A edição de 2024 do Dia Mundial do Solo (5 de dezembro) foi a 10ª celebração de âmbito global e a Embrapa Solos (RJ) comemorou com uma série de eventos, externos ou voltados exclusivamente ao seu público interno. O tema escolhido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para a campanha deste ano, “Cuidando dos solos: medir, monitorar, gerenciar", ressaltou a importância de dados e informações precisas para entender as características dos solos e apoiar a tomada de decisões sobre o manejo sustentável do solo para a segurança alimentar. Na quarta-feira (4/12), um workshop reuniu especialistas no auditório do centro de pesquisa, também com transmissão on-line, para debater temáticas contemporâneas com as quais o solo está estritamente relacionado, como neutralização de carbono e combate aos efeitos das mudanças climáticas, segurança alimentar e nutricional e saúde única. Na abertura, Daniel Vidal Pérez, chefe geral da Embrapa Solos, chamou a atenção para o fato de que apenas nove países, de acordo com dados de 2022, são responsáveis por 80% das exportações dos grãos mais produzidos no mundo (trigo, milho, arroz e soja), e que 134 países dependem desses nove para mais de 50% da importação desses grãos. “Esse sistema é muito vulnerável, e ao mesmo tempo demonstra como é importante a questão dos solos, por que se os solos desses grandes exportadores não forem bem cuidados, ou sofrerem grandes alterações devido aos efeitos das mudanças climáticas, como vimos recentemente no Rio Grande do Sul, nosso maior produtor de arroz, poderemos ter sérias consequências”, refletiu. Beata Emoke Madari, pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão (GO), fez um panorama histórico e trouxe detalhes da iniciativa internacional 4 por 1000, solos em prol do clima e da segurança alimentar, lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 (COP 21), em Paris. A ação preconiza práticas sustentáveis de manejo do solo para o alcance de uma taxa de crescimento anual de 0,4% (4/1000) das reservas de carbono do solo, por meio do acúmulo de matéria orgânica, o que reduziria significativamente a concentração de dióxido de carbônico na atmosfera, ajudando a reduzir o impacto das alterações climáticas. Saúde única e sua relação com os solos foi o tema do painel com Janice Reis Ciacci Zanella, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves (SC). Os termos Saúde Única e Uma Só Saúde são traduções equivalentes para a expressão em inglês “One Health”, que foi apresentada no plano de ação conjunto elaborado no âmbito da Aliança Quadripartite (OMS-OMSA-FAO-PNUMA) para enfrentar as ameaças das crises sanitárias e climáticas à saúde dos seres humanos, dos animais, das plantas e do ambiente. Nesse contexto, a saúde dos solos é fundamental para que seja promovida a saúde das plantas, dos animais e dos seres humanos. Lucia Helena Cunha dos Anjos, professora do Departamento de Solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e membro da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), detalhou sobre o papel do Painel Técnico Intergovernamental de Solos (ITPS), da Aliança Mundial para o Solo da FAO, no qual é a atual representante do Brasil. O ITPS, composto por 27 especialistas em solos de todas as regiões do mundo, discute questões de manejo, biodiversidade e poluição dos solos, fornecendo aconselhamento científico e técnico e orientação sobre questões globais de solo à Parceria Global dos Solos (GSP) e a instituições globais e regionais. Ao refletir sobre o tema do Dia Mundial do Solo deste ano, Lucia Anjos destacou que informações generalizadas sobre os solos têm importância limitada para o produtor rural. Por isso, para cuidar e manter os solos saudáveis, cientistas e produtores precisam medir, monitorar e manejar os solos localmente, em escalas adequadas. Ações internas As comemorações internas na Embrapa Solos aconteceram na quinta-feira (5/12). Na parte da manhã, houve oferta de frutas no hall de entrada da unidade e um depoimento emocionado do assistente Juacy Campbell sobre sua superação de uma depressão associada à crise de pânico. Juacy contou que procurou tratamento multidisciplinar, que envolve acompanhamento psiquiátrico, psicológico e atividade física. Encontrou na corrida, prática que já exercia de forma esporádica e foi abandonada durante seu adoecimento, o bem-estar físico e, principalmente, mental. Após um ano de treinamento ele já completava uma maratona (42 Km), e atualmente corre ultramaratonas. A tarde foi reservada para palestras e debates técnicos relativos à temática escolhida pela FAO, com mediação da pesquisadora Ana Paula Turetta, chefe de P&D do centro de pesquisa. O primeiro palestrante foi Paulo Marcio Leal de Menezes, professor do Departamento de Geografia da UFRJ. Menezes falou sobre ‘Cartografia histórica e suas ligações com o presente’. “A cartografia é a ciência que mais evoluiu tecnologicamente nos últimos 60 anos devido aos avanços ocorridos na eletrônica e na computação”, disse o professor. Em seguida, foi a vez do pesquisador da Embrapa Solos Rodrigo Demonte Ferraz apresentar ‘Automação da Estimativa da Taxa de Cobertura - Indicador da Qualidade e Estado de Degradação de Pastagens Tropicais’. Ele falou sobre as causas dos processos de degradação de pastagens, que podem ser fatores bióticos (ocorrência de pragas, infestação de plantas invasoras e perda da biodiversidade edáfica) ou abióticos (fatores climáticos, déficits hídricos e excesso de umidade e chuva). “Atualmente, possuímos diversos métodos de mapeamento de pastagens, por smartphones, VANTs e satélites. Esses aparelhos contribuem para avaliar e diagnosticar a qualidade das pastagens, os níveis de degradação, condições de infestações de invasoras, avaliação das condições fitossanitárias, avaliação do vigor e da qualidade, monitoramento da degradação/recuperação e o mapeamento do uso do solo”, explicou Ferraz. Para encerrar o encontro, o também pesquisador da Embrapa Solos Fabiano Balieiro fez uma apresentação sobre a ‘Coleta de macromonolitos: desafios, contratempos e resultados’. No XXI Congresso Mundial de Solos, ocorrido no Rio de Janeiro, em 2018, aconteceu a Feira de Solos, que pretendia, entre outras coisas, exibir macromonolitos. Balieiro discorreu sobre a batalha que foi trazê-los para o local do Congresso, desde a extração dos macromonolitos no campo até seu transporte para o Rio de Janeiro. Embrapa&Escola O Programa Embrapa&Escola iniciou atividades comemorativas ao Dia Mundial do Solo ainda em novembro. Nos dias 25 e 28, a Embrapa Solos recebeu as visitas de 40 alunos e professores do ensino fundamental I do Colégio Oga Mitá, Unidade Usina, que assistiram a uma palestra sobre a importância dos solos na vida no planeta. "As turmas participaram de uma oficina de tinta de solo e vivenciaram a experiência de conhecer, ao vivo, a biodiversidade do solo como baratinhas e tatuzinhos, entre outros organismos que promovem a decomposição de resíduos vegetais", explicou o pesquisador Claudio Capeche. Já no dia 29/11, foi realizado um Dia de Campo sobre recuperação de áreas degradadas na Fazenda dos Caboclos, em Teresópolis (RJ), tendo como público alunos de pós-graduação do curso de Engenharia de Biossistemas da UFF, agentes ambientais do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis, além dos proprietários e funcionários da fazenda. No dia 3 de dezembro, o Embrapa&Escola esteve na UFRRJ, campus Nova Iguaçu, com uma palestra ministrada por Capeche sobre Educação em Solos, no evento “(Geo)² Coloquium – Falando sobre Geociências e Geografia”, organizado pela universidade. No dia 5/12, o Programa realizou oficinas de tinta de solo e simulador de erosão em conjunto com oficinas de plantio de hortaliças e contação de histórias no Espaço de Educação Ambiental EcoVilla RiHappy, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), para alunos e professores da escola municipal Júlio de Castilhos, localizada na Gávea, e crianças da Unidade de Acolhimento Urs Ziraldo, localizada na Tijuca. No mesmo dia, o podcast do Senar-Rio lançou episódio entrevistando Claudio Capeche, que abordou vários temas sobre os solos, de interesse dos agricultores e da sociedade em geral, incluindo a Educação em Solos - ouça aqui. O Embrapa & Escola também marcou presença, no dia 6/12, na Escola Municipal Lúcia Miguel Pereira, em São Conrado, interagindo com quase 100 crianças e professores com palestras e oficinas lúdicas de tinta de solo ministradas por Claudio Capeche. Para finalizar o mês especial do Dia Mundial do Solo, o Programa tem presença confirmada, no dia 14/12, no evento de formatura da ação de capacitação de jovens e crianças denominado Patrulheiros Ambientais Mirins, realizada pela Ong SOS Vida Silvestre, em seu Centro de Educação Ambiental no município de Cachoeiras de Macau (RJ).