A minhocultura ou vermicompostagem é o processo de reciclagem de resíduos orgânicos por meio da criação de minhocas, sendo uma importante alternativa para resolver economicamente e ambientalmente os problemas dos dejetos orgânicos. O húmus de minhoca é um excelente fertilizante, capaz de melhorar atributos químicos (oferta, retenção e ciclagem de nutrientes), físicos (melhoria na estruturação e formação de agregados) e biológicos do solo (aumento da diversidade de organismos benéficos), podendo ser utilizado como matéria-prima para a obtenção de substratos. Esta é uma linha de pesquisa estudada na Fazendinha Agroecológica, resultando no desenvolvimento de diversas técnicas e estruturas para o sucesso da criação das minhocas, como cercados de alvenaria ou bambu e manilhas de poço. As espécies mais utilizadas no Brasil são a vermelha-da-califórnia (Eisenia foetida) e a noturna-africana (Eudrilus eugeniae). 

As minhocas exigem alimentação balanceada, rica em nitrogênio, fibras e carboidratos. Assim, toda matéria orgânica de origem animal ou vegetal passada por pré-compostagem - ou seja, semicurada - e livre de fermentação pode ser utilizada para alimentá-las. Podem ser usadas como fontes de matéria-prima: esterco de boi, cavalo e coelho, restos de culturas, palha, folhas, cascas de frutas, resíduos agroindustriais, lixo domiciliar e lodo de esgoto.

Técnicas de criação 

O local de construção do minhocário deve estar situado o mais próximo possível da matéria-prima utilizada como substrato. Além disso, é indicado que seja instalado em locais parcialmente sombreados, mas com boa insolação, em terrenos elevados, com pouca declividade, facilitando a construção dos canteiros e os sistemas de drenagem. É peciso que a água disponível seja limpa e abundante no local, principalmente em períodos de seca, quando é mais necessária para a irrigação dos canteiros. Os criatórios podem consistir em caixas de madeira ou tonéis de 200 litros, cortados longitudinalmente, com furos na parte inferior; canteiros de blocos, tijolos, madeira ou bambu, com piso cimentado ou de terra batida; ou disposição em montes, com o piso em terra batida ou cimentado. A quantidade necessária de minhocas para iniciar a criação é de 1 litro - aproximadamente 1,5 mil minhocas por metro quadrado.

Além de matéria-prima suficientemente rica para a alimentação, é preciso que o ambiente seja adequado para o bom desenvolvimento e reprodução das minhocas, com temperatura entre 20ºC e 25°C, umidade de 70% a 85%, pH 7,0, aeração e drenagem do meio, que não deve ser compactado nem encharcado. Depois de preenchidos os canteiros com as diferentes fontes de matéria-prima semicurada, é interessante cobri-los com folhas de bananeira ou restos de capina, para manter a umidade e proteger contra incidência direta da luz solar, além de dificultar a fuga das minhocas. Alguns inimigos naturais das minhocas devem ser controlados, como galinhas, sanguessugas, pássaros e formigas lava-pés. Se o ambiente natural não for favorável ao desenvolvimento das minhocas, elas tenderão a fugir, inviabilizando a produção do substrato. O húmus pode ser armazenado durante um período de até seis meses depois de produzido. Depois disso, vai perdendo seus nutrientes.

A minhocultura é capaz de produzir grande quantidade de biomassa de minhocas, que também pode ser utilizada na complementação da alimentação animal, na pesca esportiva, na venda de matrizes para produtores ou até mesmo na alimentação humana, devido ao elevado teor de proteínas.

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Outras tecnologias:

Gongocompostagem Gongocompostagem

A gongocompostagem é mais uma possibilidade de compostagem de resíduos orgânicos de origem vegetal. Ela é realizada pelos gongolos - também conhecidos como piolhos-de-cobra, maria-café ou embuás -, pequenos invertebrados que possuem uma excepcional capacidade trituradora, sendo capazes de se alimentar de materiais fibrosos como bagaço de cana-de-açúcar, sabugo de milho, aparas de grama e até papelão. O composto gerado dá origem, em cerca de 90 dias, a um substrato para produção de mudas muito leve, o que facilita o transporte no campo. Além disso, esses organismos são facilmente encontrados nas propriedades rurais e seu manejo é muito semelhante ao das minhocas. Eles vivem escondidos embaixo de folhas, pedras ou troncos de árvores, sendo às vezes confundidos com pragas. Leia mais.

Resgate de germoplasma da araruta Resgate de germoplasma da araruta

O resgate e a preservação da araruta (Marantha arundinacea), uma espécie nativa das florestas tropicais brasileiras, é um dos serviços desenvolvidos na Fazendinha. Do rizoma da araruta extrai-se um amido leve e de alta digestibilidade - o chamado polvilho de araruta, cuja comercialização foi praticamente abandonada pela indústria, devido ao plantio escasso da planta. A cultura é altamente eficiente no uso dos recursos naturais, com produtividade em torno de 20 toneladas de rizoma por hectare em solos de baixíssima fertilidade e sem adição de insumos. Por ser propagada vegetativamente por meio do plantio dos rizomas, a araruta depende do replantio constante. A recomendação do polvilho de araruta para pessoas com restrições a glúten despertou interesse pela cultura. A Fazendinha mantém um banco ativo de materiais coletados no Brasil, orienta o plantio e estimula a troca de materiais com as pessoas interessadas, além de manter uma publicação que resgata a culinária tradicional e os antigos sabores.

Uso de energia renovável na irrigação Uso de energia renovável na irrigação

A energia elétrica é um dos insumos básicos para a erradicação da miséria no campo - e sua falta é um grande entrave ao desenvolvimento rural. Para muitos agricultores, a irrigação é uma prática essencial, sem a qual não se produz, devido à falta de chuvas regulares. O uso sustentável da irrigação está ligado à racionalização do uso da água e, como a maioria dos sistemas pressurizados usa a energia elétrica, a utilização de energias renováveis (solar e eólica) tende a minimizar os custos de produção, além de viabilizar a irrigação em locais com fornecimento inadequado de energia. Esse trabalho é realizado na Fazendinha, e alternativas viáveis já existem para o melhor aproveitamento de energias limpas e com custos muito mais baixos do que os das fontes tradicionais.

Moirão vivo Moirão vivo

As cercas fazem parte da paisagem rural brasileira. Tradicionalmente, os moirões utilizados para sua construção são retirados do meio ambiente a partir do corte de árvores e, após tratamento para aumentar sua durabilidade, são fixados no solo. Em seguida, é esticado por eles o arame para cercar a área. O conceito do moirão vivo baseia-se na lógica da não derrubada de árvores para a construção de cercas, mas de seu plantio na linha divisória da área que se quer isolar para, a partir daí, esticar-se o arame. Algumas espécies, como o mulungu (Erytrina spp) e a gliricídia (Gliricidia sepium), podem ser utilizadas para esse fim. Ambas possuem boa porcentagem de brotação a partir de estacas, sem a necessidade de adição de hormônios de crescimento, sendo que, cerca de dois anos após o plantio, já podem receber o arame para fazer o isolamento da área. Essa tecnologia exige planejamento por parte do agricultor, mas possui vantagens como baixo custo e maior durabilidade, além de um efeito paisagístico belíssimo. Leia mais.

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