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Integração de atividades agrícolas, pecuárias e florestais em assentamento de MS vai impulsionar uso de ferramentas digitais

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Foto: Rafael Rocha

Rafael Rocha - Semear Digital leva ILPF a pequenas propriedades de polo de pecuária de corte rodeado por lavouras de soja

Semear Digital leva ILPF a pequenas propriedades de polo de pecuária de corte rodeado por lavouras de soja

Em dezembro, o plantio de mudas florestais marcou o início da implantação da integração de sistemas de produção em duas propriedades do assentamento Rio Feio, em Guia Lopes da Laguna/MS. A iniciativa é resultado de parceria entre a Embrapa e a Rede ILPF como forma de inclusão digital. O município é um dos dez Distritos Agrotecnológicos (DATs) distribuídos pelas cinco regiões do País em que ações de conectividade, capacitação, pesquisa e desenvolvimento são realizadas por equipes do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital), liderado pela Embrapa Agricultura Digital com financiamento da Fapesp.

“Ao invés de derrubar minhas árvores, resolvi plantar mais árvores”, contou Émerson Cheres da Silva, dono do Sítio Nossa Senhora Aparecida, selecionado para a ação. Animado com o retorno das pastagens seu Émerson planeja dobrar o número de cabeças de gado e “de casa, saber a hora de manejar o pasto”, diz em referência ao desejo de fazer uso de ferramentas digitais. 

A realização é resultado de parceria entre os produtores rurais, o Semear Digital e a Rede Integração Lavoura Pecuária Floresta (Rede ILPF). A reestruturação dos sítios foi baseada no projeto SustentAgro, financiado pelo Land Innovation Fund (LIF), e executado via câmaras de agricultura digital e de carbono, segundo o pesquisador Ivan Bergier, ponto focal pela Embrapa no DAT Guia Lopes da Laguna. 

Na etapa de visitas técnicas do Semear Digital foi identificada a demanda pela recuperação de pastagens, visando à ampliação e diversificação de renda das propriedades. O sistema ILPF oferece vantagens frente ao monocultivo também por permitir uma gestão mais eficiente dos insumos e recursos naturais, aponta o coordenador do DAT pela Embrapa, Ivan Bergier.

A conversão de pastagens em sistemas de integração pode reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover a retenção de água. “Ou seja, uma agricultura regenerativa que adapta o sistema às mudanças do clima, tema que estará em destaque na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30)”, diz. O Brasil sedia a edição do evento este ano.

O monitoramento por satélite realizado por equipes da Embrapa Agricultura Digital mostrou que,  apesar de cercado por lavouras de soja e milho, o município de Guia Lopes da Laguna ainda se constitui em polo de pecuária de corte extensiva, em especial, contando com um frigorífico de abrangência regional. 

Os lotes do assentamento em que a rede ILPF iniciou atuação têm cerca de 20 hectares cada e foram selecionados para assistência técnica a partir de informação obtida por meio de sensoriamento remoto utilizado para monitoramento da mudança do uso da terra. Gabriel Ragalzi foi o técnico responsável pelo projeto de reestruturação dos sítios

“É incorreto acreditar que só as grandes propriedades dotadas de maquinário e implementos podem se beneficiar com o manejo integrado”, afirma Ragalzi. Mesmo sem esses equipamentos as pequenas propriedades podem melhorar sua rentabilidade, diz. 

O Sítio Nossa Senhora Aparecida teve a quase totalidade do lote reestruturada para receber o sistema Integração Pecuária-Floresta, com foco em bovinocultura de corte. O proprietário Émerson Cheres da Silva, estava perto de arrendar suas terras para lavoura, quando avistou na ILPF a chance de levar adiante seu negócio.  

Apenas o uso do celular tem feito parte do dia-a-dia de Silva, mas o produtor espera impulsionar a atividade a partir do acesso a aplicativos para administrar a propriedade e comercializar a produção.

Agrofloresta, apicultura e sucessão familiar

No sítio Sabor da Natureza, a opção foi pelo sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta em associação com agrofloresta, visando a polinização pelas abelhas, já que a apicultura responde por cerca de 60% da renda familiar. Na propriedade de Roque Vanderlei Soares e Ezilda Soares, onde chegaram há mais de 20 anos, foram plantadas mudas de baru, fruto de espécie arbórea nativa da região, e feito preparo do solo para pasto e plantio de espécies frutíferas.

“O Semear Digital chegou para viabilizar economicamente o reflorestamento e recuperação do pasto e realizar mais rápido o que a gente já planejava, a integração lavoura-pecuária-floresta”, diz Soares. Ele espera promover a diversificação produtiva do sítio fora da lavoura de grãos, mas aumentando e melhorando a criação de gado, bem como o cultivo de espécies alimentares para consumo próprio e venda de excedentes.

A sucessão familiar, outra preocupação do agricultor, é um projeto já em execução com o envolvimento dos filhos nas atividades e decisões relacionadas ao sítio. Os estudantes Paulo Soares, de 22 anos, e Maria Eduarda Soares, de 18, têm papel ativo na administração do negócio, impulsionado por meio de ferramentas digitais (veja no vídeo). 

 

Dia de Campo

O encontro técnico para disseminar a prática da interação de sistemas por meio da demonstração da tecnologia e seus benefícios junto à comunidade local.  Os contextos geral e histórico de uso e manejo do solo também foram apresentados com a participação de técnicos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer). 

Em etapas anteriores, a equipe técnica da Rede ILPF coletou solo para análise química e física, atuou na mecanização da área e na adubação de correção, e no plantio da pastagem consorciada com leguminosa. Ragalzi (foto) destaca que a implantação de sistemas de integração leva junto o interesse por ferramentas digitais, como aplicativos e softwares, de apoio ao monitoramento da propriedade rural.  

“ILPF é uma tecnologia fantástica que precisa ser melhor estudada junto aos pequenos e médios produtores”, diz o pesquisador Urbano de Abreu. O especialista em gestão de sistemas de produção acredita que a introdução da agricultura digital abre a possibilidade de acesso a políticas públicas e a iniciativas de criação de selo de sustentabilidade e certificação de comércio justo em Guia Lopes da Laguna - ponto de engorda e recria de gado do Pantanal.

Em cerca de três anos os sistemas estarão maduros, observa Bergier ao indicar que a implantação dos sistemas de integração são de médio a longo prazos, justificando o acompanhamento que será feito pela Rede ILPF e pela Embrapa por meio de sensoriamento remoto, diz.

Seleção acertada

A metodologia de seleção dos DATs utilizou 33 indicadores socioeconômicos para indicação dos municípios que recebem ações do Semear Digital, sintonizando a escolha com os objetivos do projeto. Ao final de um ano de atividades desenvolvidas nos dez DATs, a pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA) Priscilla Fagundes acompanhou as atividades em Guia Lopes da Laguna e comemorou os resultados.

“O mais relevante foi que quando chegamos (aos DATs), encontramos o que esperávamos. Certeza de que as tecnologias serão realmente implantadas”. Para ela, a metodologia foi um diferencial do projeto ao permitir que, aos dados sobre o agro, somem-se dados ambientais coletados nos cinco biomas brasileiros.

Em MS, três centros de pesquisa localizados no estado atuam em suporte ao DAT: Embrapa Gado de Corte e Embrapa Agropecuária Oeste além da Embrapa Pantanal. A introdução do ILPF nos sítios conta com o apoio da Rede ILPF, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer).

A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) é instituição participante do Semear Digital ao lado do Instituto  Agronômico (IAC/SP), do Instituto de Economia Agrícola (IEA/SP), Universidade Federal de Lavras (Ufla) e do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), além do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD). 

Valéria Cristina Costa (MTb. 15533/SP)
Embrapa Agricultura Digital

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Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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