Território Mata Sul Pernambucana
Via do Trabalho
Autor
Renato Carvalho - Consultor autônomo
A organização social Via do Trabalho é uma entidade que tem um perfil que se autodenomina “Trabalhadores e Trabalhadoras Associados”. É uma organização atípica para os padrões dos movimentos sociais conhecidos em face de não ser monotemática ou de causa única. Tanto atua no espaço rural quanto no espaço urbano.
Sua atuação decorre da condição de ser parte integrante do mundo do trabalho e nesta condição, sendo o trabalho o agente real da produção das riquezas, o propósito maior da organização é desenvolver as “Forças Produtivas do Mundo do Trabalho” para operarem um tipo de desenvolvimento que promova a igualdade substantiva e não apenas uma igualdade formal que, em geral, é o resultado obtido quando a ação é exclusivamente política e destituída da contrapartida econômica.
A Via do Trabalho pugna por reformas estruturais que contribuam para combater a realidade de miséria e pobreza a que está submetida parte da população brasileira, dentro de um modelo de desenvolvimento que vá além da ação governamental e transforme as ações produtivas em estruturas permanentes operadas desde a base da sociedade de modo garantir a sua sustentabilidade.
Por isso, a Via do Trabalho defende um tipo de desenvolvimento que possibilite ao mundo do trabalho sair de sua condição subalterna, e passe a ser considerado como o principal protagonista do desenvolvimento, não um desenvolvimento qualquer, mas um tipo de desenvolvimento que alie ao processo produtivo e reprodutivo material o respeito ao meio ambiente, a harmonia entre o ser humano e a natureza.
Área de Atuação da Via do Trabalho
A Via do Trabalho tem atuado no âmbito da reforma agrária e urbana, no fortalecimento da agricultura familiar com base na economia solidária. Deste modo, opera na organização socioeconômica e produtiva dos assentamentos da reforma agrária e agricultura familiar visando a desenvolver as forças produtivas no interior destes segmentos do mundo do trabalho.
No âmbito da reforma urbana a ação visa integrar as comunidades ao direito de ter acesso aos benefícios que a cidade pode oferecer mediante a articulação da luta por moradia e pelo desenvolvimento socioeconômico integral, ou seja, moradia e atividade econômico-produtiva associadas para fazer face ao desemprego estrutural. Um dos modos de integração é organizando as comunidades urbanas como distribuidores e consumidores consorciados.
Na economia solidária, o propósito da organização é articular e estruturar a rede de atividades típicas deste segmento social, conjugando suas ações à da reforma agrária, onde couber, e, nos espaços de desenvolvimento de suas atividades próprias buscar estruturar os empreendimentos de modo que tenham êxito e sustentabilidade dos seus negócios.
Em Pernambuco, a Via do Trabalho tem concentrado, propositadamente, sua intervenção nas Zonas da Mata Norte e Sul e na Região Metropolitana do Recife, afinal, mais de 70% de toda riqueza do estado se concentra nessas regiões e é nela que a organização busca inserir ações para que o mundo do trabalho possa usfruir o que aí existe, como possibilidade de acesso a bens que garantam a vida digna das pessoas.
Temas Trabalhados pela Via do Trabalho
A Via do Trabalho tem centrado seus esforços na organização de sistemas, cadeias e arranjos produtivos da socioeconomia do mundo do trabalho. Para tanto, é preciso conduzir uma reconversão produtiva destes segmentos trabalhados que, ao seu modo, deverão promover uma série de mudanças pelas quais a reforma agrária e agricultura familiar e os empreendimentos da economia solidária possam se adaptar às novas condições e exigências ao seu efetivo “Desenvolvimento como Novas Forças Produtivas”.
Neste sentido, a Via do Trabalho vem pugnando pela implantação de “Centros Dinâmicos da Socioeconomia da Agricultura Familiar, da Reforma Agrária e da Economia Solidária”, como se opera em Suape e no Vale do São Francisco. Esses centros (Polos de Desenvolvimento) consistem do seguinte:
1. Em primeiro lugar, vem um abrangente processo educacional, não apenas de ordem técnica, mas ampliadora dos horizontes de percepção dos produtores.
2. Estruturação de Sistemas de Produção e Arranjos Produtivos focando, em princípio, em agrupamentos prioritários, para ampliação da base produtiva e acumulação econômica.
3. Estruturação e fortalecimento da atividade comercial.
4. Estruturação de indústrias integradas aos sistemas de produção em agrupamento especiais.
5. Implantação de metodologia de estudo de cadeias produtivas.
6. Estruturação das comunidades como empreendimentos sólidos e de porte.
7. Incentivo a pesquisa e desenvolvimento.
8. Assistência técnica permanente e convertida a estes postulados, superando a visão pontual e localizada de ação.
9. Infraestrutura produtiva potente nos assentamentos e agricultura familiar dotando-os com todos os equipamentos necessários ao desenvolvimento de toda(s) cadeia(s) produtiva(s) e seus elos, de ponta-a-ponta.
10. Incentivos financeiros direcionados a estruturação e fortalecimento de alguns setores da atividade econômica, em princípio, e disseminando em outras culturas posteriormente;
11. Transformação das tradicionais associações de caráter reivindicativo em Organizações de Natureza Empresarial dos Produtores e Produtoras Livremente Associados, dotando-as de funcionalidade profissional.
12. Integração interregional entre os sistemas de produção e industriais.
13. Integração de políticas públicas interministeriais afetas ao desenvolvimento integral.
14. Estruturação gerencial dos empreendimentos, tomados individual e integradamente entre si.
Trabalhos Desenvolvidos na Mata Sul Pernambucana
1. Promoção da reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar;
2. Articulação e apoio a empreendimentos da economia solidária;
3. Implantação de processos educacionais em alfabetização e educação integral via Programa da Educação na Reforma Agrária (Pronera);
4. Estruturação de ações de agroecologia em assentamentos de reforma agrária;
5. Organização dos produtores da cultura da banana como ação de diversificação econômica:
a. Pesquisa e desenvolvimento;
b. Assistência técnica permanente;
c. Organização socioeconômica dos produtores;
d. Distribuição de mudas selecionadas;
6. Realização de um estudo de mercado em 10 países, incluindo o Brasil, visando a equalizar os sistemas produtivos de banana mediante a instalação de uma grande indústria de coprodutos.
A bem da verdade, não sendo um movimento de causa única a Via do Trabalho considera o movimento sindical, pelo seu papel na produção e reprodução social, como centro viável para transformação radical da realidade de domínio do capital. Mas, como movimento histórico a partir de possibilidades realmente construídas, centra sua intervenção em espaços rurais onde acumulamos força, conhecimento e articulação socioeconômica.
A Via do Trabalho defende a auto-organização das forças do mundo do trabalho e um tipo de desenvolvimento que promova a igualdade substantiva e não “uma noção de desenvolvimento que sempre aceitou as premissas do capital como orientadora de sua própria estratégia”.
Neste diapasão, considera-se que não se pode reduzir toda aspiração de mudança “(...) à concessão de nada além da ‘igualdade de oportunidade’ formalmente proclamada, mas socialmente nula”. Ademais, há falhas graves que derivam de uma lógica fragmentada de se conceber e promover a reforma agrária e a agricultura familiar ressaltando apenas alguns elementos quantitativos dispersos.
Por isso, a Via do Trabalho defende que a solução da democracia no Brasil passa, necessariamente, pela democracia econômica, e esta somente será promovida com o desenvolvimento das Forças Produtivas do Mundo do Trabalho, como agentes reais da produção de toda riqueza social.
Ao poder de controle sociometabólico do capital, determinante na reprodução material na sociedade, que a tudo converte em mercadoria, inclusive o ser humano e a natureza, deve opor-se um movimento sócio-político, econômico e cultural do mundo do trabalho e é a isto que se propõe a construir a Via do Trabalho. Sem sectarismo e vícios ideológicos.
Foto: Renato Carvalho, 2011
Figura 1. Distribuição de mudas de bananeiras para agricultores.
Foto: Renato Carvalho, 2011
Figura 2. Produção de mudas de bananeiras para agricultores familiares.
Foto: Renato Carvalho, 2011
Figura 3. Assistência Técnica a agricultores familiares.
Foto: Renato Carvalho, 2011
Figura 4. Capacitação em cultivos de bananeiras para agricultores familiares.
Foto: Renato Carvalho, 2011
Figura 5. Encontro de produtores de banana.