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Brasil lista 20 pragas agrícolas mais importantes que ainda não chegaram ao País
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa elaboraram, pela primeira vez em conjunto, uma lista com as 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias para ações de vigilância e pesquisa, que ameaçam, caso entrem no País, culturas como milho, soja, mandioca, batata, arroz e várias frutas. Três das pragas listadas já contam, inclusive, com planos de contingência. Existem atualmente cerca de 500 pragas quarentenárias – entre fungos, insetos, bactérias, vírus, nematoides e plantas daninhas – oficialmente reconhecidas como ausentes no Brasil.
Em 2007, o Ministério publicou a Instrução Normativa nº 52, que estabeleceu a lista de pragas quarentenárias ausentes e presentes. A publicação dessa lista é uma das obrigações do País como membro da Convenção Internacional para Proteção dos Vegetais (CIPV). De acordo com o coordenador-geral de Proteção de Plantas do Mapa, Paulo Parizzi, essa convenção prevê que os países devem publicar listas de pragas regulamentadas a fim de que os outros países e parceiros comerciais possam ter mais clareza quanto às ações que cada um toma para evitar a introdução de pragas, uma vez que as medidas fitossanitárias devem ser tomadas para pragas que sejam regulamentadas pelo País. “A priorização é importante porque permite desenvolver um trabalho mais focado nas necessidades específicas de cada praga destacada, visando a evitar sua introdução e melhor preparo caso entrem, e dessa forma adotar as medidas necessárias para sua erradicação e controle.”
De acordo com Paulo Parizzi, a parceria entre o Departamento de Sanidade Vegetal (DSV/Mapa) e a Embrapa traz benefícios tanto para o trabalho de vigilância quanto para a pesquisa. “O DSV se beneficia por poder contar com especialistas para dar suporte científico às suas ações, enquanto a Embrapa tem a possibilidade de ver o resultado de suas pesquisas ser traduzido em ações de regulamentação. Assim, os esforços das duas instituições são somados na luta contra a entrada de pragas quarentenárias.”
Das 20 pragas listadas como prioritárias, três já contam com planos de contingência: o fungo Moniliophthora roreri, que infecta os frutos do cacaueiro; o inseto Cydia pomonella, que ataca principalmente a maçã; e o Candidatus Phytoplasma palmae, fitoplasma que causa o amarelecimento-letal-do-coqueiro. Em março deste ano, o Mapa constituiu grupo de trabalho, do qual participam os pesquisadores Fernando Haddad e Miguel Dita, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), para elaborar o alerta fitossanitário e o plano de contingência para a raça 4 Tropical (R4T) de Fusarium oxysporum f. sp. cubense (Foc), fungo que ocasiona a doença conhecida como mal-do-panamá, uma das mais destrutivas da cultura da bananeira. Antes restrita ao sul da Ásia, onde sua rápida e agressiva disseminação tem provocado severas perdas em países como Filipinas, Taiwan, Indonésia e China, a raça 4 tropical, ou R4T, foi detectada no fim de 2013 em plantações da África. Segundo especialistas, sua chegada às Américas é uma questão de tempo. Existem hoje pelo menos 50 variedades suscetíveis ao R4T, o que converte esse patógeno em uma séria ameaça para a bananicultura mundial.
“Esse já é um desdobramento do trabalho de priorização. E o R4T foi considerado em 2015 oficialmente como praga quarentenária ausente pelo Mapa após trabalho desenvolvido pela Embrapa. O mesmo tentamos fazer agora com o vírus da estria- marrom-da-mandioca (CBSV), uma praga muito nociva, um vírus transmitido por mosca-branca, que causa prejuízos incalculáveis na África, que não pôde entrar na lista de prioritárias por ainda não ser reconhecida oficialmente”, conta o pesquisador Francisco Laranjeira, líder do Portfólio de Sanidade Vegetal da Embrapa.
Laranjeira acrescenta que uma das consequências desse trabalho de priorização é a detecção de lacunas, seja no campo do conhecimento científico, seja no da defesa fitossanitária. “Esse vírus da estria-marrom-da-mandioca, por exemplo, não pôde ser considerado na lista de prioritárias porque ainda não é regulamentado como praga quarentenária. Existe fora do País, é exótica, mas como ainda não foi reconhecida oficialmente como quarentenária, não podemos nem começar a trabalhar com ela”, conta. A Embrapa, assim como no caso do R4T, elaborou um documento com informações de pesquisa relacionadas ao estriado-marrom-da-mandioca para que o vírus seja reconhecido pelo Mapa como uma praga quarentenária ausente.
“Então, a tarefa não é simplesmente dizer que tais pragas são prioritárias e a pesquisa vai trabalhar com isso. A atuação conjunta entre o Mapa, a defesa agropecuária e a pesquisa é uma das grandes oportunidades de integração em políticas públicas e desenvolvimento tecnológico que surgiram com esse trabalho de priorização”, diz Laranjeira. Em maio deste ano, foi realizado, na Embrapa Mandioca e Fruticultura, como vitrine do trabalho que vem sendo executado, o Simpósio sobre Pragas Quarentenárias Ausentes de Mandioca e Fruteiras Tropicais, que reuniu especialistas da própria Embrapa, da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado da Bahia (Adab) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Exemplo da importância dos mecanismos de defesa
Alerta fitossanitário e plano de contingência são mecanismos utilizados pela defesa fitossanitária para prevenir ou reduzir a possibilidade de entrada de material infectado no País, mas, caso isso aconteça, devem maximizar as chances de erradicação dessas pragas. Um exemplo da importância desses mecanismos é o que aconteceu com a Cydia pomonella, que já foi uma praga presente no País de 1991 a 2014. O Mapa constituiu um grupo de trabalho, definindo a implementação de um programa de supressão, substituído posteriormente por um programa de erradicação das plantas hospedeiras. Em 2014, após declarada oficialmente a erradicação da C. pomonella no Brasil, o programa foi substituído por um plano de contingência. Desde então, a C. pomonella continua com status de quarentenária ausente, sendo essa a única erradicação de um inseto-praga no Brasil.
Esse trabalho em torno da Cydia pomonella, coordenado pelo entomologista Adalécio Kovaleski, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho (RS), vem sendo utilizado como referência por vários países. “Frequentemente participo, a convite do Mapa, de discussões comerciais de importação de frutas hospedeiras e tenho auxiliado o Ministério nas questões relativas ao Sistema de Mitigação de Risco para Cydia pomonella com a Argentina, tendo acompanhado seis missões visando a auditar o programa, entre outras atividades”, informa o pesquisador, que foi o responsável pelas primeiras capturas do inseto no País.
Metodologia para priorização
Utilizando a metodologia de priorização AHP, as pragas foram ranqueadas de acordo com 20 critérios divididos em três grandes grupos: entrada; estabelecimento e dispersão; e impacto estimado.
Na observação sobre a entrada, consideraram-se distância entre localização mais próxima e a fronteira brasileira, número de países fronteiriços em que ocorre, número geral de países em que ocorre, volume de importação de material hospedeiro/artigo regulamentado, número de importações de material hospedeiro/artigo regulamentado e número de continentes onde a praga ocorre. Estabelecimento e dispersão abrangem adaptação climática no Brasil, número de hospedeiros, área total das culturas hospedeiras, percentual de microrregiões com cultivos de hospedeiros, eficiência de métodos de controle (erradicação), estimativa de distância de dispersão natural anual e probabilidade de dispersão antrópica. E impactos estimados incluem critérios sobre expectativa de percentual de dano, valor da produção anual da cultura hospedeira, número de países que regulamentam a praga, número de estabelecimentos com a cultura hospedeira, número de empregos na cadeia produtiva dos cultivos hospedeiros e potencial de contaminação por agrotóxicos.
A definição dos critérios aconteceu durante workshop realizado em outubro de 2016 na sede da Embrapa, em Brasília, que reuniu oito Unidades (Embrapa Amapá, Embrapa Hortaliças, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Quarentena Vegetal, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Roraima e Embrapa Tabuleiros Costeiros), além do DSV. A ideia do workshop surgiu como resultado de um encontro promovido em agosto pelo DSV, em Brasília, quando a equipe da Embrapa foi convidada para apresentar o Portfólio de Sanidade Vegetal e o Arranjo Quarentena, conjunto de projetos coordenado pela pesquisadora da Embrapa Roraima Elisângela de Morais. “É a primeira vez que oficialmente o DSV e a Embrapa fazem uma lista dessas em conjunto. Isso promove mais integração entre as partes e pode dar, por exemplo, um direcionamento maior em termos de decisão de alocação de recursos para trabalhos com pragas quarentenárias”, analisa Laranjeira.
As 20 pragas quarentenárias ausentes prioritárias
Confira um breve resumo de cada uma das 20 pragas quarentenárias ausentes priorizadas (em ordem alfabética), com informações básicas sobre qual o tipo de praga, a cultura que ataca, onde está presente hoje no mundo e por que representa uma ameaça para o Brasil. O pesquisador Marcelo Lopes, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que integra o grupo de trabalho que atua na priorização, alerta que esse é o status delas atualmente, mas, caso entrem no País, podem apresentar comportamento diferente sob condições brasileiras, atacando, por exemplo, outros tipos de culturas. African Cassava Mosaic Virus – vírus (mandioca) Considerada a doença mais significativa da cultura da mandioca, o mosaico da mandioca é causado por um complexo de diferentes vírus, predominante em todas as regiões de cultivo de mandioca da África subsaariana e no subcontinente indiano. Possui várias formas de transmissão, incluindo a enxertia e inoculação mecânica em espécies de plantas herbáceas. Também é propagada por meio de manivas (ramas) infectadas. Uma característica fundamental das áreas geográficas gravemente afetadas pelo mosaico é a presença de grandes populações de moscas-brancas nas plantações, eficiente vetor desse complexo viral. A transmissão é do tipo persistente, e o vírus pode ficar retido na mosca-branca por até nove dias. O African cassava mosaic virus é uma das principais espécies causadoras do mosaico, tendo sido inicialmente descrito em 1894. A incorporação da resistência a essa doença nas variedades brasileiras tem sido alvo do programa de melhoramento da Embrapa. Anastrepha suspensa – inseto (goiaba) Também conhecida como a mosca-das-frutas-do-caribe, ataca preferencialmente a goiaba, mas infesta várias outras espécies de importância econômica, como os citros. É originária das ilhas do Caribe, onde está distribuída por toda aquela região, além do sul e centro da Flórida e Guiana Francesa. Algumas características que a praga possui favorecem a ocorrência de prejuízos: alta variabilidade genética, alto potencial reprodutivo e alta adaptabilidade a diferentes ambientes. Há significativo risco de introdução no Brasil, pela fronteira com o Estado do Amapá. Algumas espécies de Anastrepha podem voar até 135 quilômetros. Portanto, o movimento natural pode ser um meio importante de dispersão. Já no comércio internacional, o principal meio de dispersão para áreas não infestadas é o transporte de frutas contendo larvas vivas. Bactrocera dorsalis– inseto (frutíferas) É uma espécie de mosca-das-frutas com alta capacidade reprodutiva. Ataca mais de 300 espécies de plantas, como goiaba, laranja, maçã, manga e pêssego. Está amplamente distribuída na Ásia (onde se originou), em locais como Índia, China, todo o Sudeste Asiático, Nova Guiné, ilhas do Pacífico Sul e Havaí, Filipinas e Palau. É a principal e mais destrutiva praga de frutas nos países em que se encontra e está entre as cinco principais pragas agrícolas no Sudeste Asiático. Sua introdução em novas áreas geralmente ocorre via transporte de frutos infestados, especialmente por passageiros aéreos e encomendas. Bactrocera dorsalis é uma ameaça para a fruticultura brasileira, pois o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo e exporta cerca de 800 mil toneladas de frutas frescas por ano, sendo a maior parte das fruteiras hospedeiras da praga. Boeremia foveata – fungo (batata) A gangrena-da-batata tem como agente etiológico o fungo Boeremia foveata. As culturas da batata, beterraba, cenoura, cevada, ervilha, cidra e quinoa são hospedeiras do fungo, que é nativo da região dos Andes. A praga foi relatada em mais de 40 países, distribuídos principalmente pela Europa e de forma mais restrita na Ásia, Oceania, África e América. O risco de introdução no Brasil deve-se à presença do patógeno em países fronteiriços (Colômbia e Peru), além do Chile na América do Sul. Esse fungo pode sobreviver no solo, mas a principal forma de dispersão se dá por trânsito de batatas-sementes infectadas. O risco de introdução é potencializado pela ausência de sintomas nos tubérculos durante o cultivo devido ao período de incubação do patógeno. Há o risco adicional de acometimento de outras culturas nacionais. Brevipalpus chilensis – ácaro (kiwi, videira) Ácaro conhecido como falso-ácaro-vermelho-chileno, tem como principal hospedeiro a uva, mas também ataca kiwi, limão, caqui, cherimoia, ligustro e várias flores e plantas ornamentais. O Brevipalpus chilensis foi descrito em 1949 em limões interceptados importados do Chile. Porém, espécimes guardados em museu são datados do início dos anos 1900. É reportado somente no Chile, especialmente a região temperada desse país, causando severos danos em uva para vinho tinto. Os ácaros se desenvolvem na parte de baixo das folhas, principalmente ao longo das nervuras, causando amarelecimento e encarquilhamento de folhas e morte de brotos. Devido ao seu tamanho diminuto, B. chilensis pode ser facilmente transportado em material vegetal vivo ou morto. É uma ameaça para cultivos de uvas no sul do Brasil. Candidatus Phytoplasma palmae – fitoplasma (coqueiro) O amarelecimento-letal (AL) é uma doença causada pelo fitoplasma Candidatus Phytoplasma palmae. A variabilidade desse microrganismo é alta, inclusive com relatos de que existem diferentes fitoplasmas associados à doença, a depender da região do planeta em que ocorre. A transmissão desse microrganismo por meio da cigarrinha Haplaxius crudus já foi confirmada, sendo possível também haver outros insetos vetores envolvidos em sua disseminação. Recentemente, espécimes de H. crudus foram coletados na região Norte do Brasil, confirmando a presença do vetor do AL no País. A principal planta hospedeira dessa doença é o coqueiro, sendo considerada a mais devastadora doença dessa cultura no mundo. Porém, o AL também causa a morte de mais de 40 espécies de palmeiras. Até hoje não foi detectada nenhuma variedade de coqueiro resistente. O AL já dizimou plantações na América do Norte (EUA e México) e em diversos países da América Central e Caribe, bem como na África. A região Norte do Brasil pode ser considerada a área com maior risco de introdução do AL, devido à proximidade com o Caribe e ao intenso trânsito de pessoas nas fronteiras portando material vegetal ou insetos transmissores infectados. Cirsium arvense – planta daninha (trigo, milho, aveia, soja) O Cirsium arvense (L.) Scop. (cardo-canadense) é uma planta infestante extremamente nociva em climas temperados. Afeta lavouras de ervilha, milho, feijões, alfafa, beterraba açucareira, trigo, soja, pastagens e pradarias, entre outras. É de fácil dispersão com sementes minúsculas que podem ser conduzidas pelo vento a distâncias de até mil metros. Acredita-se que o centro de origem seja entre o Mediterrâneo e as zonas temperadas da Europa e sua distribuição nativa engloba norte da África e Eurásia Temperada, que inclui a Ásia menor, Sibéria, China e Japão. Foi introduzida na América do Norte e Hemisfério Sul e hoje se encontra em todas as províncias do Canadá, Nova Zelândia, África do Sul, Chile e sudeste da Austrália. A espécie merece atenção nos estados do Sul do Brasil, pois se apresenta morfologicamente semelhante a outros cardos já existentes nessa região, o que dificultaria sua detecção precoce. Cydia pomonella – inseto (maçã) Considerada a principal praga da maçã no mundo, trata-se de um inseto, uma mariposa. Os hospedeiros primários são a maçã, nozes, pera e marmelo, e secundários as frutas de caroço (pêssego, ameixa, nectarina, cereja e damasco). Embora atualmente seja considerada uma praga quarentenária ausente do Brasil, ocorreu entre 1991 até 2014, ano em que foi considerada oficialmente erradicada. No entanto, sua presença na Argentina e ampla distribuição geográfica (América do Sul, América do Norte, vários países da África, Europa, Rússia, países do Oriente Médio e Austrália) tornam a probabilidade de uma nova introdução não desprezível. O impacto seria considerável, visto o alto potencial biótico da praga para condições ambientais brasileiras. É uma praga de regulamentação internacional, o que faz com que países importadores das frutas brasileiras imponham restrições sanitárias. Ditylenchus destructor – nematoide (milho, batata) Nematoide com ampla gama de hospedeiros, que compreende mais de 90 espécies de plantas, sendo a batata a principal. Outras plantas hospedeiras são batata-doce, cenoura, beterraba, plantas daninhas e várias plantas ornamentais como lírio, tulipa, gladíolo e dália. D. destructor está presente na Europa, Ásia, África do Sul, América do Norte e Oceania. É de significativa importância econômica, causando grandes perdas na cultura da batata, principalmente na Europa e em vários países que formavam a União Soviética. Os efeitos de D. destructor podem ainda ser percebidos após a colheita ou durante o armazenamento dos tubérculos. A espécie é capaz de sobreviver à dessecação e baixas temperaturas. Após o desenvolvimento do nematoide, os tecidos tornam-se necrosados e há invasão de bactérias, fungos, ácaros e outros nematoides. Fusarium oxysporum f.sp. cubense Raça 4 Tropical – fungo (banana) O fungo Fusarium oxysporum f.sp. cubense é o agente etiológico da doença denominada mal-do-panamá. A doença ocorre no País, mas especificamente a Raça 4 Tropical desse fungo é uma praga quarentenária ausente do Brasil e das Américas. Estima-se que mais de 80% das bananas cultivadas sejam suscetíveis a essa raça, com destaque para as cultivares do grupo Cavendish, resistentes às raças 1 e 2. A murcha de Fusarium foi descrita pela primeira vez na Austrália em 1876, tendo origem provável no sudeste do continente asiático, no entanto, a nova variante do fungo foi relatada a partir dos anos 1990. A Raça 4 Tropical está presente no norte da Austrália, China, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan, Sumatra, Sulawesi, Jordânia e Moçambique. O fungo pode ser disperso associado a plantas infectadas, além de solo contaminado ou qualquer instrumento, equipamento e até mesmo calçados que carreguem solo. O fluxo de água em áreas contaminadas pode aumentar o foco da doença. No Brasil, pode causar sérios impactos à produção visto que praticamente todos os materiais plantados comercialmente são suscetíveis à Raça 4 Tropical. Globodera rostochiensis – nematoide (batata) O nematoide do cisto da batata é considerado uma das principais pragas da batata em áreas de clima temperado e também em climas mais quentes nas localidades mediterrânea e chilena onde as batatas são cultivadas durante a temporada inverno-primavera. Possui cerca de 150 espécies hospedeiras do gênero Solanum. Muitas dessas são espécies selvagens encontradas na América do Sul (batata amarela e batata roxa). Está presente também na África, Ásia, América Central (Panamá), Europa, além do Médio Oriente, América do Norte e Oceania. Pode demorar até 20 anos a partir do momento em que G. rostochiensis é introduzido em uma área antes de os sintomas serem observados nas plantas de batata. As perdas podem ser de até 80% em áreas tropicais de cultivo de batata, nos quais o nível de infestação pelo nematoide é alto e o cultivo é contínuo. Lobesia botrana – inseto (videira) Inseto conhecido popularmente como traça-da-uva ou traça-dos-cachos-de-uva. Trata-se de uma pequena mariposa, com menos de um centímetro e meio que ataca as flores e os frutos das videiras. É uma praga polífaga, que se desenvolve em plantas de mais de 25 famílias. Na cultura da uva, põe seus ovos isoladamente, distribuindo-os no cacho de uvas, o que dificulta sua visualização, e as lagartas alojam-se no interior dos cachos, sendo difícil o seu controle. Está presente no continente Europeu, nos Estados Unidos e países da América do Sul. Na Europa, é considerada a principal praga da videira. Está presente tanto na Argentina quanto no Chile, que exportam uvas para o Brasil, sendo que a Argentina faz fronteira com o País, ou seja, pode ser introduzida na região Sul, que tem áreas de produção de uvas e condições climáticas para que a praga se estabeleça. Moniliophthora roreri – fungo (cacau) A monilíase tem como agente etiológico o fungo Moniliophthora roreri. As culturas do cacaueiro e do cupuaçuzeiro sofrem os maiores impactos da praga. Mas a doença pode incidir também sobre plantas silvestres do gênero Herrania, conhecidas como cacau-jacaré. O primeiro relato da doença foi no Equador em 1917, mas a provável origem do fungo é a Colômbia. A doença está restrita ao continente americano. Há relatos em Belize, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela. A incidência da doença em países fronteiriços eleva o risco de introdução no Brasil pela região Norte. Estima-se que a monilíase pode causar perdas de até 80% na produtividade de frutos no Brasil, caso não haja controle da doença, com o consequente abandono de áreas ou aumento dos custos de produção. Pantoea stewartii – bactéria (milho) É uma bactéria originária da América e afeta o milho, principalmente o milho doce, causando uma murcha conhecida como a doença de Stewartii. Os sintomas caracterizam-se por listras amarelas, encharcadas ao longo das folhas e pela murcha. A bactéria sobrevive em restos culturais e é transmitida por sementes. Uma forma importante de dispersão dá-se, ainda, pelo inseto-vetor, o besouro Chaetocnema pulicaria. A doença de Stewartii foi verificada, inicialmente, nos Estados Unidos, em 1898. Na Europa, existem relatos na Áustria, Grécia, Polônia, Romênia e Rússia, onde a bactéria é considerada de menor importância devido, provavelmente, à ausência do vetor. Sérios impactos econômicos podem ser considerados com a introdução da bactéria no Brasil devido à importância do milho como alimento ou commodity. Plum Pox Virus – vírus (pessegueiro, ameixeira) Sharka ou plum pox é uma das doenças mais destrutivas de frutos de plantas do gênero Prunus. É particularmente prejudicial em damasco, ameixa-europeia, pêssego e ameixa-japonesa, porque reduz a qualidade e causa queda prematura de frutos. A doença foi relatada pela primeira vez em ameixa-europeia na Bulgária em 1917 e descrita como uma doença viral em 1932. Desde então, o vírus se espalhou progressivamente para uma grande parte da Europa. Apresenta distribuição restrita na América do Sul, América do Norte e Ásia. O agente causal, Plum pox virus (PPV), é facilmente transmitido por muitas espécies de afídeos de forma não persistente e por enxertia. O movimento do material vegetal propagativo infectado é a principal maneira pela qual o PPV é disseminado a longas distâncias. A transmissão por enxertia pode contribuir para a disseminação viral se o material de plantio a ser utilizado não for certificado. Striga spp. – planta daninha (milho, caupi) Striga ou witchweed (erva-de-bruxa) é um gênero parasita do sistema radicular que drena nutrientes, carboidratos e água das plantas hospedeiras causando atrofia, murcha e clorose. Mais de 30 espécies de striga são reconhecidas no mundo, 80% das quais são endêmicas na África. Striga asiatica (L.) Kuntze é semiparasita de cereais como milho, sorgo e arroz e de cana-de-açúcar, e é considerada a espécie do gênero mais difundida pelo mundo. Ocorre na África, península arábica, Ásia e no fim do século XX já havia infestado 200 mil hectares na Carolina do Norte (EUA) antes de ser notificada. Striga hermonthica (Delile) Benth., também semiparasita, está adaptada a infectar gramíneas dos trópicos semiáridos da África. Já Striga gesnerioides (Willd.) Vatke tem o hábito holoparasita (parasitismo completo), sendo praga de fumo, feijão-caupi e batata-doce. Essa espécie ocorre no Leste da África e recentemente foi relatada na Flórida e Guiana. Tomato ringspot virus – vírus (frutíferas e tomate) Vírus que infecta fruteiras de clima temperado, como framboesa, amora, maçã, ameixa, cereja, pêssego, uva e morango, que são propagadas principalmente por mudas e estacas, perpetuando os vírus nos pomares, caso o material esteja infectado. Além disso, é transmitido por sementes de framboesa, morango, pelargônio, soja, tabaco e tomate. Também infecta pimenta, pepino, lírio e orquídeas. A disseminação a curta distância dentro do cultivo ocorre principalmente via vetor, que são nematoides. O vírus está amplamente disseminado na América do Norte e Europa, ocorrendo também na Austrália e Nova Zelândia, e de forma mais restrita na África, Ásia, América Central e América do Sul. A principal ameaça do vírus ao Brasil está representada por sua ampla gama de hospedeiros. Essa ameaça pode se tornar maior em virtude de trânsito de material vegetal infectado e solo com presença de nematoides transmissores. Toxotrypana curvicauda – inseto (mamão) Conhecido como a mosca-do-mamão, o inseto também já foi encontrado em manga e outras plantas. Está presente na América Central e Caribe (Bahamas, Belize, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Porto Rico, São Cristóvão e Neves, Trinidad e Tobago, Ilhas Virgens dos Estados Unidos); na América do Norte (México e Estados Unidos) e na América do Sul (Colômbia e Venezuela). É a principal praga de mamão nas regiões tropicais e subtropicais dessas regiões. Os frutos infestados com suas larvas tornam-se amarelos e caem da árvore prematuramente. A praga dissemina-se por meio do transporte de frutos infestados e por amostras de solo. Considerando a relevância socioeconômica do cultivo de mamão no Brasil (um dos maiores produtores e exportadores da fruta), a introdução de Toxotrypana curvicauda no País causaria grandes prejuízos. Xanthomonas oryzae pv. oryzae – bactéria (arroz) Trata-se de uma bactéria que causa a queima bacteriana do arroz ou a murcha denominada “Kresek” em plântulas. Foi relatada primeiramente no Japão em 1922 e se dispersou para Bangladesh, China, Coreia, Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Mianmar, Nepal, Paquistão, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan, Vietnã, Austrália, Bolívia, Colômbia, Burkina Faso, Camarões, Costa Rica, El Salvador, Equador, Gabão, Honduras, Mali, México, Niger, Panamá, Rússia, Senegal, Togo, Estados Unidos e Venezuela. O seu potencial de introdução em áreas indenes ocorre por meio de sementes, solos e água contaminados e por meio de plantas selvagens. Representa uma ameaça para o Brasil, pois a bactéria pode ser introduzida pelas sementes e se adaptar em áreas de plantio com temperaturas e umidade elevadas em diferentes biomas. Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa – bactéria (videira) A bactéria Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa causa a doença conhecida como mal- de-pierce da videira, além de infectar outras espécies vegetais, incluindo a amendoeira e a alfafa. A doença foi primeiramente descrita em 1892, nos Estados Unidos, onde foi responsável pelo desaparecimento de extensas áreas de plantio de uvas viníferas e americanas. Até há pouco tempo, a espécie Xylella fastidiosa estava presente nas Américas, mas, nos dois últimos anos, sua ocorrência foi registrada na Ásia e na Europa (França, Itália, Alemanha e Espanha). X. fastidiosa subsp. fastidiosa representa grande ameaça por ser altamente agressiva, de difícil controle e por ser disseminada por insetos vetores, as cigarrinhas. O controle químico dos vetores não traz resultados promissores. A bactéria pode se dispersar por meio de material de propagação vegetativa contaminado e pode causar sérios danos à viticultura do País na circunstância de uma introdução inadvertida. |
Colaboradores: Ricardo Adaime da Silva (Embrapa Amapá); Abi Marques, Eloisa Ferreira, Eudes Carvalho e Fernanda Rausch (Embrapa Quarentena Vegetal); Fernando Haddad (Embrapa Mandioca e Fruticultura); Marcelo Lopes, Marcio Sanches, Norton Polo, Olinda Martins e Vilmar Gonzaga (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia); Elisângela de Morais (Embrapa Roraima); Viviane Talamini (Embrapa Tabuleiros Costeiros); e Michel Dollet (Cirad/França).
Alessandra Vale (MTb 21.215/RJ)
Embrapa Mandioca e Fruticultura
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