22/06/17 |   Biotecnologia e biossegurança  Melhoramento genético

Múltiplas perspectivas para a pecuária de leite

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Em um futuro próximo, o panorama da pecuária de leite poderá sofrer mudanças importantes. Ferramentas de edição genômica, como CRISPR, poderão ser aliadas importantes para que a área de melhoramento genético animal possa promover inúmeras modificações em qualidade e quantidade com velocidade superior às técnicas até então existentes.

De acordo com o pesquisador Luiz Sérgio Camargo, as ferramentas de edição genômica podem incluir aplicações bastante pontuais na bovinocultura leiteira. “Existem mutações benéficas que surgem conforme a evolução de determinada espécie ou raça e que, no entanto, não existem em outra raça com a qual precisamos trabalhar. A engenharia genética de precisão permite uma eficiência muito maior para que possamos desenvolver tal mudança em raças que não possuem as características que gostaríamos”, explica. 

Com a técnica, será possível editar o genoma de acordo com a mutação desejada ou mesmo inserir uma sequência gênica encontrada em outra raça no exato ponto que vai determinar a alteração. O pesquisador completa: “Isso proporciona um controle muito maior sobre o que se pretende, em comparação com as ferramentas usadas anteriormente.”

Um exemplo recente da aplicação da edição genômica na pecuária é a geração de animais mochos em raças de produção leiteira, como a holandesa, em que raramente nascem animais sem chifres, ao contrário da raça britânica Angus, naturalmente sem chifre. Segundo Camargo, já foram gerados nos Estados Unidos dois animais em cujo genoma foi adicionado o alelo “mocho” (polled), um deles já em fase de produção de sêmen. Embora o impacto econômico dessa mudança não seja tão relevante, é significativo para o bem-estar animal e dos trabalhadores. “Sem necessidade da descorna química ou com ferro quente, não há sofrimento para o animal. Por sua vez, a ausência do chifre é mais segura para o trabalhador e para o próprio rebanho”, ressalta.

Camargo revela que há perspectivas de pesquisas para induzir mutações ou introduzir genes ou alelos visando desenvolver animais com maior resistência a carrapatos, especialmente nas raças de origem europeia, mais suscetíveis ao problema. O carrapato bovino causa prejuízos acima de US$ 2 milhões/ano à pecuária brasileira: “Porém, isso ainda depende dos resultados de estudos genômicos e fenotípicos associados que mostrem o caminho para uma edição do genoma que promova o aumento da resistência ao parasita.” 

Também há propostas para produção de leite hipoalergênico, com a alteração da beta-lactoglobulina e outras proteínas que compõem o produto e são responsáveis por provocar intolerância em consumidores. Outra pesquisa em andamento visa alterar determinadas enzimas para ampliar a quantidade de ácidos graxos insaturados, como o ácido linoleico conjugado (CLA, presente em grande quantidade no azeite de oliva), o que possibilitaria a produção de leite com elementos que possuem papel preponderante na redução do risco de doenças humanas, como arterioesclerose, infarto, AVC e vários tipos de câncer, entre outras. 

“Todas essas perspectivas na área agrícola, como outras de tamanha importância na área da saúde humana e animal, tornar-se-ão realidade com maior rapidez, caso se decida por uma regulamentação segura mas menos complicada, baseada nas características finais do produto e que seja mundialmente reconhecida e aceita pelos consumidores”, alerta a pesquisadora Maria José Sampaio. •

Marcos La Falce
Embrapa Gado de Leite

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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