Embrapa Pecuária Sul
Artigo - Embrapa Pecuária Sul: alimentos saudáveis de sistemas sustentáveis
Para nós, da Embrapa Pecuária Sul, fazer esta saudação à memória de 120 anos da Associação Rural de Bagé significa também uma viagem no tempo. Afinal, são 87 anos de coexistência desde a fundação da antiga Estação Experimental Cinco Cruzes em 1937, passando pela instalação da Unidade Experimental de Pesquisa Agropecuária (UEPAE-Bagé) em 1975, até a criação do Centro de Pesquisa de Pecuária dos Campos Sul-brasileiros em 1991, que perdura até os dias de hoje.
Em nossa trajetória, lideramos pesquisas que resultaram em tecnologias fundamentais para o setor produtivo nas áreas de melhoramento genético animal e de forrageiras, sanidade, nutrição, controle de plantas invasoras, recursos naturais, qualidade e diferenciação de produtos, dinâmicas socioprodutivas, entre outras, além do apoio à formação e interação com redes de produtores e técnicos como o Alto Camaquã, Rede Leite, Sulpasto, Agricampanha, Apropampa, Alianza del Pastizal, associações de raça (ANC, Hereford e Braford, Angus, Charolês e Brangus) e parcerias estratégicas com mais de 30 instituições públicas e privadas.
Mas os tempos mudaram e precisamos nos adaptar para continuar a apoiar a produção agropecuária. Para isso e tendo como referência nosso acúmulo histórico, estabelecemos como principal missão enfrentar aquele que representa um dos maiores desafios da humanidade: como produzir alimentos saudáveis em sistemas sustentáveis? Desde 2020 tem sido este o principal direcionador de nosso trabalho em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Para tanto, nossa equipe está organizada a partir da relação entre a Pecuária com quatro grandes temas da atualidade: clima, ambiente, saúde-nutrição humana e desenvolvimento territorial. Na relação pecuária-clima, buscamos a eficiência dos componentes do sistema de produção (genética animal e vegetal, sanidade, bem-estar e nutrição animal, e emissões de GEE), com destaque para a redução das emissões. Na relação pecuária-ambiente, nosso objetivo é a sustentabilidade do sistema produtivo, com foco no desempenho econômico, o uso eficiente dos recursos naturais e o incremento das remoções de carbono da atmosfera. No eixo da interação entre pecuária e saúde-nutrição humana, nosso foco está na qualidade nutricional e saudabilidade dos alimentos, visando agregação de valor e garantia de consumo, especialmente da carne. Na relação pecuária-território, nosso objetivo é promover a inovação, valorizando as redes de produtores e promovendo novas dinâmicas socioeconômicas.
Como síntese desse esforço, destacamos o trabalho de nossa equipe no desenho de sistemas sustentáveis de produção agropecuária que, tendo a pecuária como ativo central, possam gerar alimentos saudáveis. Trata-se não apenas de reproduzir sistemas de integração convencionais, mas de superarmos essa concepção a partir da intenção de gerarmos modelos ainda mais produtivos, rentáveis, estáveis e resilientes.
Convencionamos chamar esse conceito de produção de Sistema Integrado 365, cujo fundamento está na manutenção de plantas sempre vivas, de forma a mimetizar o funcionamento dos sistemas naturais (ecossistemas) nos sistemas de produção e, assim, potencializar um processo básico: a fotossíntese, melhorando todos os componentes do sistema – solo, pastagens, lavouras e animais.
A pecuária é a força motriz deste processo justamente porque é na introdução das pastagens que temos a melhor oportunidade de enriquecer essa biodiversidade, com o uso de diferentes plantas forrageiras, que devem se manter vivas, sobrepondo-se diferentes curvas de produção, naquilo que chamamos de Pasto sobre Pasto. Ao manter plantas vivas, por mais tempo durante o ano em cada metro quadrado do sistema, proporcionamos aos animais pastadores uma variedade de alimentação capaz de gerar um ciclo virtuoso, com a transformação da biomassa em elementos que vão enriquecer a biota do solo, como o esterco, a saliva e a urina. Ou seja, a presença do animal no pasto introduz diversidade no solo e o pasto introduz diversidade no rúmen, intensificando o crescimento das forragens e de suas raízes, aumentando a profundidade de solo, retendo e ciclando nutrientes, enriquecendo a vida do solo e, assim, sequestrando mais carbono, aumentando a produtividade, a resiliência, a estabilidade e o desempenho econômico do sistema, inclusive a produtividade e a sanidade das lavouras subsequentes. A cobertura do solo com plantas vivas ao longo do ano não só reduz plantas indesejáveis, mas proporciona sistemas mais seguros, menos onerosos e muito mais capazes de resistir aos diferentes estresses climáticos aos quais a produção agropecuária é suscetível. Ou seja, mais carbono no solo, mais pasto, mais carne, leite e grãos, mais dinheiro e mais alimento saudável na mesa.
Equipe Embrapa Pecuária Sul
Felipe Rosa (14406/RS)
Embrapa Pecuária Sul
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