 mm de comprimento. Alimentam-se de frutos de maracujazeiro e goiabeira. Apresentam coloração escura com manchas alaranjadas e asas quase incolores. As antenas são pretas com extremidades brancas. As injúrias são causadas pela sucção da seiva de botões florais e frutos novos. Já os adultos atacam as folhas, ramos e frutos em qualquer idade. Os botões florais e frutos novos caem, e os frutos maiores tornam-se murchos e enrugados.
d) Mosca-das-frutas - Anastrepha pseudoparallela, Ceratitis capitata
O adulto possui 8 mm de comprimento e coloração amarelo. A oviposição é realizada no interior dos frutos e a larva é "vermiforme", se alimentando dos frutos. A empupação ocorre no solo. O ataque em frutos novos causa sua queda, porém em frutos mais desenvolvidos causam murchamento, impedindo sua maturação.
e) Broca-do-maracujá - Philonis passiflorae
É um besouro de aproximadamente 7 mm de comprimento, marrom e dorso manchado de amarelo. As asas são esbranquiçadas com duas faixas marrons que se cruzam. As larvas são ápodas e se desenvolvem no interior dos ramos. Quando atinge a fase adulta o inseto sai do ramos através de um pequeno orifício circular. À medida que as larvas se desenvolvem formam galerias no interior e ao longo dos ramos, tornando-os fracos e quebradiços. Em estágios mais avançados levam ao secamento, prejudicando sensivelmente a produção. Os sintomas externos do ataque aparecem com dilatações nos ramos que podem se partir longitudinalmente. Quando o ataque se dá na haste principal os danos são mais severos, podendo causar a morte da planta.
f) Abelhas arapuá ou cachorro - Trigona spinipes (Hymenoptera: Apoidea)
Os adultos medem 5 a 6,5 mm e possuem coloração escura. Constroem suas colônias nas árvores ou em cupinzeiros abandonados. As abelhas danificam principalmente a base do nectário das flores para remoção do néctar antes da abertura das flores. Também retiram os grãos de pólen, tornando-as menos atrativas para as mamangavas, provocando sua queda e diminuindo a produção. Estudos demonstraram que as mamangavas evitaram as flores onde as arapuás estavam visíveis.
f) Pulgões - Myzus persicae; Aphis gossypii (Homoptera: Aphidae)
A importância de seu ataque está relacionada a transmissão do vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro (VEFM).
g) Mosca-do-botão-floral - Protearomyia sp., Neosilba pendula, Dasiops sp.
Pequeno inseto preto brilhante, quando adulto. As posturas são realizadas nos botões florais causando sua queda, o que pode chegar a 70%. As larvas atacam a base interna do botão deixando-os escuros, com manchas e murchos quando abertos. A época de maior infestação vai de janeiro a maio.
Sendo a polinização por insetos de grande importância para a cultura do maracujazeiro, recomenda-se evitar pulverizações e irrigações sobre a copa na hora de abertura das flores, e em períodos de florada intenso. Também devem ser preservados os inimigos naturais.
Para lançar-se mão das medidas de controle para mosca-das-frutas devem-se realizar amostragens da população na área. Para tal utilizam-se frascos caça-moscas (2 a 4 por hectare), que consistem de garrafas pet transparentes com três orifícios laterais. Nelas são colocados 20 mL da isca. Esta solução é composta de um estimulante alimentar, que pode ser o suco da fruta (25%), ou açúcar (5%), ou melaço (5%), ou proteína hidrolizada (1%), mais inseticida (3%) e água.
A amostragem deve ser semanal e o período crítico é a frutificação.
O nível de controle para as mosca-das-frutas é de 0,5 mosca/armadilha.
O controle da mosca do botão ainda não está definido, porém é indicado um controle semelhante ao da mosca-das-frutas.
Para as lagartas desfolhadoras em pequenas áreas recomenda-se frequentes catações com posterior destruição de ovos e lagartas.
As práticas culturais utilizadas no controle cultural são:
. Catação de frutos caídos e posterior enterrio em valas, cobrindo-os com um telado de malha fina e terra. O telado permite a passagem dos inimigos naturais, mas não permite a de mosca-das-frutas;
. Catação, sempre que possível, dos botões florais;
. Instalação de barreiras vegetais com a utilização de espécies não hospedeiras da mosca-do-botão-floral (ex. capim ou eucalipto);
. Poda e queima dos ramos atacados por brocas. Erradicação das plantas severamente atacadas;
. Erradicação de plantas com sintoma de virose, transmitida pelo pulgão. Deve-se evitar o plantio de espécies hospedeiras desta praga nas imediações do pomar;
. Catação das posturas, ninfas e adultos de percevejos, bem como a eliminação de plantas daninhas hospedeiras (melão-de-são-caetano) e evitar o plantio de chuchu e bucha nas proximidades;
. Plantio de espécies mais atrativas para as abelhas melíferas nas proximidades do pomar e que floresçam durante todo o período de floração do maracujazeiro;
. Localização e remoção de ninhos de arapuás para longe do pomar;
. Colocação de madeira mole ou tocos de árvores para as mamangavas nidificarem. O plantio de ornamentais (ipomea, hibiscos, urucum, etc) que floresçam no período em que o maracujazeiro não está florescendo, poderá manter as mamangavas na área da cultura. A instalação do pomar próximo as matas ou a preservação de matas nas proximidades favorecerão a presença delas.
O controle biológico natural é realizado pelos seguintes inimigos naturais:
. Pentatomidae - Alcaeorrynchus grandis, Oplomus catene, Apeteticus bifidus, Podisus spp.
. Reduviidae - Heza sp.
. Vepidae - Polistes spp., Polybia spp., Syndeca sp.
. Braconidae - Opius spp.
. Pteromalidae - Pteromalus spp.
O controle biológico aplicado pode ser realizado com o uso de Bacillus thurigiensis va. Kurstaki em lagartas desfolhadoras de pequeno tamanho. Também se tem o uso de Baculovirus (NPV) específico, no controle de desfolhadoras de pequeno tamanho (usa-se 80 lagartas infectadas/ha).
No controle da mosca-das-frutas utilizam-se iscas tóxicas de 15 em 15 dias sobre parte da planta ou em armadilhas. Quando aplicada sobre a planta recomenda-se alternar as plantas ou linhas. Também pode ser realizada apenas em um lado da planta. As plantas das bordas do pomar devem receber isca sempre. As aplicações devem ser feitas em intervalos de sete dias e nas fases de pré-maturação do fruto em intervalos de três a cinco dias. Quando chover após a aplicação, a operação deve ser repetida. A isca deve ser aplicada na superfície inferior das folhas, do lado da espaldeira onde o sol incide pela manhã e no início da manhã ou final da tarde. É composta de 5 kg de melaço ou açúcar mascavo ou 500 mL de proteína hidrolisada e inseticida em 100 L de água.
Para redução dos prejuízos causados pelas abelhas melíferas e arapuás recomenda-se a coleta de 10% das flores que irão abrir no período da tarde por volta das 10:30 e 12:00 e acondicionamento em recipientes arejados. Tais flores serão utilizadas na polinização artificial das demais flores a partir das 14:30.
No controle químico devem-se utilizar produtos seletivos para proteção dos inimigos naturais e polinizadores, e as pulverizações realizadas pela manhã. Um engenheiro agrônomo deverá ser requisitado para avaliação e indicação do controle químico. As pulverizações devem ser realizadas no período da manhã para preservação dos polinizadores.