Perguntas e respostas
É possível adotar o sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em pequenas propriedades?
A integração lavoura-pecuária é um sistema que, em princípio, adapta-se a qualquer tamanho de propriedade, desde que as condições edafoclimáticas (clima, solo etc.) não sejam restritivas. Basta lembrar que o plantio consorciado de milho com capim (Jaraguá e Colonião), nas décadas de 1950 e 1960, foi prática comum na implantação manual de pasto nas "roças de toco"; portanto, factível de ser adotada na pequena propriedade. Contudo, em propriedades caracterizadas pelo uso intensivo de máquinas agrícolas e insumos (corretivos, fertilizantes, herbicidas, pesticidas) a escala de produção pode ser determinante da viabilidade econômica do sistema. Assim, é necessário planejamento eficiente, gestão competente e envolvimento de equipe multidisciplinar.
Existem limitações físicas e geográficas para a implantação do sistema ILPF, como por exemplo clima (geadas, seca) e terrenos declivosos, arenosos ou muito úmidos?
Em solos declivosos, a principal limitação é a mecanização, mas é possível o uso de implementos com tração animal, e a distribuição das faixas de árvores deve ser realizada em curvas de nível. Nas demais situações, já existem conhecimento e tecnologias adaptadas para diferentes condições edafoclimáticas.
O produtor que decidir adotar o sistema ILPF deve fazê-lo em toda a área da propriedade?
Se o produtor não tem experiência com o sistema recomenda-se iniciar o sistema em áreas menores para adquirir conhecimento com os processos e práticas necessárias para a implantação do sistema e, além disso, minimizar riscos de produção e financeiro.
Depois de quanto tempo é possível obter retorno econômico positivo com a adoção do sistema ILPF?
Em sistema de integração lavoura-pecuária, em menos de dois anos é possível obter retorno positivo. Nos sistemas agrossilvipastoris, dependendo das práticas silviculturais adotadas (desramas e desbastes), os retornos positivos podem ser obtidos entre quatro a oito anos.
É possível consorciar lavoura e pastagem no sistema ILPF? Como?
Na integração lavoura-pecuária, o consórcio de culturas anuais com capins é uma prática comum. E tem por objetivos antecipar o estabelecimento do pasto e a produção de palhada para o plantio direto. No sistema agrossilvipastoril, normalmente, nos dois primeiros anos realiza-se o plantio de culturas anuais (soja, milho, sorgo, arroz) entre as fileiras (aleias ou renques) de árvores com a finalidade de minimizar o impacto negativo no fluxo de caixa e evitar danos dos animais no componente arbóreo. A partir do segundo ano, dependendo da espécie de árvore plantada, é possível plantar as forrageiras (fase silvipastoril). A implantação da pastagem pode ser realizada por meio de consórcios de lavoura de grãos com forrageiras.
Como selecionar a espécie florestal para compor o sistema? E existem outras espécies de árvores recomendadas para o sistema ILPF além do eucalipto?
A escolha adequada das espécies arbóreas a serem introduzidas é de grande importância para o sucesso do sistema. As árvores devem ser escolhidas de acordo com a adaptação ao local; arquitetura da copa favorável; facilidade de estabelecimento, exigências do mercado para os produtos das árvores; escolha de espécies de rápido crescimento; tipo de raiz das árvores; controle de erosão e escorrimento superficial de águas da chuva, sombra para os animais e compatibilidade com pastagens e gado, ou seja, não apresentando efeitos negativos aos animais, como toxicidade, ou influências negativas para os demais componentes (cultivo de grãos e pastagens). Atualmente, a espécie de maior potencial de utilização no sistema ILPF é o eucalipto devido seu rápido crescimento, oferta de clones adaptados a diferentes regiões, arquitetura de copa rala, elevado rendimento econômico e que proporciona usos múltiplos com a produção de multiprodutos madeireiros e não madeireiros. Outras espécies estão sendo utilizadas, como: acácia (Acácia mangium), paricá, pinho cuiabano (Schyzolobium amazonicum); mogno africano (Kaya ivorensis); cedro australiano (Toona ciliata), canafístula (Pelthophorum dubium), grevílea (Grevillea robusta), pínus Pinus spp. Também há pesquisas com mogno brasileiro (Swietenia macrophila), teca (Tectona grandis), nim-indiano (Azadirachta indica), mulateiro (Calicophylum spruceanum), amarelão (Aspidosperma vargassi), sumaúma (Ceiba pentandra), taxi-branco (Sclerolobium paniculatum), pau-de-balsa (Ochroma pyramidale), gliricídea (Gliricidia sepium), entre outros.
Como determinar o espaçamento ideal de árvores e a quantidade de linhas e renques?
Existem diversos arranjos de sistemas de ILPF que são modulados de acordo com o perfil e os objetivos da propriedade rural. Além disso, essas diferenças nos sistemas se devem às peculiaridades regionais do bioma e da fazenda, como: condições de clima e de solo, infraestrutura, experiência do produtor e tecnologia disponível. A adoção da ILPF pode ser facilitada pela adequada distribuição espacial das árvores no terreno, visando práticas de conservação do solo e água, favorecimento do trânsito de máquinas e a observância de aspectos comportamentais dos animais. Para tanto, o arranjo espacial mais simples e eficaz é o de aleias, onde as árvores são plantadas em faixas (linhas simples ou múltiplas) com espaçamentos amplos. A distribuição das faixas de plantio das árvores é realizada preferencialmente no sentido Leste-Oeste e deverá ser em curvas de nível, impedindo a erosão do solo e a perda de água por escoamento superficial.
Quando e como se deve fazer a desrama?
Se a finalidade da utilização da madeira for para utilização na serraria, é de extrema importância que a desrama seja realizada com o objetivo de produzir madeira com maior qualidade e livre de nós. Para o eucalipto, a desrama pode ser realizada quando as plantas estiverem com mais de 8 cm de diâmetro à altura do peito (DAP). A altura da desrama não pode ser superior à metade da altura da planta, pois poderá prejudicar o seu desenvolvimento.
É verdade que o eucalipto e outras espécies de árvores retiram muita água do sistema ILPF?
O eucalipto é muito eficiente no uso da água, não consome mais água por unidade de biomassa produzida do que qualquer outra espécie vegetal. O consumo de água de uma floresta de eucalipto é em torno de 900 a 1.200 mm por ano.
O componente florestal (F) do sistema ILPF é obrigatório em todos os casos?
Não. O conceito de ILPF adotado pela Embrapa engloba modalidades sem árvores (integração lavoura-pecuária) e com árvores (sistema silviagrícola, sistema silvipastoril e sistema agrossilvipastoril).
O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) com adoção de plantio direto é uma alternativa para melhorar a eficiência na mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs)?
Sistemas mais intensivos, com uso de fertilização e/ou em associação com leguminosas (pastos consorciados), com lavouras e com o componente florestal, são alternativas para melhorar a eficiência de uso da terra, diminuindo a emissão de GEEs. A utilização de plantas arbóreas de rápido crescimento contribui para a mais rápida decomposição dos resíduos depositados e o aumento da matéria orgânica do solo (MOS) um importante armazenador de carbono, além do carbono estocado na madeira.
Existe algum programa de financiamento ou linha de crédito para quem deseja adotar o sistema ILPF na propriedade?
A integração lavoura-pecuária-floresta é uma das tecnologias incentivadas pelo Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Programa ABC). O Programa ABC foi criado em 2010 pelo Governo Federal e concede benefícios e créditos para os agricultores que querem adotar técnicas agrícolas sustentáveis. A taxa de juros do Programa é a menor fixada para o crédito rural destinado à agricultura empresarial é de 5,5% ao ano. O prazo de pagamento pode chegar a 15 anos. Além do sistema de ILPF, o Programa ABC também incentiva iniciativas relacionadas ao plantio direto na palha, fixação biológica de nitrogênio, recuperação de áreas degradadas, plantio de florestas e tratamento de resíduos animais.
- Publicação
Integração lavoura-pecuária-floresta: o produtor pergunta, a Embrapa responde
Na forma de perguntas e respostas, um conjunto de informações relacionadas aos sistemas de integração lavoura pecuária floresta, que busca contribuir para o entendimento da importância desses sistemas, sua implantação, seus benefícios, suas particularidades regionais e principais desafios para ampliar sua adoção em todo o território brasileiro. Portanto, representa um rico acervo de informações práticas que se destinam aos empresários rurais e formadores de opinião que desejam conhecer e adotar adequadamente os sistemas de ILPF.