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Entreposto móvel processará pescado próximo ao produtor
Um contêiner refrigerado de 12 metros de comprimento transportado por uma carreta realizará o processamento de peixes ao lado das pisciculturas. Trata-se do entreposto móvel de pescado (EMP), desenvolvido pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) com apoio de parceiros, que está sendo validado esta semana, em Fortaleza (CE), na Embrapa Agroindústria Tropical. O objetivo é levar aos pequenos piscicultores um serviço de processamento seguro, de acordo com a legislação sanitária e que agregue valor ao produto.
“O EMP atende a uma demanda por frigoríficos com menor custo de implantação”, conta a pesquisadora da Embrapa Patrícia Costa Mochiaro Soares Chicrala, líder do projeto que desenvolveu o equipamento. Ela relata que um entreposto tradicional, com capacidade para processar cinco toneladas de tilápias por dia, custa em média R$ 5 milhões para ser implantado. Em contrapartida, o EMP, mais simples e compacto, custa um décimo desse valor.
O equipamento foi projetado com estrutura modular, permitindo que etapas de processamento possam ser adicionadas de acordo com a necessidade de cada produtor e demandas de mercado. Trata-se do primeiro do gênero voltado ao processamento de pescado e segue modelos similares para abate de suínos, aves e caprinos, também desenvolvidos com participação da Embrapa.
A versão para pescados foi criada em parceria com a empresa Engmaq, de Peritiba (SC), especializada em novas tecnologias no ramo agroindustrial para atender uma demanda da Piscis, empresa de Jaguaribara (CE) especializada em aproveitamento de resíduos de processamento de peixe.
Gerson Pilatti, diretor da Engmaq, comenta sobre as dificuldades de se construir um frigorífico dentro das exigências legais em regiões afastadas dos grandes centros. “No Brasil, quando se está próximo a uma metrópole, há mais facilidade para construir um abatedouro. Mas quando se mora afastado, isso passa a ser um desafio”, declara. Para ele, se o interessado em construir um abatedouro adquire o módulo já pronto, ele leva junto toda a tecnologia de indústrias especializadas na construção de abatedouros. “Nos moldes tradicionais muitas vezes o empreendedor tem que trazer profissionais de outras capitais para dar suporte à construção do frigorífico, o que acaba encarecendo o empreendimento que, como qualquer obra, também pode ter problemas de falta de material, chuva, etc.”, explica.
Estrutura modular se adequa à demanda
O sistema modular do entreposto móvel também barateia custos de quem está começando. O interessado pode iniciar atuando apenas no abate, sem processamento, cortes e industrialização. Vende só a carcaça dos animais abatidos e, conforme o mercado for respondendo, pode adicionar módulos, aumentando sua capacidade produtiva. Ele pode começar com um módulo só de abate e chegar à industrialização completa do produto. “Da mesma forma, se o mercado da região demandar determinado produto, ele pode comprar um módulo de industrialização focado naquilo que o mercado está pedindo e ir expandindo aos poucos”, ressalta Pilatti.
No caso da Piscis a construção do entreposto móvel foi possível por meio de um projeto de inovação apoiado pelo programa Tecnova, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo Governo do Estado do Ceará. “A nossa região sempre foi carente de unidades de processamento de pescado. O peixe é produzido e eviscerado sem condições adequadas à legislação. A proposta desse entreposto é resolver o problema da falta de infraestrutura de abate para o pescado”, explica André Siqueira, diretor da Piscis.
Processamento pode quintuplicar valor
Na prática, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do País, pequenos e médios produtores de pescado não podem contar com frigoríficos próximos, levando-os a vender os peixes inteiros nas feiras livres. “Uma tilápia que é vendida a R$ 5,50 o quilo, inteira, poderia ser comercializada por R$ 16,00 se fosse processada, ou seja, embalada com registro sanitário. Em forma de filé, esse valor subiria para R$ 25,00 ou R$ 30,00 o quilo”, calcula Chicrala. Além disso, a falta de abatedouros também impede que os produtores possuam o Selo da Inspeção Federal (SIF), que permitiria a comercialização para outros estados.
Outra vantagem é a mobilidade do Entreposto Modular de Pescado, que elimina um problema comum dos frigoríficos convencionais: a ociosidade. Muitas vezes, eles operam abaixo de sua capacidade porque não há um fluxo constante de fornecimento de peixes. “O entreposto móvel pode processar o pescado na região que estiver produzindo e depois partir para outro polo, sem prejuízo pela falta de matéria-prima”, destaca Chicrala. Siqueira faz coro e está otimista com a ideia. “É uma solução que viabiliza o abate em vários locais onde não há entreposto. É uma tecnologia estratégica e que pode servir a mais de um grupo de produtores”, acredita.
Pela facilidade de implantação e custos menores, o EMP pode ser a saída para cooperativas de piscicultores que desejam investir no seu próprio frigorífico. Também pode fazer parte de políticas públicas de governos e prefeituras que desejem incrementar a produção de pescado. “É muito importante esse trabalho de validação de todas as etapas do processamento. Com a chancela da Embrapa estamos confiantes de que haverá o interesse de grupos ou de municípios que queiram ter uma unidade de processamento de pescado instalado na região”, prevê André Siqueira.
Como surgiu a ideiaA ideia que resultou no entreposto que será validado nesta semana não é recente. A proposta original teve início em 2011, segundo Gerson Pilatti, diretor da Engmaq. “Passou pela nossa empresa um senhor dizendo que tinha interesse em encomendar um abatedouro móvel para a África. Na época, por causa de outras demandas, não conseguimos atender. Meses depois, durante uma conversa informal com pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves (SC), eles comentaram que estavam também querendo investir em entrepostos móveis. A partir daí, unimos as nossas expertises para desenvolver o produto”, recorda. Na época, as equipes da Embrapa Pesca e Aquicultura e Embrapa Suínos e Aves começaram a propor projetos de abatedouros móveis para vários tipos de animais: peixes, frangos, caprinos e suínos. Os pesquisadores também conseguiram apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “A Embrapa Suínos e Aves obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e conseguiu construir um entreposto, em parceria com a Engmaq. No nosso caso, optamos por investir em um projeto para validar o entreposto feito em parceria com a Piscis. Esse trabalho vai culminar nesta semana, quando faremos as análises finais”, detalha Chicrala. Em 2016, foi realizado um evento técnico em Pinhal (SC) para os primeiros testes com o maquinário. “Àquela época houve um teste pontual para ver se os equipamentos estavam funcionando, se a água dos esterilizadores estava aquecendo, se o contêiner para as vísceras estava de acordo, entre outros pontos. Ainda não tínhamos recursos para validar o entreposto como um todo”, pontua Patrícia Chicrala. Na ocasião, os representantes de órgãos estaduais de controle e fiscalização da agropecuária fizeram suas ponderações para os ajustes ao sistema. “O objetivo da tecnologia de abate móvel é ser uma opção para reduzir a clandestinidade e favorecer a melhoria da qualidade da carne de suínos, aves, cordeiro e peixes. Esse tipo de equipamento também contribui para o controle fiscal nos municípios brasileiros", enfatiza a pesquisadora. |
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