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Pasto eficiente na ILP deve ter rebaixamento de 40% da altura

Esta ação faz parte do manejo do pastoreio que influencia no rendimento final do animal, na receita e no lucro

O “Manejo de pastagens e melhorias ao meio ambiente” foi o tema da palestra do professor e pesquisador Edicarlos Damacena de Souza, da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR/MT), durante o 6º Seminário Técnico de Integração Lavoura-Pecuária, na Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), em 8 de agosto.

Ele levou informações científicas da Aliança SIPA (Sistemas Integrados de Produção Agropecuária) aos mais de cem participantes do evento que estavam presencialmente e aos internautas que assistiram pelo Canal da Embrapa no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=IYUgEgDLFys). “A Aliança SIPA é a nossa base científica, que gera conhecimento e transfere de forma direta ao produtor. Já fizemos isso em cerca de duas mil propriedades pelo Brasil”, explicou Damacena.

O evento contou com cinco palestras. Esta matéria é referente à segunda palestra. Cada dia, até 16 de agosto, será veiculada uma notícia por vez sobre cada tema abordado no Seminário.

 

Segundo a Embrapa, existem 28 milhões de hectares de pastagens com algum nível de degradação no Brasil. “O pasto precisa descansar um tempo. E um pasto cansado leva a uma série de desequilíbrios. Se tem alta intensidade de pastejo, a tendência é diminuição de cobertura do solo e de matéria orgânica; essa redução causa problemas na estrutura do solo, diminui retenção de água”, pontuou o professor.

Em solo arenoso, problema torna-se maior. A base é a matéria orgânica para melhorar a estrutura do solo tanto em pasto permanente quanto em pastagem de sistema integrado de produção como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP).

No manejo de pastoreio, é que a pastagem esteja numa altura adequada para o animal entrar. Damacena exemplifica com o pasto BRS Piatã, em que o gado deve entrar quando a forrageira estiver em uma altura abaixo de 40 cm. Ao invés disso, deixam entrar em área com BRS Piatã a 1 metro de altura. “O animal entra, tomba o pasto, acontece envelopamento e o estiolamento quando for plantar a soja mais para frente, há imobilização microbiana e percebe-se queda de produtividade da soja de até 6 sc/ha”, afirma.

Para além do pasto, o gado

O pesquisador também lembrou que é necessário levar o animal em consideração no manejo de pastoreio, assim como existe altura ideal de manejo seja pastoreio contínuo, permanente, na rotação e na integração. “Quando falamos em manejo de pastoreio, há muita informação em desfavor.  Há uma série de métodos de pastoreio diferentes que as pessoas estão criando. Hoje, basicamente estamos falando de dois métodos: contínuo e o rotativo. Qualquer pesquisa mostra que nos dois métodos não existe diferença de qualidade, se o manejo e se a taxa de lotação forem as mesmas”, garante Damacena.

A concepção de manejo de pastoreio é dividida em intensidade e em frequência de desfolhação. A intensidade de desfolhação é o quanto se rebaixa a altura inicial do pasto pelo gado; e a frequência é quantas vezes retorna-se o animal na mesma área para que ele possa pastejar. O comum, segundo o pesquisador, é alta intensidade e alta frequência, ou seja, o animal rebaixa muito o pasto e volta várias vezes na mesma área; é o pastoreio contínuo, em que quase não se vê variação na altura do pasto.

Por outro lado, tem o inexistente, com baixa intensidade e baixa frequência, utilizado em alguns casos para que os animais reduzam um pouco a fitomassa. O método de manejo intensivo, com alta intensidade de desfolha (braquiária a 50 cm e tira a 15 cm) e baixa frequência é o Voasin, o rotativo.

Mas existe o manejo com uma menor intensidade de desfolha, mas com frequência maior de desfolha. “Exatamente o oposto do que se tem como mais intensivo do sistema de produção, porque no sistema rotativo faz-se o animal comer mesmo que ele não queira, o que não é natural. E isso rebaixa muito o pasto, o animal come menos proteína no final e, ainda, causa a degradação do solo, porque fica pouca quantidade de resíduo para o Sistema Plantio Direto”, explica o palestrante.

Em experimentos com os animais, os pesquisadores observaram que a principal limitação para a produção animal a pasto era o tempo: tempo para pastejar, para beber água, para ruminar e para atividades recreativas. No manejo tradicional, em cada bocada no pasto, o animal capta 0,7 gramas de matéria seca (Brachiaria brizantha cv. Marandu, por exemplo) por bocado. Para comer 19 kg de matéria seca, ele faz bocado a bocado de 20 a 30 mil vezes por dia. Com dez horas de pastejo, ele captou quinze quilos.

“Só que este animal não vai pastejar mais do que oito horas por dia. E as outras atividades? Quando se maneja melhor a altura e o gado pasteja 1 grama por bocado, com oito horas ele captou a comida que precisava. Começamos a perceber que não é só a altura que é importante, mas também a quantidade de massa em altura que estava definindo a produção”, explicou o pesquisador. De forma geral, para os vários capins, quando se aumenta a altura do pasto, a taxa de ingestão aumenta, e o animal consegue captar mais comida em menos tempo. Se ficar muito alto ou muito baixo, diminui a taxa de ingestão e há perda na produção de carne.

Altura da pastagem

Qual altura que tenho que parar com o pastejo na área ou não deixar o pasto rebaixar para menos que aquela porcentagem? Quando esse animal der um bocado e captar menos comida e quando a taxa de ingestão cair. São sinais que se está se perdendo eficiência. O máximo de rebaixamento ideal é de 40% da altura do pasto para que não se tenha perda de eficiência do pastejo. Isso para todas as gramíneas e para toda categoria animal (ovino, caprino, cavalo, bovino, corte, de leite).

“Se o rebaixamento do pasto for menos de 40% de altura, começa a ter perda de matéria seca por dia. A diferença entre o pasto tradicional (mais ou menos de 40%) e o ideal (40%) são de 29 Kg de matéria seca/ha/dia de perda. O manejo do pastoreio vai influenciar no rendimento final do animal, na receita e no lucro, além de todos os atributos”, afirmou Damacena.

Segundo ele, o manejo ideal é o que chamam de rotatino: baixa intensidade (em vez de baixar 60%, a redução é de 40% da altura inicial do pasto) e alta frequência de entrada de animais. “Ou seja, eu tenho metas de manejo, eu posso ter no manejo contínuo ou no permanente. O que se muda é o número de piquetes que é reduzido drasticamente (no Cerrado não dá pra fazer mais do que três piquetes por lote para não perder manejo), alerta.

  

No manejo rotatino, a formação de massa seca e de raízes é maior que no manejo rotativo clássico. Ocorre rebrota mais rapidamente, há mais captação pelo animal, maior taxa de peso, de prenhez e maior receita. “O manejo do pasto nas alturas ideais influencia tanto no ganho de peso quanto nas emissões de metano entérico [metano emitido naturalmente pelos animais].  A altura média ideal é entre 23 cm a 30 cm. Mesmo na integração não pode deixar o pasto passar da altura ideal. Onde há maior ganho diário é onde se tem a menor emissão de metano entérico”, disse Damacena.

O impacto de um pasto manejado fora das alturas ideais é significativo. O pesquisador explicou que se manejar 1 cm fora da altura ideal, o animal terá que dar 400 bocados a mais, 13 minutos a mais por dia de pastejo, resultando em aproximadamente 183 passos a mais deste animal por dia, e, no caso da soja, reduzindo aproximadamente 34 kg a produtividade por hectare. É o resultado de um trabalho de cerca de 20 anos. Errou no manejo do pastoreio, perde na produção animal e na produtividade de soja”, avisou.

Adubação da pastagem

O pasto precisa de nitrogênio para ser bem nutrido, mesmo na ILP. Em um experimento de dois anos (Safras 2020/21 e 2021/22), na Fazenda Guarita, em Rondonópolis, MT, em área com adubação convencional (fósforo e potássio na soja), foram produzidas 61 sc/ha de soja. Quando foram colocados fósforo e potássio para o pasto, a produtividade subiu para 65 sc/ha de soja, mas quando se acrescenta ao fósforo e ao potássio também o nitrogênio no pasto, a produtividade da soja pula para 69 sc/ha. “Quando eu adubei o pasto, houve mais produção de carcaça e ainda aumentou a produtividade da soja, ou seja, existe potencial sim de melhorar o sistema de adubação em sistemas integrados de produção, com aumento de matéria orgânica no solo, além de outras melhorias”, pontuou.

Ele finalizou a palestra dizendo que, quando a ILP vai ser aplicada na propriedade, a consultoria vai mostrar a melhor forma de implantar na propriedade. ‘        Não estou dizendo que é para fazer em 100% da propriedade, mas em um plano de rotações, principalmente em solos arenosos, ela realmente é a solução da lavoura”.

6º Seminário Técnico de ILP – O Seminário é realizado anualmente. Em 2024, aconteceu na Embrapa Agropecuária Oeste e contou com mais de 100 participantes entre produtores rurais, técnicos e pesquisadores. Se quiser assistir a todo o evento que contou com cinco palestrantes na programação, acesse pelo Canal da Embrapa no YouTube: https://bit.ly/4cGMryA. O evento é uma realização da Embrapa Agropecuária OesteSustentAgro e Rede ILPF. Conta com o patrocínio da Ciarama Máquinas – John DeereSicredi e Pantanal Peças Implementos Agrícolas e tem o apoio da Cocamar Cooperativa.

Sílvia Zoche Borges (DRT-MG 08223)
Embrapa Agropecuária Oeste

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