Busca de Notícias Busca de Notícias

13/08/24 |

Especialistas mostram potencial de culturas emergentes no Rio de Janeiro

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Fernando Gregio

Fernando Gregio -

O auditório da Embrapa Solos (RJ) recebeu, na quarta-feira (7/8), o evento técnico O potencial dos solos do estado do Rio de Janeiro para culturas emergentes, o último da série encontros que o centro de pesquisa promoveu este ano para discutir temas relevantes demandados pela sociedade. As culturas de lúpulos para cerveja, oliveiras para extração de azeite, uvas viníferas, laranjas com indicação geográfica e cafés especiais foram os destaques. 

O chefe geral da unidade, Daniel Vidal Pérez, abriu os trabalhos com uma breve introdução saudando as parcerias com o Ministério da Agricultura e Pecuária, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro (Pesagro), a Embrapa Agrobiologia e a Embrapa Agroindústria de Alimentos, que que enviaram representantes para o evento. “Essa união traz mais ideias de trabalho conjunto e novos projetos”, destacou.

O evento também teve transmissão ao vivo pelo canal da Embrapa no YouTube – assista ao vídeo completo ao final da matéria.

A primeira palestrante da manhã foi a pesquisadora da Embrapa Solos Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, que discorreu sobre “O potencial de uso agrícola das terras do Rio de Janeiro perspectivas para novas culturas”.

A cientista mostrou que os estudos coordenados pela Embrapa Solos ao longo dos anos para levantamentos dos solos do Rio de Janeiro demonstram que o estado tem 81% de terras altas (latossolos, argissolos e cambissolos) e 14% de terras baixas (cambissolos, gleissolos e neossolos plúvicos). O mapa de solos do estado, na escala 1:250.000, revela grande variabilidade de ambientes e solos, onde ocorrem praticamente todas as 13 classes de solos do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, relevo acidentado, fortes restrições climáticas e também áreas com limitações de uso (restinga, baixada e afloramento de rochas). A pesquisadora apontou a necessidade de novos trabalhos de levantamento que originem mapeamentos de solos em escalas mais detalhadas no estado, como está previsto para todo o Brasil no âmbito do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil (PronaSolos).

“Os solos são um recurso não renovável na escala humana, e 33% dos solos no mundo estão em processo de degradação”, alertou Maria de Lourdes, que destacou que o estado do Rio de Janeiro também possui muitas áreas com pastagens degradadas, que podem ser recuperadas e reinseridas no processo produtivo.

Na sequência, Marília Regini Nutti , pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, palestrou sobre o “Impacto dos solos na nutrição humana e presença de contaminantes". Marília pesquisa há bastante tempo a biofortificação de alimentos no Brasil, que é uma estratégia para combater a desnutrição nos países em desenvolvimento, com enfoque no fornecimento de suplementos vitamínicos e minerais para mulheres grávidas e crianças, além da fortificação de alimentos obtida com a  adição de micronutrientes.

“A biofortificação é o processo de obtenção de cultivares mais nutritivas, por meio do cruzamento de plantas da mesma espécie, também conhecido como melhoramento genético convencional. A biofortificação agronômica é o aumento dos teores de minerais por meio de práticas agronômicas, como a  fertilização”, esclareceu a pesquisadora.

A participação estrangeira on-line no encontro foi de Mayesse Aparecida da Silva, cientista de solo do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT – Colômbia). Mayesse trouxe o caso dos estudos sobre a presença de metais pesados em chocolate amargo produzido na Colômbia, Peru e Equador, e mostrou como um grande grupo de pesquisa está trabalhando há quatro anos para investigar as causas junto às lavouras de cacau e ao processo agroindustrial da região. “A avaliação indica que muitos produtos contêm chumbo e cádmio em níveis que podem ultrapassar limites regulatórios. Portanto, é necessário aumentar a vigilância”, disse.

A pesquisadora afirmou que mais pesquisas sobre a exposição a metais pesados na dieta são importantes para informar políticas de saúde pública. Se produtos contaminados forem consumidos raramente, o risco pode ser baixo, mas se forem consumidos regularmente pode haver um problema de saúde pública.

Especialistas em culturas emergentes no RJ

Na parte final do encontro, especialistas em culturas emergentes que mostram bom potencial para cultivo no estado do Rio de Janeiro dividiram suas experiências com o público.

Quem abriu o painel foi Marcelo Scofano, azeitólogo e consultor em gastrononomia, que falou sobre a cultura da oliveira e o potencial do mercado de azeite no Brasil. Ele apontou que, apesar do crescimento registrado nos últimos anos, o consumo de azeite no País ainda é considerado muito baixo, cerca de 500 ml ao ano por habitante, sendo que cerca de 50 milhões de brasileiros consomem o produto. Há também um espaço enorme para o incremento da produção local, já que apenas 0,1% do azeite consumido pelos brasileiros é produzido no País. Scofano apontou que há um experimento de cultivo de oliveiras em andamento em Nova Friburgo (RJ), cuja primeira colheita está prevista para 2025. Segundo o especialista, há indícios de que a experiência será próspera.

José Cláudio Aranha, presidente da Associação dos Vitivinicultores da Serra Fluminense (Viniserra) e proprietário da Vinícola Inconfidência, localizada em Petrópolis (RJ), falou sobre a cultura da uva e a produção de vinho na região serrana fluminense, salientando a importância dos solos. Aranha iniciou o cultivo de uvas viníferas em 2008, com a primeira safra em 2010. Desde então, as áreas com uvas para vinho têm crescido na região, a ponto de as quatro cantinas produtoras existentes atualmente não darem conta da demanda. Um dos principais desafios apontados pelo presidente da Viniserra é promover o desenvolvimento do enoturismo na região, para que a qualidade dos vinhos fluminenses seja conhecida pelo público.

Teresa Yoshiko, agrônoma e proprietária do Viveiro Ninkasi, localizado em Teresópolis (RJ), deu seu depoimento sobre a cultura do lúpulo e os efeitos da nutrição, adubação e irrigação para o sucesso da produção. Yoshiko produz lúpulo desde 2017, e seu viveiro foi o primeiro reconhecido pelo Ministério da Agricultura para produção de mudas de lúpulo no Brasil. Em 2018, foi criada a Rede de Fomento à Cultura do Lúpulo na Região Serrana Fluminense (Rede Lúpulo), e desde então estão sendo conduzidos diversos trabalhos de pesquisa e extensão na região, para validação de um sistema de produção de lúpulo para ambientes tropicais. Em 2023, a região serrana do RJ produziu 8 toneladas de lúpulo, que abasteceram, sobretudo, o mercado cervejeiro local.

Na sequência do evento, José Ronaldo de Macedo, pesquisador da Embrapa Solos, mostrou como a ciência ajudou no processo de Indicação Geográfica (IG) da laranja da região de Tanguá (RJ), demonstrando o nexus causal entre solo e clima e a qualidade diferenciada dos frutos. A conquista do selo de IG só foi possível por meio de estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa, que tiveram o desafio de comprovar tecnicamente que a qualidade e as características peculiares das laranjas da região estão relacionadas, essencialmente, ao meio geográfico, o que compreende os fatores naturais e humanos. A análise das características físico-químicas dos frutos e a sua correlação com os fatores naturais da região são exigidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para a solicitação de reconhecimento da região como IG, na espécie Denominação de Origem (IG-DO). As laranjas da região de Tanguá abarcadas pela IG-DO são da espécie Citrus sinensis, das variedades Seleta, Natal Folha Murcha e Natal Comum. As características únicas dos frutos são partilhadas pelos laranjais dos municípios fluminenses de Araruama, Itaboraí, Rio Bonito e Tanguá.

Coube à Embrapa Solos a análise dos fatores ambientais de clima e solos e da área da delimitação geográfica da IG-DO. Já a Embrapa Agroindústria de Alimentos realizou as coletas e análises químicas e sensoriais dos frutos das três cultivares, nas diferentes épocas de colheita. Os estudos desenvolvidos pelas equipes das duas unidades foram, então, correlacionados, comprovando que os solos, o regime de chuvas e o clima da região delimitada influenciam diretamente na composição físico-química dos frutos.

Quem fechou o painel de especialistas foi Ana Regina Rocha Ribeiro Majzoub, engenheira agrônoma e produtora rural. Ela e o marido possuem um sítio no distrito de Purilândia, em Porciúncula (RJ), no Noroeste fluminense, onde produzem os premiados cafés especiais Iranita. Quando assumiram a propriedade da família, em 2006, começaram a investir em estudos, tecnologias e estrutura para transformar a produção convencional do sítio em uma linha de cafés especiais 100% Arábica, uma novidade para a região. Ana Regina explicou que uma associação foi formada recentemente para gerenciar o processo de solicitação de Indicação Geográfica do café do Alto Noroeste, responsável por 80% da produção de café do estado do Rio de Janeiro.  

 

Assista ao evento completo

 

Os dois primeiros encontros da série promovida pela Embrapa Solos aconteceram no dia 15 de maio, com um debate sobre mercado de carbono, e no dia 29 de maio, sobre a importância das parcerias institucionais, por ocasião da comemoração dos 49 anos da Embrapa Solos.

 

 

Carlos Dias (20.395 MTb RJ)
Embrapa Solos

Contatos para a imprensa

Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
Embrapa Solos

Contatos para a imprensa

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens