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Projeto Biomas mobilizou 400 pesquisadores e 120 instituições em 10 anos
Evento marca encerramento do Projeto Biomas e tem participação de ministros e dos presidentes da Embrapa e da CNA
Evento virtual marcou a conclusão do projeto e o início de uma nova parceria da Embrapa com a CNA para a execução do Pravaler
Após 10 anos em execução, o Projeto Biomas apresentou seus principais resultados durante evento virtual promovido na quarta-feira (10) pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No mesmo dia, foi lançado o Projeto PRAVALER, iniciativa da CNA que também contará com a participação da Embrapa e tem como objetivo apoiar ações de regularização ambiental conforme definido no novo Código Florestal.
Participaram do encontro a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o ministro Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovação, os presidentes Celso Moretti, da Embrapa, e João Martins, da CNA, além de autoridades, produtores, pesquisadores, técnicos e parceiros.
“Este dia será lembrado como um marco dos esforços da agricultura brasileira em promover o desenvolvimento sustentável, integrando a produção com a conservação e o uso dos recursos naturais. Encerramos o ciclo do Projeto Biomas e lançamos a iniciativa do PRAVALER. A experiência com o Biomas nos ajuda a construir pontes para o futuro”, afirmou a ministra da Agricultura, ao participar do evento no período da tarde, quando foi lançado o novo programa.
O Projeto Biomas foi criado em 2010 para viabilizar, aos produtores, soluções para a proteção, a recuperação e o retorno econômico e sustentável dos passivos ambientais nos seis biomas brasileiros (Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa, Amazônia e Pantanal). A plataforma WebAmbiente, que oferece ao produtor rural informações sobre como recuperar áreas com algum nível de degradação e promover a adequação ambiental da paisagem rural, auxiliou o Projeto, alimentando os dados gerados.
Foram mais de 10 anos de execução, 400 pesquisadores e técnicos mobilizados, 21 centros de pesquisa da Embrapa e cerca de 120 instituições envolvidas. Além da parceria Embrapa/CNA, o Biomas contou com o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da John Deere do Brasil, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outros.
“São grandes os resultados nos biomas brasileiros, com 400 pesquisadores atuando em busca de soluções para a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, a Amazônia, o Pantanal e o Pampa”, destacou o presidente da Embrapa. Ele chamou atenção como exemplo de bons resultados no Bioma Mata Atlântica com a pimenta rosa e o café sombreado por seringueira, ambos apoiados pelo Projeto e desenvolvidos pelo Incaper.
“Esse foi um trabalho que fizemos com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) que aumentou em 30% o rendimento da pimenta rosa, que pode deixar de ser uma atividade extrativista para se transformar em uma atividade comercial. E o café sombreado pela seringueira, que atingiu elevadas notas de qualidade, abrindo caminhos para maior agregação de valor ao produto”, afirmou Moretti.
Segundo o presidente, agora o PRAVALER chega para apoiar as ações de regularização junto aos estados no Programa de Regularização Ambiental (PRA). “Não tenho dúvidas de que esta nova etapa será mais uma ação importante e estratégica desenvolvida pelo sistema CNA, pela Embrapa e parceiros”, afirmou.
João Martins, presidente da CNA enfatizou a importância da Embrapa no Projeto Biomas que disponibilizou técnicos, cientistas e estudiosos para o projeto. Ele ressaltou que o desafio agora é democratizar os resultados do trabalho desenvolvido ao longo desses 10 anos. “As pesquisas precisam chegar para quem precisa, chegar à ponta, para que os produtores possam colocá-las em prática”, afirmou.
O coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias, apresentou um panorama do Projeto Biomas e enfatizou que a iniciativa vai muito além do que entregar um pacote de soluções tecnológicas necessárias para a integração da produção agrícola com a sustentabilidade. “O Projeto recoloca o produtor rural dentro da legalidade, proporciona uma integração cada vez maior entre produção e preservação, com soluções para que o País continue a acessar mercados internacionais com produtos cada vez mais sustentáveis”, afirmou.
Segundo Ananias, o Biomas oferece conhecimento técnico e científico para ajudar o produtor a recompor um eventual passivo ambiental na propriedade e cumprir o Código Florestal. “Os resultados se refletem na oferta de soluções tecnológicas necessárias à recuperação ambiental. O conhecimento está disponível, agora precisamos entregá-lo ao produtor rural”, afirmou.
Resultados
O coordenador nacional do Projeto Biomas, Alexandre Uhlmann, apresentou alguns dos principais resultados de 10 anos de pesquisas nos seis biomas brasileiros.
O projeto foi iniciado a partir da assinatura de convênio entre a Embrapa e a CNA em maio de 2010. “Naquele tempo, o foco era utilizar a árvore como elemento destinado ao consórcio em sistemas produtivos, além de restauração de Áreas de Reserva Legal (ARL) e de Preservação Permanente (APP). A equipe do projeto identificava, principalmente nas espécies nativas, um potencial adormecido, e muito da pesquisa teve esse foco. No final, os PRAs se encaixaram como uma luva no desenvolvimento do projeto”, lembrou Uhlmann, que é pesquisador da Embrapa Florestas (Colombo, PR).
Ele falou sobre as dificuldades de lidar com os diferentes ambientes e espécies de cada bioma e o desafio único de utilizar a árvore em sistemas de produção ou em modelos de restauração, associada a espécies não-lenhosas. Para observar as especificidades de cada bioma, foi escolhida uma propriedade rural para implantação dos experimentos – em média, foram 10 a 20 experimentos em cerca de 30 hectares. “Plantar árvores não é uma tarefa simples, mas ao longo dos anos nossos experimentos foram crescendo, sob os cuidados dos pesquisadores e da equipe de campo, e gradativamente os resultados foram aparecendo”, comentou.
No Bioma Mata Atlântica, o cultivo da aroeira-pimenteira, um arbusto que produz a pimenta rosa, vinha sendo praticado principalmente de maneira extrativista e sem critério de seleção de materiais. Liderados pelo Incaper, os pesquisadores desenvolveram modelos de plantio que melhoraram o sistema de produção da pimenta-rosa, proporcionando aumento de produtividade e da renda dos produtores da região. Uhlmann também destacou a importância das ações de difusão e transferência de tecnologia a partir dos experimentos na Fazenda São Marcos, em Soretama (ES).
Para o Bioma Cerrado, o desafio foi encontrar modelos de recomposição de APP e ARL. “A pergunta que fizemos, e que foi respondida, é: qual o método mais eficaz – plantar mudas ou semear sementes? No Cerrado, que tem espécies de capins e arbustos, semear é uma forma que tem mostrado bons resultados. A semeadura é mais barata, pois até mesmo máquinas agrícolas podem ser utilizadas, reduzindo a mão-de-obra braçal”, disse Uhlmann, ao apontar a viabilidade da semeadura direta, atestada pelos experimentos conduzidos na Fazenda Entre Rios, no Distrito Federal. Também mereceram destaque as ações de aplicação dos conhecimentos gerados, como cursos, dias de campo e reuniões técnicas.
A obtenção de parâmetros estruturais das formações vegetais como indicadores do grau de degradação das áreas e da possibilidade de reversibilidade foi um importante resultado das pesquisas no Bioma Pantanal, com experimentos na Fazenda Santo Expedito, em Corumbá (MS). “Esse pode ser um parâmetro muito importante para indicar áreas que precisam ser adequadas mediante restauração”, disse o pesquisador, que também citou o trabalho com tecnologias de produção de mudas e sementes.
No Bioma Caatinga, o uso de espécies de árvores nativas em sistemas, promovendo a intensificação produtiva, levou ao aumento da produtividade. “Plantamos experimentos em uma sequência de anos secos. Mesmo assim, foi possível consorciar as espécies arbóreas nativas, cuja adaptação permite a sobrevivência à seca, com culturas anuais, resultando em ganhos de produtividade na curta janela de chuvas que o sertanejo tem disponível”, comentou Uhlmann, em referência aos experimentos na Fazenda Triunfo, em Ibaretama (CE).
Já no Bioma Amazônia, as pesquisas na Fazenda Cristalina, em São Domingos do Araguaia (PA), focaram no uso de espécies florestais nativas em sistemas de produção florestal, restauração e sistemas agrícolas integrados que contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa. “A integração das árvores com o sistema agrícola é uma novidade na região onde trabalhamos, onde as pastagens extensivas são regra. O uso da árvore na paisagem resulta numa excelente opção, que contribui no ganho produtivo e aumenta a fixação de carbono na forma de lenha e de carbono no solo”, disse, destacando o desempenho promissor do paricá, espécie nativa amazônica.
E no Bioma Pampa, os experimentos na Fazenda Caveiras, em Dom Pedrito (RS), não tiveram êxito significativo com as espécies arbóreas, mas a recuperação de campos nativos renderam bons resultados mesmo após o cultivo agrícola, com a identificação das potencialidades e desafios de adequação ambiental da região.
Como conclusão, o coordenador técnico elencou os aspectos que marcam a singularidade do Projeto Biomas, como a observação das diferenças impostas por ambientes distintos, obrigando a diferentes abordagens para um mesmo problema; a agregação de um grande grupo de pesquisadores, reunindo mais ideias; a quebra do paradigma de que a árvore não auxilia a produção, uma vez que os sistemas consorciados testados geraram bons modelos ou apontaram um caminho potencial; capacitação e transferência de tecnologia em todas as regiões de atuação; e mobilização para discussão da aplicação da lei ambiental.
Uhlmann agradeceu aos proprietários das fazendas, a toda a equipe de pesquisa e de gestão financeira e administrativa, bem como às instituições envolvidas na execução do Projeto Biomas. Ele finalizou a apresentação pedindo um minuto de silêncio em homenagem a dois personagens importantes que faleceram durante a execução do projeto – Helton Damin da Silva, ex-chefe geral da Embrapa Florestas, e Flávio Viriato Saboya, que presidiu a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (FAEC).
Homenagens
Representantes dos parceiros apoiadores, dos produtores rurais e dos pesquisadores que participaram do Projeto Biomas receberam uma placa de homenagem assinada pela Embrapa, a CNA e o BNDES. A coordenadora-executiva do projeto pela CNA, Claudia Mendes, lembrou que mais de 400 pessoas atuaram para o alcance dos resultados do projeto. Ela fez um agradecimento especial aos coordenadores regionais e nacionais, aos técnicos de campo e aos presidentes das federações de agricultura.
José Brilhante Neto, da Fazenda Entre Rios (DF), local da vitrine tecnológica do Bioma Cerrado, representou os demais produtores rurais que abriram suas fazendas para que o Projeto pudesse instalar as vitrines tecnológicas – Francelino Gomes Filho e Roberto Wellington R. Gomes (Caatinga), Walter Müller (Amazônia), Walter José Potter (Pampa), Alfredo Marques Machado (Pantanal) e Silvestre Milanesi (Mata Atlântica).
Em cada propriedade, foram realizadas ações que avaliaram e quantificaram a viabilidade de recuperação ambiental associada a um ganho econômico e ao desenvolvimento social. “A parceria público-privada, os produtores e os sistemas integrados podem ajudar o País a mostrar ao mundo a capacidade de produzir e ser sustentável”, disse Neto.
Os 400 pesquisadores envolvidos no Projeto Biomas pelo Brasil foram representados pelo chefe da Embrapa Florestas, Erich Gomes Schaitza. Ele lembrou que o Biomas nasceu no contexto do novo Código Florestal e da necessidade de a agricultura brasileira trabalhar para a construção de um mundo mais sustentável.
“O Biomas deixa um legado de infraestrutura de pesquisa muito bom que contribui para o avanço do conhecimento científico. No mundo em que estamos, de economia de baixo carbono, o desmatamento é uma das maiores fontes de emissões e as florestas são a maior solução para a economia de baixo carbono, não de forma isolada, mas integradas à paisagem rural”, destacou.
Schaitza agradeceu a todos os parceiros pelos 10 anos de execução do projeto, em especial à CNA por ter proporcionado condições de desenvolvimento para o trabalho. E afirmou: “o contexto que gerou o projeto Biomas continua. O Novo Código Florestal e a necessidade que a agricultura brasileira tem de trabalhar para a construção de um mundo mais sustentável recompondo florestas – o que era impossível sem tecnologia. Agora, o projeto chega ao fim com um legado, esse conjunto fantástico de tecnologias para a recuperação ambiental”.
PRAVALER
O evento marcou também o lançamento, pela Embrapa e pela CNA, do Projeto PRAVALER, iniciativa que mostra ao produtor, na prática, como cumprir a legislação ambiental com sustentabilidade na produção. O presidente da CNA, João Martins, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, participaram da abertura do evento virtual e destacaram a importância da colaboração entre a CNA e a Embrapa, para que o novo projeto tenha o mesmo desdobramento e êxito do Projeto Biomas.
O PRAVALER foi criado a partir das iniciativas desenvolvidas pelo Projeto Biomas. O objetivo é integrar ações com os órgãos ambientais e com as federações da agricultura, buscando facilitar a adequação dos passivos ambientais e a implantação do Programa de Regularização Ambiental (PRA) nas propriedades rurais. Essa iniciativa vai permitir que o produtor possa adequar a propriedade à legislação ambiental e ainda obter possibilidade de retorno econômico.
O pesquisador Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados, apontou que, com as ferramentas e informações oferecidas, a ideia é que o produtor se habilite a fazer o diagnóstico, tomar a decisão sobre o que vai plantar, realizar o plantio e monitorar no sentido de cumprir a tarefa de recompor a área.
Ele observou que o PRAVALER, em termos de regularização ambiental, caminha para essa situação. “Temos que olhar não só a recomposição de APP e ARL, mas ainda a recuperação do ambiente produtivo. Por isso estamos muito preocupados em olhar a propriedade como um todo, fazer a regularização ambiental produtiva, de modo que consigamos entregar ao produtor uma ferramenta que o auxilie não apenas na regularização ambiental, mas que também possa ajudá-lo a obter maior retorno econômico na propriedade e a conservar solo, água e biodiversidade”, concluiu.
O pesquisador também abordou a integração da plataforma WebAmbiente ao Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), em uma apresentação conjunta com a diretora de Cadastro e Fomento Florestal do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Jaine Cubas.
Saiba mais sobre a integração do WebAmbiente ao Sicar acessando aqui
*Com informações da CNA, disponível em https://www.cnabrasil.org.br/noticias/cna-e-embrapa-apresentam-resultados-do-projeto-biomas
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