Embrapa Solos
A Embrapa Solos e suas origens
A história do prédio
É muito difícil afirmar em qual data foi construido o prédio no qual a Embrapa Solos está situada (Rua Jardim Botânico, 1024), uma vez que o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a proprietária original do espaço, não possui este registro. Porém, durante uma obra na biblioteca da Unidade, em 2011, foram descobertos tijolos com inscrições como "Rio", "Santa Cruz" e a Cruz Pátea, que é uma das variações da Cruz da Ordem de Cristo (símbolo tradicional do Reino de Portugal e do Império do Brasil, que ocorreu entre 1822 e 1889).
Acredita-se que o prédio tenha uma longa história ligada ao estudo de solos, pois documentos sugerem que ele possa ter sido a sede de um antigo laboratório estabelecido para estudar pragas nas lavouras de cana, no século 19. Com a preocupação de relatar a história e não a estória da Embrapa Solos e suas origens, traremos informações a partir de 1918, data na qual foi criado o Instituto de Química Agrícola e passamos a ter registros confiáveis sobre o local em questão.
O Instituto de Química Agrícola
Em 1918 era instalado o Instituto de Química Agrícola (IQA). Com a interrupção da circulação marítima, devido a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), o governo adotou medidas para minimizar a grande dependência do Brasil aos gêneros importados. A substituição de importações dependia da aquisição de conhecimentos científicos que auxiliassem na instalação de indústrias essenciais como as de combustíveis, tecidos e alimentos.
Logo, o IQA, além da análise de comestíveis, adubos, inseticidas e fungicidas importados, passou a realizar também estudos de solos e de plantas de valor industrial. A finalidade era o aproveitamento e processamento local desses recursos. O ensino científico e prático fez parte de suas atribuições iniciais.
Para confirmar a importância do Instituto de Química Agrícola naquele período, verifica-se que importantes autoridades visitaram o instituto de pesquisa. Dentre eles vale o destaque para os ex-presidentes Epitácio Pessoa e Getúlio Vargas, além da cientista franco-polonesa Marie Curie, que foi a primeira pessoa a ganhar prêmios Nobel em diferentes áreas (Física, em 1903, e Química, em 1911).
Demonstrando a relevância da pesquisa de solos realizada pelo Instituto de Química Agrícola, em 1947 foi criado no espaço a Comissão de Solos, que deu início aos primeiros levantamentos de solos no Brasil. Neste mesmo ano, também foi fundada no local a Sociedade Brasileira de Ciência de Solo – atualmente sediada em Viçosa/MG.
A Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo - DNPEA
Em 1962, o IQA era extinto ao mesmo tempo que outros órgãos da pesquisa agropecuária. A decisão governamental causou polêmica e protestos de universidades e centros de pesquisas em todo país pela preservação do IQA. No Ministério da Agricultura prevaleceu a opinião de que algumas de suas seções eram acadêmicas e de que suas pesquisas não atendiam aos interesses imediatos de elevação da produtividade e modernização agrícola.
Contudo, o trabalho científico desenvolvido no IQA durante décadas de tantas mudanças no Brasil e no mundo não estava perdido. Ao contrário, ele foi disseminado por outros centros onde seus profissionais se estabeleceram. A pesquisa em produtos naturais teve continuidade em universidades.Uma parte do acervo do IQA foi incorporada ao Instituto de Óleos e o de Fermentação e, com a criação da Embrapa, deu origem ao atual Centro Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro/RJ). Outra parte do IQA foi reunida à extinta Comissão de Solos e deu origem à atual Embrapa Solos (Rio de Janeiro/RJ) – outras atividades deram origem, também, a Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ).
Durante o tempo em que funcionou, a Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo, vinculada ao Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA), continuou o trabalho realizado pela Comissão de Solos com relação aos levantamentos de solos no Brasil.
Naquele período vale a pena ressaltar o lançamento do Manual de Métodos de Análise de Solos (1969), de autoria de Leandro Vettori, responsável pelo início da automação das análises de solos no Brasil. Até hoje a obra é utilizada pela Embrapa Solos, passando por atualizações, e Leandro Vettori dá nome ao Laboratório de Análise de Água, Solo e Planta (LASP) da Embrapa Solos.
O Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos - Embrapa
Em 28 de maio de 1975 a Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo foi transformada em Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS), já vinculado a Embrapa. O SNLCS deu continuidade ao trabalho de reconhecimento dos solos, iniciado em 1947 pela Comissão de Solos – o acúmulo deste conhecimento acabou por gerar produtos como a 1ª versão do Mapa de Solos do Brasil em 1981, coordenado por Marcelo Nunes Camargo.
Três décadas de investigação dos solos brasileiros haviam aprimorado metodologias de campo e de laboratório e aperfeiçoado a execução dos levantamentos em diferentes níveis e escalas em solos e todo o país. Projetos específicos de colonização e desenvolvimento em áreas localizadas no norte e no centro-oeste seriam beneficiados pela aplicação do conhecimento acumulado sobre os solos nacionais.
Vale ressaltar que, naquele período, como o foco de atuação do SNLCS estava nos levantamentos de solos, a Unidade possuía 5 regionais: Nordeste (Recife/PE), Norte (Belém/PA), Centro-Oeste (Goiânia/GO), Sudeste (Rio de Janeiro/RJ, ao lado da sede do SNLCS) e Sul (Curitiba/PR). Desta forma, era facilitada a realização dos levantamentos de solos pelo Brasil.
A Embrapa, conjuntamente com outras instituições nacionais, provocou uma revolução na produção agropecuária brasileira. Investimentos em tecnologia possibilitaram, entre outras inovações, a mecanização dos cultivos, a intensificação da irrigação, o uso de fertilizantes e adubos, a correção de solos e o desenvolvimento de cultivares adaptados às condições regionais.
As tecnologias criadas tiveram tamanho impacto sobre a produtividade do solo brasileiro que o crescimento da produção na década de 1990 atingiu índice três vezes maior que o crescimento da população no mesmo período, sem que houvesse significativa incorporação de novas terras cultivadas. As novas áreas de expansão agrícola, a exemplo do cerrado, também apresentariam notáveis ganhos de produtividade a partir do aprimoramento técnico.
Centro Nacional de Pesquisa de Solos - Embrapa
Em 1993 o Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS) adapta-se ao novo enfoque institucional, passando a ter a denominação de Centro Nacional de Pesquisa em Solos (CNPS). Logo depois, a sigla era substituída pelo nome Embrapa Solos, dentro do objetivo da empresa de associar sua atuação em diferentes temas, produtos, serviços e biomas em torno de uma única marca.
O novo cenário da pesquisa agropecuária prescrevia a ampliação do leque de competências da equipe técnica para melhor capacitá-la a criar soluções ao uso sustentável dos recursos associados ao solo. Diferentes linhas de pesquisa passavam a ser desenvolvidas tais como a de recuperação de áreas degradadas, análise de água e plantas, matéria orgânica, sequestro de carbono, plantio direto, irrigação, agricultura de precisão, fertilizantes e fertilidade do solo.
A Embrapa Solos, além de continuar contribuindo para o desenvolvimento da agricultura tropical, encontra-se também diante do desafio de responder a questões que ganham cada vez mais importância quando se pensa no futuro do planeta, tais como mudanças climáticas, aquecimento global, degradação dos solos, contaminação e escassez das águas e a utilização de plantas para a produção de energia.
Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento de Recife - UEP Recife
A história da UEP Recife se confunde com a história da pedologia no Nordeste, começando em 1957, quando a Comissão de Solos, ligada, na época, ao Serviço Nacional de Pesquisa Agronômica (SNPA) do Ministério da Agricultura, criou a Frente Regional Nordeste, com sede no antigo Instituto Agronômico do Nordeste (IANE), iniciando o levantamento de solos do Estado de Pernambuco. Na época, a equipe contava com a direção de João Wanderley da Costa Lima, primeiro gestor da Unidade.
Fachada da UEP Recife
Em 1966, foi estabelecido um importante convênio de mapeamento dos solos de toda a Região Nordeste do Brasil e do Norte de Minas Gerais, entre o Departamento de Pesquisas e Experimentação Agropecuária (DPEA), depois Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA) e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), coordenado pela, então, Frente Regional Nordeste.
A partir de 1975, com a criação do Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS) da Embrapa, localizado no Rio de Janeiro (RJ), a Frente Regional Nordeste passou a denominar-se Coordenadoria Regional Nordeste (todas as regiões possuíam coordenadorias), permanecendo estabelecida no Recife (PE).
Em 1993, quando o SNLCS se transformou em Centro Nacional de Pesquisa de Solos (CNPS), todas as coordenadorias regionais do CNPS foram extintas, com exceção da Coordenadoria Regional Nordeste, que, em função da sua importante atuação, foi transformada no Escritório Regional de Pesquisa e Desenvolvimento do Nordeste (ERP-NE) e depois na UEP Recife, referência nos estudos dos solos da região Nordeste.
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Linha do Tempo
Conheça os principais marcos históricos e entregas à sociedade da Unidade ao longo de quase cinco décadas. -
Matéria Especial
"Embrapa Solos ajudou a desvendar o território brasileiro", publicada em maio de 2023.