Contonicultura
O Algodão no Cerrado Brasileiro
É no Cerrado que os agricultores colhem, hoje, a quase totalidade (mais de 90%) do algodão que abastece o mercado nacional e 42 países no mundo. Valendo-se de tecnologia, alcançam alta produtividade: a média é de 3,7 toneladas por hectare (2018), 65% mais do que nos Estados Unidos.
O algodão começou a migrar do Sul e Sudeste para a região central do Brasil no início dos anos 2000, a partir do Mato Grosso, após o declínio da produção nos anos 1980 e 1990, em decorrência do surgimento do bicudo do algodoeiro e de fatores econômicos. Ao clima e à topografia favoráveis do Brasil central, somaram-se os recursos tecnológicos obtidos pela pesquisa agropecuária, como as cultivares adaptadas e a mecanização.
Em uma década, a cotonicultura mudou de perfil, passando da produção familiar para a empresarial. Atualmente, abastece mais de 30 mil empresas e gera cerca de 1,5 milhão de empregos no País. Com quatro temporadas seguidas de safra recordes (2015/2016 a 2018/2019), o Brasil deixou de ser o maior importador de algodão para ocupar posições de destaque no mercado internacional: segundo maior exportador, quarto maior produtor e nono maior consumidor. O Valor Bruto da Produção (VBP) em 2019 foi de R$ 43,23 bilhões, atrás apenas da soja, milho e cana-de-açúcar. Em 2009, era quase oito vezes menor – R$ 5,54 bilhões (MAPA, 2020).
Histórico do Algodão no Brasil
A conexão entre o Brasil e o algodão é anterior ao descobrimento. Quando chegaram os portugueses, os índios brasileiros já teciam a fibra para confecção de armas, mantas, redes e outros objetos. Com o início da troca de experiências entre nativos e europeus, o algodoeiro, predominantemente do tipo arbóreo, passou a ser cultivado no Brasil como cultura complementar. No ano de 1760, houve o primeiro marco de crescimento, quando o estado do Maranhão exportou 130 sacas de algodão para a Europa, chegando a 69 mil sacas em 1830, época em que a cultura se expandiu rapidamente por todo o Nordeste (COSTA e BUENO, 2004).
Essa demanda foi aquecida pela revolução industrial na Europa. Para aumentar o suprimento de matéria-prima, cultivares de algodão herbáceo foram trazidas para o Brasil. Inicialmente testadas em São Paulo, rapidamente passaram a ser cultivadas também em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná. No início do século XX, fábricas de tecidos de algodão foram construídas nos principais polos produtores e industriais do País.
Nesta época, São Paulo e Paraná alternavam-se com maiores produtores nacionais. Entretanto, na década de 1980, a praga “bicudo do algodoeiro” alastrou-se e devastou o cultivo no Brasil. Somou-se a isso, na década seguinte, a redução das alíquotas de importação de algodão, o que colocou a fibra brasileira em situação desfavorável e reduziu drasticamente a cotonicultura em território nacional.
No início dos anos 2000, o cultivo do algodoeiro migrou para o Mato Grosso e, a partir daí, passou a ocupar o Cerrado do Brasil Central. Ali, os produtores encontraram clima e topografia favoráveis e contaram com a pesquisa agropecuária para a adoção de tecnologias que permitiram a total mecanização das lavouras. Com os trabalhos de melhoramento genético, surgiram cultivares adaptadas ao novo polo produtor e os cultivos de algodão passaram a ser realizados em grandes extensões de área. Neste terreno fértil, de ciência e capacidade produtiva, a cotonicultura expandiu-se para outras regiões do Cerrado, inicialmente para o Mato Grosso do Sul, depois Goiás, Bahia, Minas Gerais e, por fim, Maranhão, Piauí e Tocantins. Mato Grosso e a Bahia respondem, hoje, por 89% de toda a colheita nacional (CONAB,2020).
Usos do Algodão na Indústria
A pluma, que embeleza os campos de algodão, é o principal produto da cultura e dá origem a 25% da fibra que abastece a indústria têxtil em todo o mundo. Protegidas dentro da pluma, as sementes da planta também têm seu valor e, graças ao alto acúmulo de óleos e proteínas, encontram mercado nas indústrias de alimentos e rações. No Brasil, o óleo do caroço do algodão ganha espaço também no segmento de combustíveis renováveis, especificamente na produção de biodiesel.