Carta ao leitor - Tradição e futuro
O vinho acompanha a humanidade desde tempos remotos, preenchendo as páginas da história e da mitologia, e é, tradicionalmente, um produto de regiões de clima temperado. Agora, essa bebida secular anda desafiando fronteiras. As videiras que lhe dão origem desenham uma nova geografia e crescem onde o sol forte reina o ano inteiro. Seca, altas temperaturas, pouca chuva não parecem impedi-las e não amedrontam pesquisadores e produtores determinados a obter, mesmo nessas condições, vinhos de qualidade. É o que se observa no Vale do Submédio São Francisco, no Semiárido nordestino, onde vinhos tranquilos e espumantes vêm sendo produzidos durante todo o ano, graças à associação entre características naturais da região e tecnologia gerada pela pesquisa agropecuária.
Esse é o tema da reportagem Especial desta edição da XXI Ciência para a Vida. A matéria conta, ainda, experiências de jovens produtores entusiasmados com as novas possibilidades de trabalho, realização pessoal, renda e geração de emprego proporcionadas por esse vinho solar, que inspirou nossa primeira capa totalmente ilustrada. A designer Luciana Fernandes guiou-se por Van Gogh, artista que utilizava como técnica a tinta a óleo e pinceladas justapostas lado a lado. Na capa, foi usado giz pastel oleoso, que, com seu toque macio e preciso, deu ritmo à ilustração. É marcante na capa o contraste entre as cores − o vinho da bebida, o amarelo do sol e o verde do mandacaru, planta típica da região semiárida, assim como os tons de terra, que caracterizam a aridez e secura do solo.
O vinho tropical é uma quebra de paradigmas, assim como a Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats (CRISPR), uma nova tecnologia que veio para revolucionar a genômica, permitindo identificar, no DNA, pedaços de genoma de interesse e modificá-los de acordo com necessidades da pesquisa. Funciona, de forma metafórica, como um corretor ortográfico ou um processo de “corta e cola”. No caso, relacionado à manipulação de genes com precisão, rapidez e menor custo.
A pesquisa agropecuária trabalha com os olhos voltados também para o futuro. Não é de se estranhar que cientistas brasileiros estejam buscando plantas capazes de enfrentar doenças que nem sequer entraram no País. É o caso do desenvolvimento de variedades de arroz resistentes a Xanthomonas oryzae pv. oryzae, bactéria de difícil controle químico, que dizima até 50% das suas lavouras. O Brasil está preparado para enfrentá-la, graças ao melhoramento genético preventivo, que segue a máxima de que é melhor prevenir do que remediar. As primeiras linhagens de arroz com resistência à bactéria foram validadas no Panamá, como explicado no espaço da editoria Pesquisa.
Antecipar-se aos problemas que podem atingir a humanidade no futuro, investigando, já agora, possíveis soluções, também é a preocupação de pesquisadores envolvidos na busca de alternativas para a geração de energia, a exemplo do professor Fernando Galembeck. Nas páginas da entrevista, ele fala sobre higroeletricidade, seu potencial e limitações, e também sobre outros estudos na área.
Recomendamos ainda a leitura de reportagem sobre a parceria entre Brasil e África, que vem fortalecendo a cotonicultura em solo africano, na editoria Internacional. No artigo, o tema selecionado foram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprovados pela Organização das Nações Unidas. Eles deverão inspirar políticas públicas que guiarão a humanidade nos próximos anos.
Esta edição, a 16, encerra um ciclo em que pudemos entregar aos leitores nossa publicação de forma impressa e disponibilizá-la, ao mesmo tempo, na internet. A partir da próxima edição, uma nova revista, digital e contemporânea, poderá ser acessada apenas no endereço www.embrapa.br/revista. O compromisso com a qualidade continuará o mesmo.
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