"Sementes orgânicas de hortaliças: necessidade ou obrigatoriedade? " Esse foi o tema abordado em seminário apresentado no dia três de março pelo pesquisador e chefe-adjunto de Transferência da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) Warley Marcos Nascimento, coordenador do Programa de Tecnologia de Sementes, que discorreu sobre tópicos como demanda, oferta, legislação, desenvolvimento de cultivares e investimento em linhas de pesquisa. De acordo com o pesquisador, o crescimento substancial da demanda por hortaliças orgânicas, estimulada pelas exigências dos consumidores por produtos isentos de resíduos de agrotóxicos, não obteve a mesma resposta em termos de produção de sementes certificadas organicamente. "O incentivo que a produção orgânica vem tendo nos últimos anos ainda não foi suficiente para resolver todas as dificuldades do sistema, a exemplo da pouca oferta de sementes produzidas organicamente para atender ao processo de certificação em toda a cadeia", observa Nascimento. Os efeitos dessa situação refletem-se no uso de sementes convencionais em boa parte do cultivo orgânico, e reverter esse cenário tem sido um dos grandes desafios do setor, "que é o de expandir a capacidade de produzir sementes de diversas espécies em quantidade e com qualidade para atender a procura em alta por parte dos produtores". "Hoje, alguns agricultores produzem a própria semente, ou usam sementes convencionais, tratadas com produtos químicos". Essa questão, por enquanto ainda longe de ser equacionada, influenciou na ampliação e depois revogação do prazo previsto pela Instrução Normativa (IN) nº 64, de 18/12/2008, sobre a obrigatoriedade do uso de sementes orgânicas. Com a mudança, a partir de 2016 cada estado da Federação poderá produzir listas definindo quais espécies e variedades terão que ser obrigatoriamente orgânicas, conforme prevê decisão da Câmara Temática da Agricultura Orgânica, vinculada ao MAPA, durante reunião realizada em dezembro de 2013. Desafios da pesquisa Com relação ao papel da pesquisa nesse contexto, a Embrapa Hortaliças vem trabalhando para dar respostas à cadeia produtiva desse segmento, por meio de ferramentas, como o manejo de água e solo, que ajudem a minimizar os problemas com pragas e doenças sem o uso de defensivos químicos. Mas para o pesquisador, que desenvolveu e aprovou projeto sob a temática, "o grande trunfo da pesquisa foi e continua sendo o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas ao cultivo orgânico". "Como a maioria das hortaliças cultivadas no Brasil é produzida com sementes vindas de países de clima temperado ou adaptadas ao cultivo convencional, desenvolver e/ou disponibilizar cultivares para as nossas condições tropicais e ao cultivo orgânico vai exercer influência na qualidade fisiológica e sanitária das sementes produzidas neste sistema", sustenta Nascimento, para quem "esse tem sido o nosso maior desafio".