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11/11/19 |   Agricultura familiar  Agroindústria  Biodiversidade

Embrapa promove curso de Boas Práticas de Fabricação para produtos da biodiversidade brasileira

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Foto: Divulgação Embrapa

Divulgação Embrapa -

Quem mora nos grandes centros urbanos brasileiros, talvez não conheça alguns frutos da biodiversidade brasileira como umbu, licuri, coquinho azedo, araticum e babaçu. A agregação de valor e a expansão comercial desses produtos com o aprimoramento de processos de agroindustrialização representa o foco de atuação dos especialistas da Embrapa Agroindústria de Alimentos nos cinco territórios da cidadania (TC) de atuação do Projeto Bem Diverso, desenvolvido em parceria entre a Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). O objetivo é que os pequenos produtores e extrativistas comecem a incorporar as Boas Práticas de Fabricação (BPF), para conquistar mercados nacionais e internacionais, gerando emprego, renda e melhoria de qualidade de vida.

Até agora, mais de 100 produtores rurais e gestores de agroindústria receberam o treinamento teórico-prático em Boas Práticas de Fabricação (BPFs) promovido pela equipe da Embrapa Agroindústria de Alimentos em Montes Claros (MG), Monte Santo (BA) e Pedreiras (MA). Em 2020, a previsão é que esse curso chegue à Ilha de Marajó (PA) e Alto Acre (AC). O curso é composto por uma metodologia ampla, visando a construção coletiva de conhecimento. “Tudo começa com um diagnóstico de agroindústrias da região com a realização de entrevistas com os gestores e responsáveis técnicos para o levantamento de ‘pontos de atenção’ nas dimensões organização, financeira, tecnologia, pessoas e mercado. Seguimos com uma auditoria de funcionamento da agroindústria e, após o curso, com um acompanhamento na internalização do aprendizado sobre os requisitos de BPF”, explica Fénelon do Nascimento Neto, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Um dos pontos altos da capacitação ocorre durante a parte prática com a aplicação de lista de verificação (check-list) de não-conformidades em uma agroindústria da região, elaborada a partir de critérios técnicos e legais. Então, ao invés de o produtor ou gestor ficar dependente de um consultor externo, ele conquista sua própria autonomia ao identificar as necessidades de melhoria da agroindústria e instituir seus próprios POPs (Procedimento Operacional Padrão) e Manuais de Boas Práticas de Fabricação. “Assim, os pequenos produtores podem aprimorar processos de gestão, a partir do conhecimento da técnica de produção local”, destaca Sérgio Cenci, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos e gestor do componente Agroindústria do Projeto Bem Diverso.

Durante os meses seguintes ao treinamento, há um acompanhamento pela equipe da Embrapa, relativo aos critérios de BPFs identificados previamente. Os dados são todos armazenados em um sistema desenvolvido pela Embrapa, o Agrofonte, com diferentes níveis de acesso para os técnicos e tomadores de decisão. Por esse sistema, também é possível compartilhar experiências e boas práticas, identificando as áreas prioritárias de investimento. Essas informações devem auxiliar políticas públicas para assegurar a qualidade e a segurança da produção das agroindústrias individuais e coletivas.

Agregação de valor com qualidade a frutos da biodiversidade

Entre os dias 1º a 5 de julho, cerca de 50 integrantes da Cooperativa Grande Sertão, localizada no município de Montes Claros (MG), participaram do curso de capacitação em Boas Práticas de Fabricação (BPF) ministrado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos. A indústria cooperada beneficia produtos da região do Semiárido como polpas de frutas regionais (coquinho azedo, araticum, acerola, abacaxi, manga, cajá, goiaba), óleo de buriti, farinha de mandioca e cana de açúcar e derivados (melado e rapadura).  A parte prática do treinamento ocorreu na fábrica de produção de polpas de frutas. “As polpas de frutas da zona de transição entre os Biomas Cerrado e Caatinga são muito demandadas pelos consumidores, pelo seu aroma e sabor perfumado, característicos. O consumo local é tão grande que esses produtos não conseguem chegar aos grandes centros urbanos. O nosso papel é auxiliá-los a melhorar e expandir essa produção baseada no extrativismo, preservando a biodiversidade local”, afirma André Dutra, analista da área de transferência de tecnologia da Embrapa Agroindústria de Alimentos e um dos instrutores do curso.

Além do mercado local, a Cooperativa Grande Sertão comercializa para os mercados institucionais do Governo Federal pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Mais recentemente, começou a ampliar sua atuação em parceria com outras cooperativas, incluindo a Central do Cerrado, que possui lojas em Brasília e São Paulo. A Grande Sertão possui 53 cooperados e envolve indiretamente cerca de duas mil famílias de 350 comunidades rurais do norte de Minas.

Entre os dias 7 e 10 de outubro, a equipe da Embrapa ministrou o curso de Boas Práticas de Fabricação em Monte Santo (BA), para mais de 50 integrantes da Coopersabor, ARESOL e Coopercuc.  Produtores rurais e gestores ligados a agroindústrias dos municípios de Curaçá, Canudos e Uáuá foram treinados em ferramenta de qualidade para agroindustrialização em diversas cadeias produtivas. Durante o curso, os participantes avaliaram conjuntamente o layout de três agroindústrias da região de produção de pães e bolos, polpa de frutas e castanha de caju, visando adequação e ampliação. A ideia foi avaliar as não conformidades em termos técnicos e legais, a partir dos conhecimentos teóricos repassados pelos instrutores do curso.

Em Pedreiras (MA), o curso de Boas Práticas de Fabricação (BPF) foi ministrado para 35 participantes entre os dias 28 de outubro a 1º de novembro para os associados da ASSEMA - Associação em Áreas de Assentamentos do Estado do Maranhão.  A capacitação teve como foco produtos do extrativismo do babaçu como óleo para uso alimentício e cosmético, e farinha de mesocarpo para a produção de pães, mingaus e bebidas. “Uma das demandas apontadas e trabalhadas durante o treinamento foi a melhoria e acompanhamento da produção de farinha de mesocarpo de babaçu e orientações técnicas para obtenção de óleo em nova planta de operação voltado para exportação”, informa Roberto Machado, analista da área de transferência de tecnologia da Embrapa Agroindústria de Alimentos e um dos instrutores do curso.

O destaque do curso foi a dinâmica de análise microbiana do corpo humano e do ambiente, realizada pelos próprios participantes, divididos em grupos. Eles coletaram amostras do ar ambiente e também de saliva, mucosa nasal, fio de cabelo e palma da mão, antes e depois de lavada. “Após dois dias, os participantes puderam enxergar o crescimento exponencial no número das bactérias. Isso o que gerou uma discussão interessante entre os participantes”, informou o pesquisador Eduardo Walter, da Embrapa Agroindústria de Alimentos e instrutor do curso. O pesquisador avalia que uma análise microbiológica realizada em laboratório utiliza técnica asséptica e traz resultados mais acurados, mas, da forma como realizada no curso, com fins didáticos, produz um bom indicativo de contaminação bacteriana.

O método participativo aplicado visa conscientizar sobre um dos pontos mais básicos e, ao mesmo tempo, mais crítico da aplicação das normas de BPF: higienização pessoal, dos utensílios e do ambiente para aqueles que manipulam alimentos em uma planta agroindustrial. Foi baseado em um método desenvolvido pelo pesquisador da Embrapa aposentado, Antônio Xavier, no início dos anos 2000, quando esse método de capacitação em Boas Práticas de Fabricação (BPF) foi desenvolvido pela Embrapa Agroindústria de Alimentos e ministrado para extensionistas e técnicos de agroindústria de 23 estados brasileiros, com o financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Projeto Bem Diverso

O Bem Diverso visa contribuir para a conservação da biodiversidade brasileira em paisagens de múltiplos usos por meio do manejo sustentável da sociobiodiversidade e de sistemas agroflorestais (SAFs), de modo a assegurar a geração de renda e melhoria da qualidade de vida de comunidades tradicionais e agricultores familiares.

Com esse treinamento em Boas Práticas de Fabricação (BPF), espera-se que extrativistas e agricultores familiares comecem a incorporar técnicas de segurança e qualidade no beneficiamento de produtos da biodiversidade brasileira, habilitando-os a conquistarem mercados internos e externos. Há um amplo nicho de mercado com consumidores que valorizam produtos tradicionais, com sabores exóticos e potencial funcional, proveniente de práticas sustentáveis de produção e beneficiamento, ligadas a um circuito do comércio justo.  “Trata-se de uma ‘semente’, para que eles se tornem autônomos e toquem seus próprios negócios. Não é apenas um curso técnico de Boas Práticas de Fabricação (BPF), mas também agrega conhecimentos em melhoria de processos de gestão na agroindustrialização”, conclui Sérgio Cenci, gestor do componente Agroindústria no Projeto Bem Diverso.

Aline Bastos (MTb 31.779/RJ)
Embrapa Agroindústria de Alimentos

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