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18/01/16 |
Primeiro alerta de nível do Rio Paraguai e Cuiabá para 2016
18 de JANEIRO de 2016, 10:25 horas
Considerando a imprevisibilidade das condições meteorológicas dessa temporada de chuvas, informamos que ainda é cedo para a emissão de um alerta preciso. Portanto, este alerta considera apenas a hipótese da situação do tempo continuar conforme o previsto e como tem se confirmado nesse início de janeiro. Se isso ocorrer, a tendência é de que os níveis dos rios fiquem acima da sua cota de permanência de 50%, a saber:
Rio Paraguai - Estação de Ladário: acima de 4,6 metros
Rio Paraguai - Estação de Bela Vista do Norte: acima de 5,4 metros
Rio Cuiabá - Estação de Porto Alegre: acima de 5,8 metros
Rio Paraguai - Estação de Forte Coimbra: acima de 4,0 metros
Rio Paraguai - Estação de Porto Murtinho: acima 5,4 metros
Segundo previsões, a tendência é de que, na Bacia do alto Paraguai-Pantanal, as chuvas diminuam ou mesmo parem até o final desta semana, dia 24, recomeçando na semana seguinte.
Ao longo do ano de 2015, instituições do estado de Mato Grosso do Sul desenvolveram, com a participação da Embrapa Pantanal, métodos para a emissão de estimativas quantitativas e automatizadas de previsão de nível, considerando todas as estações de nível disponíveis e com uma longa série de dados. Os trabalhos estão sendo finalizados e enviados para publicação. Se os sistemas estiverem prontos para emitir alertas, esses devem ser emitidos ainda este ano.
Este primeiro alerta utiliza como critério a análise de informações das previsões meteorológicas para o trimestre de janeiro, fevereiro e março (JFM) de 2016 emitidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e outras fontes de informações no Brasil e no exterior. Analisamos também a situação atual do nível do rio Paraguai e Cuiabá, no Pantanal, em diferentes estações.
Segundo as previsões do INMET/INPE para uma grande área do Brasil, que inclui a Bacia do Alto Paraguai (BAP), a chance de ocorrer chuvas acima, abaixo ou na normalidade climatológica é a mesma. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) interpreta essa situação como de IMPREVISIBILIDADE. A exceção fica para o sul do Mato Grosso do Sul (MS), onde são esperadas chuvas acima da média.
Fenômenos meteorológicos conhecidos desde muito tempo pelos climatologistas, como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT, os ventos alísios que trazem a chuva para a Amazônia), a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), as frentes frias vindas do sul da América do Sul, além das zonas de alta e baixa pressão que provocam bloqueios ou favorecem a ocorrência de chuvas, têm a sua contribuição nas chuvas da região.
Além de todas essas variáveis, estamos sob a influência do "El Niño", outro fenômeno meteorológico (que é o aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico na linha do Equador) e que influencia nas chuvas da América do Sul e Brasil. O "El Niño" pode provocar mais chuvas para a região da BAP (Bacia do alto Paraguai). A previsão do CEMTEC-MS é de muita chuva para todo o MS, em função da influência desse fenômeno.
O que tem sido anunciado e previsto são chuvas acima da média para a região sul do Brasil até o sul de MS, podendo haver uma flutuação de muitos quilômetros ao norte ou ao sul. Essa mesma oscilação ao sul e ao norte ocorre para a ZCIT e a ZCAS. A ZCAS forma um fluxo de umidade transversal no Brasil, do noroeste da Amazônia ao nordeste da região sudeste e para o Oceano Atlântico. Em geral, ela passa no nordeste da BAP, podendo também oscilar em muitos quilômetros e intensidade de chuvas de nordeste para sudoeste.
O INMET publicou um mapa que prevê para o trimestre JFM chuvas acima da normal climatológica para toda a porção da bacia do alto Paraguai - Pantanal no MS, exceto para a região da bacia do Taquari, no planalto. Nesse mesmo mapa, estão previstas chuvas acima da normal para a porção nordeste da Bacia do Alto Paraguai (bacias do rio Cuiabá e São Lourenço) e a porção de Pantanal norte até a latitude de 15°. Para a porção norte da bacia do rio Paraguai, no planalto, são esperadas chuvas abaixo da média. Estão previstas, então, chuvas acima da normal climatológica para toda a região ao longo do rio Paraguai, no Pantanal e também para as demais regiões do Pantanal de MT e MS.
O que se observou nas duas primeiras semanas de janeiro foi a confirmação de chuvas acima da normal climatológica para as áreas previstas. Porém, chuvas acima da normal também foram observadas para áreas onde havia sido previsto chuvas abaixo da normal, como a bacia do rio Taquari e Paraguai no planalto do MT. A formação de sistemas como a ZCAS - Zona de Convergência do Atlântico Sul na segunda semana de janeiro foi o que causou as chuvas acima da normal no período.
Nas primeiras duas semanas de janeiro, ocorreram chuvas intensas e persistentes nas bacias dos rios Taquari, Negro, Taboco, Aquidauana e Miranda. O rio Aquidauana superou a marca dos 9 metros, desabrigando ribeirinhos e isolando comunidades. O recorde de nível para o rio Aquidauana foi de 10,07 metros em 2011.
Esses registros foram feitos a partir de estações fluviométricas na borda do planalto para o Pantanal, ou seja, na saída das águas do planalto e entrada para o Pantanal. Então, a onda de cheia ou inundação está se deslocando das porções mais altas do Pantanal, próximo do planalto, para as porções mais baixas do Pantanal. Alertamos às comunidades de ribeirinhos e aos pecuaristas da planície pantaneira sob a influência desses rios que tomem as devidas providências para proteger a si mesmos, suas famílias, bens materiais e rebanho. Atentem não apenas para o risco de inundação na sua propriedade, mas também para o risco de isolamento em áreas no caminho para entrada e saída em caso de busca de refúgio para o gado.
Nas áreas de Pantanal próximo à margem esquerda do rio Paraguai, no baixo curso dos rios Miranda e Abobral e no trecho da Estrada Parque entre o rio Paraguai, Curva do Leque e Buraco das Piranhas, atenção para o risco de alagamentos e problemas com as pontes sobre vazantes. Felizmente, o rio Paraguai está hoje com 2,20 metros em Ladário, bem abaixo ainda da cota de transbordo de 4 metros e não será um obstáculo à drenagem das águas, como acontece quando está fora da calha, na planície. Em 2011, o rio Paraguai alcançou o nível máximo de 5,62 metros na estação fluviométrica de Ladário, que coincidiu com a cheia dos rios Miranda e Aquidauana, assim como de chuvas na planície, provocando uma extensa área inundada.
O rápido aumento de nível do rio Taquari, divulgado pela Sala de Situação do MS – IMASUL, por meio do "AVISO DE EVENTO CRÍTICO Nº 02_ 2016 09 30 h" de ontem, dia 17, que alcançou o nível de 5,21 metros, representa, segundo o IMASUL, a terceira maior cheia dos últimos 50 anos. Hoje, dia 18, às 07:00 horas, o nível do rio Taquari em Coxim foi de 4,86 metros. Esse aumento de nível e vazão irá aumentar o fluxo em arrombamentos já estabelecidos como do Caronal e Zé da Costa, ou pode provocar novos arrombamentos nas suas margens, inundando as fazendas e pequenas propriedades de ribeirinhos, marginais ao rio e canais de arrombamentos da Nhecolândia e Paiaguás.
O rio Taquari, somado às águas drenadas na planície pantaneira por corixos e vazantes, pode ser a explicação do rápido aumento do nível do rio Paraguai nas estações fluviométricas de Ladário, Porto Esperança e Forte Coimbra. Não se pode descartar a influência das chuvas e das águas drenadas sobre as áreas da Bolívia ao longo do rio Paraguai. Para as estações de Porto Esperança e Forte Coimbra, a influência do rio Miranda é importante.
As chuvas intensas no sul do estado sobre a bacia do rio Apa e outros rios menores, como rio Aquidabã, podem explicar, ao menos em parte, a rápida subida do rio Paraguai em Porto Murtinho.
No Pantanal norte, a Marinha do Brasil registrou aumento na taxa de subida dos rios Paraguai em Cáceres e no rio Cuiabá em Cuiabá. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) tem registrado aumento das taxas de elevação de nível dos rios São Lourenço e Itiquira.
O rio Paraguai e o rio Cuiabá/São Lourenço começaram sua fase de subida abaixo ou em torno da cota de permanência de 50% nas estações do Pantanal, o que pode ser um atenuante no alcance de seu nível máximo.
As áreas nas porções mais baixas do Pantanal, próximas do rio Paraguai foram relativamente bem drenadas antes do período de chuvas e também poderão atenuar as inundações causadas pela chuva local ou pelo desbordo dos rios.
Para mais informações e melhor compreensão das previsões e fenômenos meteorológicos que ocorrem na Bacia do Alto Paraguai - Pantanal, consulte a nossa página no Facebook: https://www.facebook.com/Geohidro-Pantanal-593932390647332/.
Carlos Roberto Padovani
Embrapa Pantanal
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