Pró-Orgânico
História
A produção orgânica no Brasil carece de dados organizados. As informações sobre área plantada, projeções de safra, localização da produção, entre outras, são escassas e imprecisas. Em 2019, o problema foi apresentado à Embrapa Territorial (Campinas, SP) pela Superintendência de São Paulo do então Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A partir daí, o centro de pesquisa e a Comissão da Produção Orgânica de São Paulo - CPOrg/SP começaram a discutir soluções para gestão de dados que atendessem tanto às necessidades do poder público quanto às dos diversos elos desse segmento produtivo.
Logo ficou claro que seria preciso engajar os elos da cadeia produtiva na construção, bem como na alimentação e atualização de dados na solução a ser criada, para que ela funcionasse. Sabia-se que informações estratégicas estão disponíveis em documentos entregues periodicamente pelos produtores às certificadoras e sistemas participativos de garantia. O grupo, então, começou a pensar em um produto digital que reunisse esses dados e, ao mesmo tempo, fosse um serviço de valor para os produtores.
Para desenhar uma solução que atendesse às necessidades reais e gerasse valor, foram reunidas 42 pessoas de diferentes pontas da cadeia - do produtor rural ao consumidor, passando por pesquisadores e agentes públicos. Elas passaram uma tarde reunidas no Encontro com stakeholders – gestão de dados na produção orgânica, até chegar a protótipos iniciais de um produto digital.
Nesse encontro, os participantes utilizaram a abordagem do Design Thinking. Calcada nos valores de empatia, colaboração e experimentação, a abordagem é baseada no pensamento dos designers e convida cada participante a colocar em notas adesivas (post-its) suas respostas para as perguntas apresentadas. Normalmente presencial, o exercício gera painéis cheios de papéis coloridos, que permitem visualizar ideias, que depois são agrupadas e votadas para se chegar a um protótipo de solução.
No entanto, o encontro foi realizado em 6 de agosto de 2020, durante a pandemia de Covid-19, quando reuniões presenciais não eram recomendadas, por questões sanitárias. Por isso, o encontro foi virtual e o colorido dos papéis foi transferido para as telas dos computadores.
Nesse exercício com a cadeia produtiva de orgânicos, foram apresentadas aos participantes três perguntas sobre a gestão de dados e informações do segmento: O que sabemos? O que nos impede? Quais as soluções? O grupo foi dividido em seis salas, cada uma com foco em um dos seguintes temas: certificação e controle social, informações tecnológicas da produção e comercialização.
O protótipo de solução a que cada sala chegou foi compartilhado, ao final, com todo o grupo. Mas esse era só o início do trabalho. Depois de se debruçarem sobre as ideias geradas no encontro e fazerem novas discussões internas, as equipes da Embrapa e do MAPA/SP entenderam que o caminho seria trabalhar, primeiramente, em um projeto piloto na escala das unidades produtivas e em sua interação com as organizações de avaliação da conformidade. A experiência poderia ser expandida, depois para o território estadual ou nacional.
Chegou-se, assim, a um projeto de cooperação técnica, envolvendo a Embrapa, a Cooperativa Orgânica Agroflorestal Comuna da Terra - sediada em Ribeirão Preto, SP -, a Central das Associações de Produtores Orgânicos do Sul de Minas Gerais (Orgânicos Sul de Minas), o Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) e o MAPA/SP. Ele tem como objetivo desenvolver formulários digitais que facilitem o preenchimento periódico de dados pelos agricultores nos sistemas participativos. Atualmente, esses extensos formulários são preenchidos manualmente. Periodicamente, todo o trabalho precisa ser refeito. Com a digitalização, as informações ficam gravadas e o agricultor precisa apenas atualizar as mudanças e o que é específico de cada safra. O novo processo facilitaria também a gestão das organizações e começaria a gerar um banco de dados sobre o setor.
A equipe da Embrapa, então, foi a campo, em duas rodadas de oficinas com os agricultores. Na primeira, em 2021, ouviram sugestões dos agricultores sobre como tornar mais simples o preenchimento dos formulários. Desenvolveram, então, um protótipo e voltaram para os produtores os testassem antes de disponibilizarem as versões finais.
A Embrapa Territorial esteve à frente desse trabalho, mas contou com a parceria de outros centros de pesquisa da Empresa. A Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) contribuiu com sua expertise na aplicação da abordagem design thinking, na organização do Encontro com stakeholders – gestão de dados na produção orgânica e na análise das ideias geradas a partir deles. A Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) participou das oficinas com a Comuna da Terra, organização com a qual vem desenvolvendo projetos com sistemas agroflorestais. Já a Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG) contribuiu com seu conhecimento em letramento digital para as avaliações das versões dos formulários nas oficinas presenciais e online. Contou, ainda, com a colaboração da Embrapa Agrobiologia, na construção de um segundo produto, a Organoteca. Foram integradas à base de dados da Organoteca as informações técnicas associadas ao projeto "Conhecimentos e tecnologias para sistemas produtivos em agroecologia e produção orgânica: ações para a sistematização de informações e capacitação de agentes multiplicadores", o qual contou com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), como instituição financeira.